De família gaúcha, Joana Canozzi tem suas primeiras experiências profissionais e de vida ligadas à Santa Catarina. Lá iniciou os primeiros estudos e, mais tarde, concluiu o bacharelado em Engenharia de Alimentos e o mestrado em Engenharia Química, ambos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Ainda na graduação teve seus primeiros contatos com a refrigeração. Aprofundou-os com a admissão, em 2012, no programa de trainee da Linde Gases Industriais, onde permaneceu por 5 anos, com atuações nas áreas de marketing, suporte técnico e desenvolvimento de negócios, em diferentes regiões do país. Em 2016 ingressou, como Executiva de Vendas, na Coats Corrente, multinacional do setor têxtil, onde foi responsável por gestão e desenvolvimento de negócios por cerca de um ano.

Há 3 anos, abriu-se uma oportunidade na Chemours, completando seu envolvimento pleno com a refrigeração. Há que se computar, ainda, algumas experiências, como de estagiária na Ambev, em Lages, SC. “Ao fim do programa duas possibilidade surgiram: seguir na empresa ou retornar à academia para fazer mestrado e, como uma grande apaixonada por pesquisa, não pude recusar o convite do mestrado.”

Terminado o mestrado, e aconselhada pelo orientador, resolveu enfrentar o desafio no mercado. Aliás, desafios são o que movem Joana. “Pouca gente sabe, mas eu já trabalhei como arrumadeira em hotel, numa fábrica de chocolates e até em fast food, como atendente.”

De espírito indômito, desde cedo quis conhecer o mundo e novas culturas. A maneira mais fácil seria através de intercâmbios culturais. Como a família não podia custear as viagens, Joana economizava o que ganhava com pesquisas na escola e outros trabalhos, como vendedora de lojas, por exemplo. Assim, nos EUA trabalhou em fábrica de chocolate e como arrumadeira de hotel. Na Inglaterra, foi atendente de uma grande rede de fast food.

“Ingressei na Chemours como coordenadora técnica da área de fluorquímicos”, conta ela, “inicialmente com foco prioritário em fluidos refrigerantes. Ao longo desses 3 anos, naturalmente fui ganhando responsabilidades adicionais relacionadas a outros segmentos, como solventes e agentes de expansão, e hoje sou Líder de Desenvolvimento de Negócios e Suporte Técnico para todo o negócio de fluorquímicos.”

Com predileção pelas áreas técnicas, Canozzi jamais foi omissa frente às demais responsabilidades. “Ao longo da minha jornada profissional sempre me identifiquei e busquei cargos em posições técnicas; entretanto, não somos 100% protagonistas da nossa própria história e às vezes as portas acabam se abrindo para outros desafios que nos fazem ampliar os horizontes e proporcionam novas descobertas. Sinto-me extremamente realizada e orgulhosa por esse reconhecimento, mas confesso que nessa jornada também despertei outras paixões, como desenvolvimento de negócios e marketing.”

Apesar de nunca ter experimentado diretamente os efeitos da desigualdade de gênero, Joana despertou para o tema através das experiências de outras mulheres. “As vítimas da desigualdade de gênero não podem entender que isso seja o ‘normal’ social, em muitos casos as próprias mulheres não percebem que estão sendo vítimas das generalizações sociais que embasam certos preconceitos. Quando eu escolhi cursar engenharia muitas pessoas me questionaram o porquê, já que engenharia de certa forma era uma área tida como masculina. Eu particularmente nunca tive essa percepção e não entendia muito bem esse tipo de rotulagem, talvez pelos exemplos que me rodeavam, e, assim, segui minha vocação. Entretanto, ao ingressar no mercado de trabalho me percebi rodeada por colegas de profissão exclusivamente homens e experimentei conversas com muitas mulheres que relataram certa vontade reprimida de ter seguido carreira na área da engenharia, mas, por acreditarem ser algo ‘masculino’, optaram por outros caminhos. Esse resumo exemplifica a necessidade do encorajamento, as mulheres precisam se sentir capazes acima de tudo. Colocado esse fato, é extremamente necessário o debate, falar sobre o tema, propor soluções e fortalecer a discussão, precisamos levantar a mão e gritar para todos, homens e mulheres, que somos capazes, que podemos juntos construir um mundo melhor. A fim de trabalhar a questão da conscientização, por exemplo, o Comitê de Mulheres da Abrava ofereceu recentemente um treinamento sobre Vieses Inconscientes que apresentou justamente diversos exemplos de preconceitos incorporados ao nosso dia a dia e como lidar com esse comportamento intrínseco.”

As preocupações de Joana quanto às desigualdades não se restringem ao gênero. “Também considero chave para o sucesso a adaptação em busca do equilíbrio a fim de proporcionar oportunidades iguais para pessoas diferentes e, nesse sentido, oferecer capacitação para que as mulheres possam estar prontas para competir de igual para igual durante o desenvolvimento de suas carreiras para mim é essencial. A equidade de gênero não é simplesmente uma bandeira, ela é uma forma de ganha-ganha para a sociedade como um todo. Por fim, eu acredito que a formação de movimentos organizados integrativos que estejam abertos a ouvir os problemas de ambos os lados a fim de traçar objetivos claros e definidos, guiados por propósitos e por uma liderança comprometida e unida que saiba dialogar, articular e agir de forma inteligente, é essencial para a evolução da equidade de gênero, por isso reforço o quanto acredito no trabalho do Comitê de Mulheres da Abrava.”

“Dentro da Chemours integro um grupo que discute a questão da equidade de gênero a fim de fortalecer a presença feminina na empresa. Fora da Chemours sempre apoiei as mulheres do setor promovendo palestras e treinamentos em eventos e universidades, e participo ativamente como vice-presidente do Comitê de Mulheres da Abrava, onde diversas iniciativas em prol da equidade de gênero vêm sendo planejadas e executadas, visando, principalmente, desenvolver as mulheres do setor AVAC-R”, esclarece.

Questionada sobre a importância da equidade, a profissional não titubeia: “Ela pode contribuir e muito para o sucesso sustentável das empresas, é algo que vem sendo matematicamente comprovado por meio de pesquisas conduzidas por consultorias extremamente renomadas como McKinsey e Grant Thorton. O incremento da diversidade leva a resultados mais positivos, crescimento no faturamento e redução da possibilidade de falência.”

Neste sentido, ela conta que a Chemours publicou, em 2018, seu primeiro relatório de Compromissos de Responsabilidade Corporativa (CRC), que propõe o cumprimento, até 2030, de 10 objetivos em 8 áreas. Para formular esses objetivos, a empresa aderiu ao Pacto Global das Nações Unidas, o mais importante pacto de cidadania e sustentabilidade do mundo. Um dos pontos dos Objetivos do Compromisso de Responsabilidade Corporativa (CRC) 2030 trata de Pessoas Inspiradas. No quesito diversidade, a meta é ter 50% de todas as posições globais ocupadas por mulheres e 20% de todas as posições nos EUA ocupadas por funcionários que representam a diversidade étnica.

“Ao longo desses dois anos já vemos ações sendo executadas e, inclusive, alguns resultados relacionados a equidade de gênero. Na Chemours no Brasil o quadro de funcionários é diverso e a presença feminina possui forte representatividade, além disso, atualmente nossa presidente é uma mulher”, salienta.

Joana Canozzi representa a empresa em diversas instituições e atividades. Na Abrava, através do Comitê de Mulheres e, também, no CB-055 que discute normas ABNT para o setor de refrigeração e climatização, como especialista da ISO. “Entretanto, também apoio outras iniciativas junto a outras entidades de classe à medida que a empresa estabelece apoio, como ABRAS, APAS e Sindratar.“

Desafios são, segundo ela, uma inspiração. Da mesma forma, vê-se inspirada por pessoas com as quais pode aprender todos os dias.

O que a decepciona? “Injustiça, falta de respeito e ausência de caráter. Eu acredito que todos somos seres humanos e podemos falhar, errar e tentar novamente; todos merecemos uma segunda chance. Entretanto, uma das virtudes que eu mais aprecio nas pessoas é a capacidade de admitir, superar e aprender com seus próprios erros a ponto de se tornar uma pessoa melhor a cada dia. Também acredito que todas as pessoas possuem um grande valor, por isso, devemos tratar de forma justa, respeitosa e igualitária todos os nossos colegas, principalmente praticando a empatia.”

Um recado para jovens que dão seus passos iniciais no AVAC-R: “Não desistam! Em alguns momentos trabalhar em uma área onde a presença feminina é restrita pode trazer certo desconforto ou até mesmo dúvidas, angústias e incertezas, mas, superar cada um dos desafios é algo completamente renovador e único. Cada problema solucionado e cada conquista parece que tem um sentido maior, um ‘gostinho especial’. Eu me identifiquei muito com o setor desde que ingressei, encontrei pessoas maravilhosas e muitas oportunidades, não somente relacionadas ao desenvolvimento de carreira mas, também, à possibilidade de contribuir para um mundo melhor, tanto por todo o trabalho de treinamento e educação que as empresas oferecem aos técnicos, quanto pela oportunidade de trabalhar em um setor que busca oferecer e fomentar boas práticas e soluções de baixo impacto ambiental para um mundo mais sustentável. A perspectiva para o setor AVAC-R em nosso país ainda é muito positiva, deve crescer nos próximos anos e haverá muito espaço para quem buscar atualização educacional, estiver atento às novas tendências e aberto a novas oportunidades que surgirão. Lembre-se que você não está sozinha e nem será a primeira a ingressar em nosso setor, há uma rede de apoio que certamente irá lhe acolher e diversas iniciativas como as propostas pelo Comitê de Mulheres da Abrava que irão lhe ajudar a trilhar o seu caminho.”

Ronaldo Almeida

ronaldo@nteditorial.com.br

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