A qualidade do ar interior entrou definitivamente no rol das preocupações de gestores de edifícios climatizados, consequência direta da pandemia da Covid-19, que expôs a fragilidade dos ambientes internos, de uma forma geral, e dos edifícios revestidos de pele de vidro em particular. Na impossibilidade da ventilação natural, cumpre respeitar as recomendações para o tratamento do ar de renovação. É importante olhar por um aspecto nem sempre priorizado, que é o controle da umidade.

“A umidade do ar é a quantidade de vapor de água presente na mistura de gases que compõem o ar atmosférico. A umidade, por si só, não é um elemento que causa danos direto à saúde dos ocupantes ou mesmo aos materiais do ambiente construído. Porém, o nível de umidade e o tempo de exposição podem, sim, causar sérios problemas à qualidade do ar, podendo afetar a saúde dos ocupantes e a sua produtividade, assim como os materiais do ambiente”, explica Rafael Dutra, Supervisor da Engenharia de Aplicação da Trane.

“Os fungos podem causar a deterioração dos materiais que compõem mobiliário, tintas e, dependendo do tipo de construção, problemas estruturais. Até mesmo a percepção de valor de um ambiente é afetada quando visualmente se percebe o dano causado pelo mofo ou mesmo quando se observa seus odores característicos. Portanto, podemos citar um impacto financeiro importante que a qualidade do ar terá sobre os proprietários e gestores dos ambientes. Outro aspecto fundamental é a saúde dos ocupantes. Existe uma ampla literatura que demonstra a associação entre ambientes mofados e o desenvolvimento de sintomas respiratórios como asma, tosse, infecção respiratória e outros”, continua o Supervisor de Engenharia da Trane.

“A umidade, quando exagerada no interior de um ambiente onde o ar fica parado, provoca mofo, o mofo é um bolor causado por um fungo que causa problemas respiratórios, como a asma alérgica, rinite alérgica, sinusite fúngica, aspergilose bronco pulmonar alérgica, micose bronco pulmonar alérgica e outras alergias”, completa Marcelo Munhoz, Presidente do Qualindoor Abrava e Diretor da Sicflux.

É possível prevenir?

“O controle de fonte sempre é a forma mais efetiva, embora nem sempre seja possível eliminar todas as fontes de vapor de água para um ambiente, mas já é um ótimo começo. As estratégias adequadas costumam ser: evitar a presença de superfícies com condensação e evitar que a água líquida penetre na edificação através de uma drenagem adequada de água de chuva, de um projeto do terreno ao redor da edificação e do uso de materiais adequados que atuem como barreira de vapor de forma correta”, recomenda Dutra.

O outro aspecto é a penetração de umidade na forma de vapor. “A pressurização da edificação é a forma adequada para garantir que haja controle dos fluxos de ar para dentro do ambiente em pontos desejados como tomadas de ar externo do sistema de ar-condicionado. Por fim, o controle de temperatura e umidade por um sistema de climatização com a devida automação e controle permitirá que, em todo o tempo, o ambiente esteja dentro da faixa desejada de umidade, mitigando o desenvolvimento destes microrganismos”, continua o especialista da Trane.

“Ar úmido precisa ser controlado e com o auxílio de produtos que renovam o ar, assim o ar úmido não fica parado onde se instala o mofo”, completa Munhoz.

Origens da umidade e mofo

Uma das origens da umidade está na forma como são controlados os sistemas de climatização. Grande parte deles não possui controle efetivo de umidade, nem ao menos utiliza sensores de umidade para o monitoramento logo, não são capazes de exercer o controle de temperatura e, de forma indireta, provocar a desumidificação dos ambientes. Assim, é possível encontrar ambientes operando com faixas de umidade do ar fora daquelas recomendadas pela Ashrae, entre 30% e 60%.

“Esta é uma faixa ideal em que é minimizada a proliferação de diversos microrganismos. Além do controle de fontes, um sistema de climatização com capacidade de controle efetivo de umidade é fundamental. Alguns conceitos de projeto permitirão um controle mais preciso e menos dependente da automação. Podemos citar aqui os sistemas de vazão de ar variável, os sistemas dedicados de tratamento de ar externo e, caso sejam utilizados sistemas de expansão direta, um sistema com inversor de frequência com controle da temperatura de insuflamento do ar”, recomenda Dutra.

O Supervisor de Engenharia da Trane alerta: “O outro aspecto é que desligamos o sistema de climatização em horários não ocupados. Isso, em um primeiro momento parece intuitivo para a economia de energia, mas é durante o período noturno – ou mesmo nos finais de semana – que várias das fontes de umidade continuam presentes e, com o sistema de climatização desligado, também se perde a pressurização da edificação. Este ciclo de umidade pode sim levar ao desenvolvimento de fungos ao longo do tempo.”

Ação da ventilação

“Em um ambiente sem o mofo a renovação de ar irá fazer com que o ele não se instale, já em um ambiente onde o mofo está instalado, a renovação de ar irá evitar que ele se amplie, porém, não irá sanar o problema. A renovação de ar faz com que o ar úmido se movimente e por conta disso o mofo não consegue se instalar”, explica Munhoz.

“A ventilação por si só, no máximo, irá reduzir a concentração de contaminantes em um determinado ambiente. A forma como essa ventilação é feita, entretanto, é que pode trazer alguma contribuição para o controle de umidade e, por consequência, a proliferação de mofo. Uma das formas mais eficazes é o já citado sistema de tratamento de ar externo dedicado. Estes sistemas têm por objetivo reduzir a condição de ponto de orvalho do ar externo até um patamar inferior ao do ambiente interno climatizado, podendo até mesmo tomar parte do calor latente que, de outra forma, seria atendido pelas unidades internas”, completa Dutra.

Dutra esclarece, ainda, que uma vez instalado, o mofo sai da órbita da climatização e ar-condicionado, e deverá ser removido fisicamente. “A umidade, desde que dentro da faixa ideal, é algo desejável. Portanto, não eliminamos umidade, nós a controlamos. Por isso, a minha recomendação seria uma avaliação por um profissional especializado que determine que tipo de tratamento ou que materiais deteriorados precisam ser removidos completamente. Outra ação é a avaliação de possíveis fontes de umidade, seja água líquida ou no estado vapor. Estudar envoltória, janelas, disposição do terreno ao redor da edificação e o sistema de drenagem de águas pluviais. Procurar fontes de condensação ou vazamentos internos também é uma necessidade. Por fim, verificar que tipo de sistema de climatização está instalado e, com o auxílio de um projetista de ar-condicionado, buscar soluções e tecnologias como as que foram citadas anteriormente”, conclui.

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