Em um webinário recente promovido pela Abrava, o médico, pesquisador e professor titular da cadeira de patologia na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Saldiva, ironizava o uso do álcool gel na entrada dos estabelecimentos e o fechamento de parques e logradouros públicos como forma de contenção do novo coronavírus. Na mesma linha, a bióloga e divulgadora científica Natalia Pasternak, uma das mais lúcidas vozes no combate às posturas negacionistas, tem apontado a contradição entre fechamento de parques públicos em contraposição à abertura de ambientes fechados, como centros de compras.

Justificável, afinal já é de amplo conhecimento que o vírus se propaga pelo ar e o contágio por superfícies é extremamente raro. “Sem dúvida, com a crise sanitária que estamos vivendo a qualidade do ar que respiramos está sendo muito mais valorizada e ganhou mais atenção. Mas olhar para além da pandemia vai ser um grande desafio para manter este foco no QAI. Durante a pandemia, que já dura mais de um ano, uma doença que é transmitida pelo ar, a principal medida de combate que se fala até hoje é o uso do álcool gel e não os cuidados com o ar que respiramos. Resumindo: depois que a urgência da pandemia passar, vamos precisar a continuar falando (e muito) sobre a importância de QAI e os benefícios que isso pode trazer à saúde das pessoas”, diz Robert van Hoorn, diretor da Multivac Ventilação.

Na mesma linha, Rafael de Moura, da engenharia de aplicação da Mercato Automação, diz que “o mundo e o mercado de AVAC nunca mais serão os mesmos após a pandemia. Sempre houve a necessidade de convencimento dos responsáveis pelas edificações da importância e necessidade da preocupação com a qualidade do ar interior, e essa sempre foi uma dificuldade imposta aos projetistas que, muitas vezes, não podiam aplicar todo o conhecimento e tecnologia disponível, pois, acabavam sendo limitados pelo orçamento. Após a pandemia da covid-19 as pessoas de uma forma geral passaram a perceber, e valorizar, estabelecimentos que cuidam da qualidade do ar interior e essa nova onda tem ganhado força. Treinamentos, seminários e eventos que possam apresentar novas tecnologias, além dos benefícios das existentes, manterão plantada a semente da necessidade de projetos coesos com a nova realidade.”

Mas como fazer para que a necessidade da qualidade do ar interno se consolide na cabeça do comprador de serviços e produtos de maneira que extrapole a atual pandemia? Pragmática, Patrice Tosi, diretora das Indústrias Tosi, pontua: “Na minha opinião os clientes finais devem entender o porquê de optar por um produto que traga uma qualidade adequada, para assim facilitar sua aceitação. Sem entender, o cliente não pagará o preço desse produto.”

Moura aprofunda a receita, dizendo que “o principal é o comprometimento em fornecer, ou no mínimo apresentar ao cliente as opções disponíveis no mercado. Mostrar ao seu cliente as vantagens de cada tecnologia e o retorno que terá com a sua aplicação. Mas, principalmente, que ele seja um disseminador da necessidade de melhoria e tratamento da qualidade do ar interior.”

Maurício Figueira, coordenador de vendas WET da Munters, aponta para a necessidade de os fornecedores observarem estritamente as normas. “Há um bom trabalho de elaboração de normas e recomendações técnicas. É importante fornecer equipamentos e serviços em conformidade.”

O que não entra em conflito com a saída proposta por van Hoorn. “Na verdade, os sistemas de ventilação que garantem a QAI são compostos por componentes de diversos fornecedores. O que garante o seu bom funcionamento são bons profissionais para projetar e instalar o sistema como um todo. Outra coisa muito importante é a manutenção periódica para evitar problemas como, por exemplo, filtros saturados.”

Tratamento do ar de renovação

“A forma tradicional de renovação de ar é através da utilização de caixas de ventilação que consistem em equipamentos com ventilador, gabinete e filtros de ar, de acordo com a especificação de projeto, e a Tosi fabrica estes equipamentos atendendo a estas especificações. Uma outra forma de se promover a renovação de ar é através de equipamentos denominados DOAS (Dedicated Outdoor Air Systems), que incorporam a caixa de ventilação ao tratamento do ar, através de uma serpentina de resfriamento de água gelada ou de expansão direta, podendo ainda ter recuperador de calor como roda ou cubo entálpico e outros acessórios como lâmpadas UVC, reaquecimento elétrico ou por serpentina, produtos estes também fabricados pelas Indústrias Tosi”, diz Patrice Tosi.

De acordo com Figueira, as tecnologias variam de acordo com as condições determinadas para os ambientes a serem climatizados. “A utilização de sistemas dedicados para tratamento do ar externo, os DOAS, pode trazer benefícios de controle agregada a eficiência energética. Se a localidade e ou área demandam o controle da umidade, os equipamentos podem possuir cilindros dessecantes (e até mesmo rodas entálpicas). Em áreas amplas, como linhas de montagem, onde o objetivo é a climatização para o conforto humano, a adoção de sistemas evaporativos tem se mostrado extremamente eficiente.”

O coordenador de vendas da Munters explica que os sistemas dedicados utilizam o conceito de descolamento de carga, que gera maior estabilidade para os pontos de controle. “Quando possuem cilindros dessecantes, a reativação da sílica pode ser realizada através de aproveitamento do calor rejeitado pelo sistema de resfriamento DX, portanto, possui elevado índice de eficiência de remoção de umidade (Moisture Removal Efficiency). Na área dos evaporativos, a grande vantagem é a oferta de 100% de renovação de ar filtrado de acordo com as recomendações normativas e o consumo de energia de até 10% comparado a tecnologia de climatização convencional.”

Figueira explica um pouco mais as vantagens dos sistemas evaporativos: “A pandemia nos alertou sobre a importância da manutenção da qualidade do ar através da renovação e filtragem, no entanto, temperatura e umidade também são condições essenciais para o bom ambiente de trabalho. Nesta linha, a tecnologia evaporativa ganha destaque em ambientes de produção por possibilitar a manutenção das condições de conforto recomendadas pela norma, além de oferecer obrigatoriamente a renovação de 100% do ar, entretanto, é muito importante observar as condições específicas necessárias ao processo produtivo.”

Robert van Hoorn aponta para os riscos de ambientes climatizados por equipamentos do tipo split ou mini split. “As instalações do tipo split normalmente têm a função de resfriar o ar do ambiente e contam somente com um filtro grosso. Ou seja, estes sistemas só cuidam da temperatura do ar, mas não cuidam da maioria dos parâmetros de QAI como a umidade relativa do ar entre 40% e 60%, filtragem de partículas mais finas e não há renovação de ar para que os níveis de CO2 e outros contaminantes fiquem dentro de limites aceitáveis. Quando se tem a renovação de ar com a filtragem correta, boa parte dos problemas de QAI estão sendo resolvidos. Com a renovação do ar, os níveis de CO2 e outros contaminantes são diluídos, e ao usar filtros adequados, partículas finas são eliminadas.”

Purificação do ar

Moura, da Mercato, lembra que o Sars-CoV-2 é um vírus de alto grau de contaminação, mas não é o único risco trazido por um sistema de AVAC sem a devida manutenção preventiva pelo PMOC. “Outros vírus e bactérias proliferam em ambientes e em sistemas de AVAC, e são lançados no ambiente ocupado pelas pessoas, causando crises de rinite, alergias e a disseminação de vários outros patógenos trazidos de fora por ocupantes ou pelo próprio sistema AVAC.”

Para a purificação dos ambientes, Moura lista dois tipos de tecnologias: passivas e ativas. “Dentro das tecnologias passivas temos equipamentos e processos que atuam unicamente no local onde estão sendo aplicados e pelo período que estão sendo aplicados, como as lâmpadas UV-C germicidas, que são extremamente eficientes no tratamento e manutenção da limpeza de serpentinas de sistemas de AVAC. Já as tecnologias ativas são equipamentos ou processos que atuam no ambiente, de forma contínua, tratando os contaminantes já existentes e os novos trazidos durante a ocupação do local. Como exemplo, podemos falar das células de oxidação avançada, que geram oxidantes como peróxido de hidrogênio (H2O2), insuflado no ambiente, eliminando vírus, bactérias, odores, VOC, mofo e outros contaminantes.”

“A limpeza físico-química, com produtos de limpeza, sempre será mais eficientes que qualquer outra aplicada, mas apenas durante e logo após a execução. A nova realidade que vivemos pede algo mais seguro, algo ativo nesse tratamento, lembrando que não existe nenhuma tecnologia mágica que resolverá todos os problemas. Precisamos aplicar a união de várias tecnologias para tentarmos mitigar patógenos e melhorar a qualidade do ar interior. A união de filtragem, com lâmpadas UV-C nas serpentinas e células de fotocatálise nos dutos, associadas à regular e correta manutenção preventiva através do PMOC, garantirá que o sistema de AVAC será o maior aliado no tratamento da qualidade do ar interior e de seus ocupantes”, conclui Rafael de Moura.

Galeria de produtos para tratamento do ar

A Mercato oferece lâmpadas UV-C para serpentinas, equipamentos e células de fotocatálise, além de vários produtos para automação, medição e monitoramento do sistema de AVAC.

A Munters tem em seu portfólio unidades de tratamento de ar exterior, com vazão entre 3.400 e 27.200 m³/h, reativação através do calor rejeitado pelo sistema DX, aplicados em sistemas de climatização onde há necessidade e/ou benefício do controle da umidade, tais como: escritórios comerciais, shopping centers, hospitais e hotéis. Oferece, ainda, resfriadores evaporativos TURBOBrisbox, vazão entre 7.000 e 100.000 m³/h, eficiência de evaporação entre 80% e 93%.

A Multivac desenvolveu duas linhas de caixas de ventilação voltadas para a renovação de ar aliando equipamentos completos e compactos, já com as canaletas de filtragem integradas no equipamento, para facilitar a sua instalação sobre o forro, e com baixo nível de ruído. O modelo CFM, voltado para ambientes menores, com uma vazão (livre) de 500 ou 1.000 m3/h. Estes equipamentos têm 25 cm de altura, o que facilita a sua instalação acima do forro, com caixa toda revestida com material acústico, fazendo dele um ventilador de baixíssimo nível de ruído. A linha CVM, que conta com 6 modelos que vão de 1.800 m3/h a 6.000 m3/h, é configurada com dois ou quatro motores, dependendo da capacidade, rotor externo com pá curvada para trás, o que garante uma excelente relação pressão x vazão, levando em conta o tamanho do equipamento. Na última Febrava, em 2019, foi lançada a linha VXM, de 7.000 a 20.000 m3/h, também baseado num motor de rotor externo com pás curvadas para trás, com a tecnologia EC, que permite uma integração com os sistemas de controle e monitoramento.

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