Apesar de ainda jovem, Priscila Baioco é considerada uma das pessoas mais inspiradoras do mercado do AVAC-R. Idealista, mas não menos pragmática, tem se destacado na defesa de pautas relacionadas à diversidade, de gênero, racial, cultural, biológica, de orientação sexual, dentre outras. Este posicionamento, aliado ao sucesso profissional, conduziu-a à presidência do Comitê de Mulheres da Abrava há cerca de um ano.

“Uma bela manhã o Arnaldo Basile me ligou e disse que gostaria de bater um papo. Tomando um café numa padaria no Campo Belo ele me falou sobre o projeto de criar um Comitê de Mulheres da Abrava e pediu para eu o encabeçar. Pedi a ele um tempo para pensar. Um tempo depois eu fui indicada ao Prêmio Osvaldo Moreira de personalidade do AVAC-R. Era a primeira vez que uma mulher fora indicada ao prêmio. Aquilo me chamou a atenção. E quando eu ganhei a votação, após receber o prêmio, fui cercada por várias mulheres que diziam que aquilo era uma referência para todas. Na ocasião, duas outras mulheres se conheceram, a Viviane Nunes e a Carmosinda Santos, dando início a um trabalho. Disto resultou, também, o “Agora é que são elas”, idealizado pela Carmosinda e organizado pelo Sindratar-SP, em que eu fui uma das homenageadas. A partir dali vários movimentos se iniciaram, sendo que neste processo eu conheci, além da Carmosinda, a Jossineide e várias outras, que inauguraram alguns grupos de whatsapp”, conta Baioco.

Durante a Febrava de 2019, foi organizada uma ação do “Elas no AVAC-R” e a Armacell abriu seu estande para a distribuição de camisetas e encontro das mulheres participantes do grupo. Também aconteceu o primeiro Encontro de Mulheres da Abrava no qual Baioco, ao lado de outras mulheres, palestrou sobre Carreiras de Sucesso no AVAC-R. “A Febrava foi um marco para a atuação das mulheres no setor. Não porque elas começaram ali, mas porque começaram a aparecer, o setor começou a notar que há várias mulheres botando a mão na massa, na manutenção, na instalação e na operação. A conversa com o Arnaldo Basile progrediu e, já no final do ano, eu e a professora Ana Cristina organizamos uma reunião na Abrava para apresentar o projeto. Convidamos a Alessandra, você e a Leylla, de Minas, para apresentar o Comitê de Mulheres da Abrava”, continua ela.

Aproveitando o 8 de março, Dia Internacional da Mulher, foi organizado um evento no sábado, 7, na Fatec Itaquera, no qual foi oficializado o Comitê. Foram convidadas mulheres para apresentarem temas tão distintos como as boas práticas no AVAC-R, por Jossineide Oliveira e Silva Viana, docente do curso de refrigeração e climatização do Senai Rondônia; a advogada Marina Nicolosi discorreu sobre “Inteligência Emocional Rumo ao 4.0”.

“Lamentavelmente veio a pandemia e tivemos que cortar os eventos presenciais. Começamos a dar corpo ao Comitê, mas precisávamos de braços. Veio a ideia de convidar outras mulheres. Convidamos a Joana Canozzi, da Chemours, para a vice-presidência do Comitê, a Juliana Reinhardt, da Trane, para o subcomitê de marketing, a Paula Souza, Danfoss, para o subcomitê de empreendedorismo, com a professora Ana assumindo a área de capacitação. Foram programados eventos mensais online para planejar as ações. Uma data importante foi o dia 26 de agosto, dia da equidade feminina, quando pedimos para que os homens do setor falassem sobre a importância da atuação das mulheres, conforme recomendações do He for She, da ONU. Temos quase 50 mulheres hoje atuando nos subcomitês. Em setembro implementamos a pesquisa para orientar nosso trabalho, projeto liderado pela Paula. Tivemos um número significativo de respostas o que nos orientarão para 2021. Iremos fazer um encontro no dia 15 de dezembro com todas as mulheres envolvidas para apresentar os planos para o próximo ano, inclusive com a presença de uma coaching para dar dicas de carreiras para as mulheres”, continua Baioco.

Na sequência, com o apoio de Baioco, a revista Abrava + Climatização & Refrigeração integrou ao seu calendário editorial a seção Mulheres de Ação, na qual as mulheres do setor discorrem sobre suas experiências profissionais. A seção ganhou uma versão digital, que pode ser acompanhada pelo canal da Nova Técnica Editorial no YouTube.

Baioco, que também faz parte do Conselho Editorial da revista Abrava + Climatização & Refrigeração, faz questão de frisar que o trabalho do Comitê de Mulheres da Abrava não é o único a atuar no setor. “Existe uma série de outros trabalhos sendo levados à frente por outras mulheres do setor que não pode ser esquecido. Todos esses trabalhos vêm dando maior visibilidade às mulheres.”

Constatação de que existe uma ação cada vez mais forte das mulheres no AVAC-R é que todas as mulheres que integram o Comitê da Abrava já possuíam uma atuação neste sentido dentro das suas empresas. “A professora Ana Cristina é muito envolvida, sabe das dificuldades de pessoas que gostariam de fazer o curso e não podem. Ela é a nossa mentora, cuja participação é extremamente valiosa trazendo a experiência do contato com o profissional de campo. A Juliana é super engajada num trabalho vinculado à ONU; é quem conhece as datas comemorativas. A Paula tem uma visão incrível, eu não a conheço pessoalmente, meu contato foi estreitado no Comitê, mas é como se eu a conhecesse há anos. E a Joana é super respeitada pelo conhecimento técnico. São todas mulheres de referência e muito envolvidas com a causa. Conseguimos montar um time que impressiona. As relações se estreitaram muito via online, digo que são pessoas que a pandemia trouxe para minha vida.”

Uma vez conhecidos os dados revelados pela pesquisa, o Comitê discutiu um calendário. Com o perfil delineado a professora Ana começou a pensar em como viabilizar a participação dessas mulheres em cursos de capacitação, como incentivá-las ao empreendedorismo e como motivar a direção das empresas para se abrir para a diversidade. “Às vezes eu ouço dizer que a Abrava é uma entidade machista, que só tem homens, mas não podemos nos esquecer que eles são indicados pelas empresas. Então, a Abrava é um reflexo das empresas. É preciso que os homens entendam a necessidade de as empresas incorporarem mais mulheres, mais negros, mais homossexuais etc., e perceber como esta diversidade é benéfica para as empresas.”

Agora a equipe pioneira encontra-se na expectativa de encontros presenciais. Inclusive, incorporando outras entidades, como o Sebrae, “já que não se pode esquecer dele quando o tema é empreendedorismo. Agora é mão na massa para entregar trabalhos concretos”, segundo Baioco.

Uma intensa trajetória profissional

Priscila Baioco mostra sua admiração pelo trabalho desenvolvido pela Fatec. Nada de estranho. A organização de ensino fez parte da sua vida. “Foi ela quem proporcionou minha carreira. Minha relação com a Fatec no passado e agora no presente com a professora Ana Cristina é muito forte”, ressalta.

Arredia quando o assunto é a sua vida pessoal, a Gerente Nacional de Vendas e, agora, também a Gerente de Marketing da Armacell, acredita que deve ser valorizada pelo seu trabalho e não pelos desafios que enfrentou no passado. E não foram poucos. Sua vida profissional teve início aos 16 anos de idade. “Meus pais eram caseiros de uma chácara cujo dono, Dagoberto Barbosa, era, também, o proprietário de uma empresa de ventiladores, a Luftec. Nas férias, ele nos levava, a mim e ao meu irmão Rodrigo, para organizar os arquivos da empresa. Um dia, encontrando-se a secretária de vendas em férias, tocou o telefone e o gerente, que estava na outra linha, pediu para eu atender. Do atendimento saiu o meu primeiro pedido no AVAC. Mais tarde, eu já com 16 anos, calhou de a empresa abrir uma unidade em Itatiba. O gerente de vendas, Valmir Marto, defendeu que eu fosse contratada. Fui a primeira funcionária da área de vendas na unidade. Aprendi uma regra básica com esse gerente: todos têm seu lugar ao sol, ninguém precisa pisar em ninguém. É só trabalhar que sua oportunidade vem.”

Aquela contratação definiu o futuro profissional de Baioco. “Eu que sonhava ser médica quando criança, acabei desejando estudar engenharia. Os clientes ligavam e, apesar de eu já conhecer as curvas de desempenho dos ventiladores e demais informações técnicas, pediam para chama um engenheiro. Percebi que para ser respeitada eu precisaria estudar engenharia. Assim, terminado o colegial, prestei o exame vestibular para a engenharia da Unicamp. Foi a minha primeira grande frustração, não fui sequer selecionada para a segunda fase. Foi aquela choradeira e minha mãe disse: ´Priscila, até aqui nós podíamos fazer por você, agora é contigo, a mãe não vai poder fazer por você´. Comecei a cursar o pré-vestibular e, passados alguns meses, fui fazer o exame de admissão para a Fatec como trainee. Fui completamente desencanada e, para minha surpresa, fui aprovada. Foi o início da minha relação com a Fatec. Entrei, em 2000, no curso de Tecnologia Mecânica com foco em projetos. E tive a minha segunda frustração, levei nota vermelha pela primeira vez, em Cálculo. A turma era de 70 alunos, com 3 ou 4 mulheres e, ao final do curso, apenas duas se formaram, eu e a Sheila. Ali comecei também a saber lidar com os homens na vida profissional.”

A atual gerente da Armacell diz que as oportunidades sempre se abriram para ela. “Tive a felicidade de encontrar no caminho muito mais pessoas boas do que mal intencionadas. As oportunidades chegaram até mim. A diferença é que eu não perdi nenhuma delas, eu aproveitei todas. Sempre procurei aproveitar das pessoas com quem tinha contato tudo o que elas podiam me ensinar. Vieram as oportunidades na Torin, onde pude vivenciar uma fábrica, além de ser a primeira multinacional em que trabalhei. Até então só atuara em empresas familiares. Não que isso seja ruim, as empresas familiares permitem você ter contato com todo o processo e isso abriu portas nas multinacionais depois. Tive líderes muito bons, que me ensinaram não só sobre o trabalho, mas sobre a vida. E fui aprendendo. Tudo o que é bom vale a pena ser copiado.”

Mas existe, também, um lastro. Priscila Baioco, que passou por empresas como Trox, Torin,  além da Armacell, “que já ocupa metade da minha vida profissional dom duas passagens”, ressalta os ensinamentos da família. “Meus pais trabalham no mesmo lugar há 30 anos. Tenho um irmão e uma irmã que estão há anos nos mesmos empregos. Minha família não pôde nos dar muito dinheiro, mas ensinou alguns princípios básicos: que é preciso viver do trabalho e desenvolver relações de lealdade. Na simplicidade do que tinham, souberam passar valores.”

Àquelas e àqueles que chegam ao setor, Baioco recomenda que observem o seu entorno, as pessoas mais experientes e se preparem, se qualifiquem, buscando conhecimento em todas as situações. “Quando tiver oportunidade, converse e apreenda o que for bom. Aproveite as oportunidades. O setor AVAC-R é extremamente importante para o Brasil e para o mundo. Precisamos ver a importância dos técnicos, dos engenheiros, mas também dos vendedores. Agora, mais do que nunca, devido à Covid-19, o setor mostra a sua importância; no ar-condicionado, pela necessidade da renovação e tratamento do ar, e na refrigeração, quando são exigidas ultrabaixas temperaturas para armazenamento e transporte de algumas vacinas. Aproveitem ouvindo o que as pessoas têm de bom para oferecer. Passem a se integrar aos grupos de refrigeração. Quantos mais profissionais qualificados tivermos, mais contribuiremos para a economia. Contem com a Priscila presidente do Comitê, mas também com a Priscila gerente de vendas da Armacell.”

Acesse a entrevista completa no nosso canal no YouTube.

Ronaldo Almeida

ronaldo@nteditorial.com.br

 

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