O empresário brasileiro, que emprega, gera divisas e renda, mata mais que um leão por dia. Impostos sobre a produção, alta carga tributária, burocracias inerentes ao sistema, dificuldade de acesso ao crédito, entre outras questões, já são motivos suficientes para que o empreendedor seja reconhecido como um desbravador neste país.  

 Nos últimos anos, a crise econômica tem agravado esse quadro e, muitas vezes, reduzir, enxugar ou reter acaba sendo a saída para quem não quer parar suas atividades, mas vê seu fôlego se esvair. É nesse cenário que o empresário brasileiro passa por mais um desafio, que é sobreviver – como pessoa física e como pessoa jurídica – à pandemia do COVID-19. Há 15 dias, a paralização de atividades e o isolamento social já começam a ser questionados por aqueles que apontam que o impacto econômico será mais letal que o vírus. 

 Como disse Bill Gates esta semana, “é muito difícil dizer às pessoas – ei, vá a restaurantes, compre casas novas, ignore a pilha de corpos ali no canto, queremos que você siga gastando, porque o crescimento do PIB é o que importa”. Há uma grave decisão a ser tomada neste momento e o posicionamento do empresariado é de fundamental importância para desenhar o cenário que se avizinha.  

 Sou empresário e atuo há mais de 14 anos no segmento da saúde, com soluções desenvolvidas para descontaminação do ar e da superfície em ambientes internos. Minha atividade está diretamente ligada à manutenção da saúde em ambientes de fundamental importância, como hospitais, indústrias alimentícias, áreas de grandes aglomerações, como escolas, shoppings e academias, entre outros. Minha atividade reduz a possibilidade da proliferação de fungos, bactérias ou vírus. Ou seja, esses anos de trabalho me imputam a obrigação de participar desse debate.  

O momento é de combate à proliferação. Nossa principal preocupação é com a capacidade de atendimento do sistema de saúde do país, para que não seja colapsado. Passado este momento, “reordenaremos nossas tropas” e buscaremos soluções, globalmente, para que a economia se reestabeleça. E não estaremos isolados, pois se trata de uma questão mundial, dura, mas menos competitiva e mais colaborativa.  

 No terceiro momento, teremos a possibilidade de entender a importância da prevenção e do cuidado com as questões sanitárias, que tantas vezes são adiadas. No que tange à qualidade do ar, uma nova cultura já vem se desenhando mundialmente. No Canadá, por exemplo, recentemente a Agência de Saúde Pública detectou um aumento de 17 vezes nas taxas de infecções pós-cirúrgicas e infecções adquiridas na área da saúde em hospitais e decidiu por adotar sistemas de prevenção, que trazem menos custos à saúde do que o tratamento desse tipo de problema. O mesmo tem acontecido nos Estados Unidos e na Europa, onde nasce uma nova cultura de preocupação com a qualidade do ar, principalmente em ambientes fechados, onde uma pessoa hoje passa, comprovadamente, 90% de seu tempo. 

 Apesar de todas as dificuldades do pequeno e médio empresário no Brasil com o grande desafio que vivemos com a pandemia do Covid-19, é necessário respeitar as medidas de quarentena impostas e esperar a reativação  da economia com parcimônia e responsabilidade. 

O momento é de reflexão, de planejamento e de colaboração. Sem isso, não sobreviveremos para contar essa história. 

Henrique Cury, membro do DN Qualindoor da Abrava, do comitê de qualidade ambiental do GBC Brasil e do comitê 5 da FAIAR – Federación Iberoamericana de Calidad de Aire Interior, além de diretor geral da Ecoquest.   

 

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