Anna Cristina Dias

Desde menina, Anna Cristina Dias une a paixão pela engenharia à vontade de ensinar. “Adorava aviões, carros e matemática. Aí, descobri que a mecânica tinha tudo isso. Lógico que ao entrar na universidade descobri que o curso era mais do que só fazer manutenção de carro.”

Anna Cristina adentrou o mundo da engenharia pelas portas da Universidade de Fortaleza. Lá, completou a graduação em 1989. E, mesmo antes de se formar, foi contratada por uma empresa privada para atuar na área de treinamento. O chamado para a educação era cada vez mais forte.

“Desde pequena minha brincadeira favorita era dar aulas para minhas bonecas. Ser professora me realizou muito, posso ajudar as pessoas e aprender coisas novas.” O primeiro passo foi se candidatar à um posto na universidade que estudara, onde deu aulas por quatro anos.

Inquieta, entendeu que faltava algo a mais na sua formação. Mudou-se, da sua Fortaleza, para o interior de São Paulo. No campus São Carlos da Universidade de São Paulo (USP) fez o seu mestrado e, em seguida, o doutorado.

Nos oito anos que permaneceu em São Carlos, envolveu-se em diversos trabalhos de pesquisas e na monitoria de teses e dissertações de alunos, nas discussões sobre currículos, deu aulas e, inclusive foi representante dos alunos nos órgãos colegiados. Ali, segundo ela, percebeu a possibilidade de trabalhar com pesquisa também no setor privado.

De volta à Fortaleza, foi trabalhar com pesquisas na Universidade Federal de Fortaleza, onde ficou por cinco anos. “Dessa época, guardo a lembrança de vários alunos que hoje são meus colegas doutores.”

Isso ainda era pouco para uma alma tão inquieta. “Achei que deveria voltar para São Paulo. A intenção era voltar para São Carlos, mas acabei ficando na capital, o que foi outra experiência muito interessante. Dei aulas em vários lugares, tendo que enfrentar o trânsito alucinante de São Paulo, numa experiência única.”

Em 2007 abriu um concurso na Fatec de Carapicuíba. Incentivada por uma amiga, foi fazer o concurso. “Eu já ouvira falar dos cursos tecnológicos, mas não os conhecia, ainda. Em Fortaleza existia uma Escola Técnica, que não possuía, ainda, os cursos tecnológicos. Eu fiquei deslumbrada com as possibilidades. Naquela época eram 68 Fatecs no estado todo, tudo absolutamente gratuito! As Etecs, que são cursos técnicos, eram mais de 200. Hoje somos 73 Fatecs e 210 ou 220 Etecs.”

No início, Anna Cristina começou a dar aulas de logística, na área de produção. “Aí a gente viu a relação grande a escola e as empresas. Gosto muito da pesquisa aplicada. Não consigo trabalhar sem ela e a Fatec trazia isto.”

Em seguida foi para São Bernardo, onde ministrou a cadeira de produção no curso de Informática para Gestão de Negócios. “Eram duas realidades distintas, com empresas diferentes, alunos diferentes e que me obrigaram a trabalhar bastante no entendimento das diferenças.”

Em 2009 candidatou-se a um cargo de coordenadora na Fatec São Bernardo. E, “apesar de ter sido um tempo curto, foi muito rico. Pois acho que a maioria dos problemas que temos nas empresas passa pelas pessoas. Aprendi muito a lidar com as pessoas.”

Em 2010 concorreu para o cargo de diretora da Fatec São Bernardo e Carapicuíba, que eram ligadas. Mas, para sua surpresa, foi escolhida para dirigir a Fatec Zona Leste, uma região sobre a qual nada entendia. “Não só não conhecia nada da região, como tampouco da escola e dos cursos que eram ministrados. Uma verdadeira estranha no ninho.”

Foi no Itaquera que Anna Cristina teve o seu contato com a climatização e refrigeração. O curso estava, então, em vias de montagem nesta unidade e teve início em 2013. Segundo a professora, que assumiu Itaquera em 2014, “o contato que eu tivera anteriormente com a refrigeração estava restrito ao período de estágio, quando eu desmontava e montava equipamentos. Mas jamais tivera contato com cursos na área e sequer sabia que existiam.”

Para ela, foi um momento de mais descobertas. “Tive que selecionar professores, ver o que existia, numa revelação muito interessante. Pensei que se soubesse de tudo aquilo antes, seguramente teria construído minha carreira na refrigeração.”

O que mais a impactou, foram as correlações da área com as demais da vida econômica e social. Como, por exemplo, a área da conservação de alimentos, a construção civil, a área automotiva, entre outras. Para ela, o exemplo maior é na atual situação de pandemia da covid-19. “Fui descobrindo várias coisas a partir do contato com as empresas e com as pessoas do setor. Na verdade, me encantei com esta descoberta.”

Na diretoria da Fatec Anna Cristina ficou de 2013 a 2019, quando foi chamada a se integrar à diretoria de apoio às redes de ensino básico do MEC. O órgão tem contato com todos os municípios brasileiros, assim como com a totalidade de escolas de ensino fundamental e médio. “O ensino médio é um problema sério. Existe uma grande falta de conhecimento acerca do futuro e da necessidade de pensar mais longe por parte dos jovens. Agrega-se a isso o fato de muitos desses jovens terem que trabalhar para se sustentar. O problema é maior com as meninas, que vivem a realidade da gravidez precoce. Compreendi que é necessário trazer o ensino superior para perto do ensino básico. Algo que já fizera com o programa ‘Fatec de Portas Abertas’”, explica.

Ainda que tenha aumentado o número de mulheres em cursos técnicos, Anna Cristina afirma, que o preconceito ainda é grande. “O que eu vivi em 1980, ser preterida em cargos técnicos devido ao fato de ser mulher, eu continuo ouvindo hoje. Recentemente uma aluna narrou que foi preterida num cargo técnico pelo fato de ser mulher!”.

Atitudes como essas impactam diretamente na quantidade de mulheres em muitos cursos de tecnologia. “Por isso o trabalho do Comitê de Mulheres da Abrava é tão importante. Nós atuamos no fim da linha, na abertura de espaços para as mulheres no mercado de trabalho, o que redundará em maior presença feminina também nos cursos de tecnologia e de engenharia. Crescemos, mas pouco. É necessário avançar mais em todas as áreas, não só as técnicas.”

Sem educação, não há mudança, defende. “Acredito que a educação tem a força de um tsunami”, diz ela. E às jovens que pretendem construir uma carreira na área, ela aconselha: “Não desistam jamais, permaneçam. A área de refrigeração é muito boa e traz grandes chances de construção de uma carreira, desde que você queira e lute por isso. O instinto maternal precisa estar na construção da carreira, também. Uma carreira é como um filho”, conclui.

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