O controle remoto de instalações de refrigeração é uma das principais armas para proprietários e profissionais que exercem o monitoramento de câmaras e balcões, com vistas à economia de energia e preservação da qualidade dos alimentos estocados. As ferramentas podem ser mais ou menos sofisticadas, a depender das necessidades estabelecidas e do quanto pode ser investido no sistema, mas, de forma geral, todas estão em condições de atender o contratante.

Convidamos três profissionais cujas empresas desenvolvem sistemas de automação e controle e monitoramento remoto das instalações para apresentar os conceitos de cada uma das empresas. São eles: Rodnei Peres, Vice-diretor comercial da Full Gauge Controls; Luiz Villaca, responsável pelas soluções tecnológicas da RAC Brasil; e Silvio Barbelli, Gerente da engenharia de aplicações da Coel.

Revista Abrava + Climatização & Refrigeração: A quais necessidades deve atender um projeto de sistemas de automação e controle em instalações de refrigeração comercial?

Rodnei Peres: A questão mais relevante é “qual nível de controle o projeto requer”, conforme for o escopo do projeto é que se mensura o nível de automação. No nosso caso oferecemos a possibilidade do gerenciamento local e remoto, com alarmes, gráficos, armazenamento de informações e tratamento dos dados para variáveis como temperatura, umidade, pressão e tensão.

Luiz Villaca: É importante considerar este tema na perspectiva de nosso país, que tem dimensões continentais. No Brasil, como um todo, a vasta maioria das instalações utiliza hoje um mínimo de eletrônica. Além disso, há pouco conhecimento em campo relativo à automação de sistemas de refrigeração comercial. Dessa forma, o projeto de sistemas desse tipo no Brasil deve focar em simplicidade, robustez e baixo investimento, com ênfase em atender apenas as funcionalidades mais importantes, aquelas ditas essenciais. Considere por exemplo as alternativas de monitorar (apenas ler) um sistema de refrigeração e de ter acesso remoto (ler e atuar). Muitas vezes apenas o monitoramento, a leitura das temperaturas e demais informações do sistema de refrigeração já é um grande avanço. Ler e modificar parâmetros do sistema sem dúvida é útil, mas talvez menos essencial e com maior risco operacional.

Silvio Barbelli: O objetivo da automação e controle em sistemas de refrigeração é obter o melhor desempenho e eficiência energética considerando as condições operacionais do sistema.

A+CR: Como a automação e controle podem contribuir decisivamente para a qualidade de armazenamento frigorificado?

RP: Quanto mais informações temos a respeito do funcionamento dos equipamentos e controle da temperatura, melhor somos na tomada de decisões e ajustes finos de controle. Falar em armazenamento frigorífico é o mesmo que falar em saúde dos consumidores desses tipos de produtos. É preciso ter um controle muito preciso para entregar o melhor e nas condições adequadas para consumo.

LV: Na efetiva manutenção das condições desejadas no dia a dia, de forma simples, fácil e barata. Deve reagir com presteza a condições inesperadas, falhas, quebras e indisponibilidades, permitindo ações de correção da equipe técnica a tempo de manter as condições de armazenagem dentro de parâmetros aceitáveis. E deve contribuir para a utilização eficiente de energia, evitando desperdício e gerando economia operacional para o cliente.

SB: A automação de armazéns frigoríficos possibilita aperfeiçoar os processos de recepção, armazenamento e expedição dos produtos, inclusive adequando sua rotatividade de acordo com o posicionamento no armazém, peso, data de validade etc.

A+CR: É possível identificar avanços significativos recentes nos controles para sistemas de refrigeração e em ferramentas de automação? Quais seriam eles?

RP: Sim, a todo momento são disponibilizadas melhorias nos sistemas e nos controles. Atualmente o uso de compressores e ventiladores variáveis superam os 40% de economia de energia, além das válvulas de expansão eletrônicas que permitem utilizar 100% da carga de um evaporador evitando o coeficiente de erro no dimensionamento dos trocadores de calor. O monitoramento e gerenciamento remoto de instalações e equipamentos, que há tantos anos divulgamos, está cada vez mais popular também.

LV: É evidente que em anos recentes aconteceram diversos avanços nos sistemas de controle e nas ferramentas de automação para sistemas de refrigeração. A lista é longa. Em relação a sistemas de controle, podemos destacar o uso de controladores eletrônicos em substituição a mecânicos ou termodinâmicos e de válvulas de acionamento elétrico em vez de mecânico. Isso trouxe importantes ganhos em flexibilidade, eficiência e conveniência. Apesar da tecnologia não ser nova, foi a redução de seu custo que permitiu sua efetiva utilização em sistemas de refrigeração comercial. Em relação a ferramentas de automação podemos destacar o aumento da sofisticação e da variedade de controladores e supervisórios de baixo custo, bem como sua ampla conectividade com smartphones, tanto remotamente, via internet, quanto localmente. Assim, tanto nossos técnicos quanto seus clientes, antes sem nenhum tipo efetivo de monitoramento, passaram a ter ferramentas para visualizar, remotamente e em tempo real, as informações operacionais de seus sistemas de refrigeração comercial.

SB: Sim. Cada vez mais se utilizam controladores eletrônicos dedicados a cada dispositivo das instalações, gerenciados por um software adequado à aplicação. O funcionamento integrado dos controladores permite melhorar a eficiência e monitoramento das instalações.

A+CR: Numa situação de crise hídrica, que no Brasil se transforma em crise energética, qual a relevância da automação em instalações de refrigeração comercial?

RP: As novas tecnologias que visam a eficiência energética são fundamentais, grandes aliadas nesse cenário. Sistemas menores e mais precisos contribuem para um planeta mais sustentável.

LV: Automação de baixo custo, com qualidade, simplicidade e efetividade é um importante caminho para a redução de consumo energético. Isso significa não só uma menor conta de luz para o cliente, como ganho e contribuição efetivos de nosso setor para toda a nação.

SB: A eficiência energética em instalações refrigeradas é um tema complexo e objeto de diversos estudos. O controle integrado dos dispositivos eletroeletrônicos de uma instalação, na prática, permite uma economia de energia de até 20%.

A+CR: Qual o seu prognóstico para a evolução das tecnologias de automação e controle na refrigeração?

RP: Cada vez mais a automação vai liderar este processo, o sistema de refrigeração por expansão direta é o mesmo a mais de 100 anos, porém os controladores desses mesmos sistemas evoluem a cada semana. O nível de automação e controle permite ajustes cada vez mais finos, melhorando sempre o desempenho dos equipamentos.

LV: Acredito que veremos uma penetração cada vez maior da eletrônica e da conectividade nos sistemas de refrigeração comercial em uso no Brasil. Certos componentes, como válvulas de expansão eletrônicas, deverão gradualmente substituir quase que totalmente as válvulas de expansão termostáticas. A redução do custo e uma maior simplicidade em sua implantação serão as principais molas propulsoras. Veremos também cada vez mais sistemas de refrigeração comercial conectados, comunicando-se com outros sistemas, com técnicos ou mesmo com donos e usuários de estabelecimentos comerciais.

SB: Busca contínua pela melhoria da eficiência energética e eficiência dos sistemas de refrigeração englobando o projeto, operação e monitoramento por softwares gerenciadores e IoT. Aumento da utilização de inversores, soft starters, válvulas de expansão eletrônicas e desenvolvimento de evaporadores e condensadores mais eficientes.

 

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