Os vários ambientes dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde são especificados em sete tabelas constantes na Norma

Um dos pontos relevantes a ser destacado na edição 2022 da NBR 7256 é o Anexo A. O Anexo A é um importante tópico normativo porque nele foram acrescidos setores e ambientes, em relação a edição de 2005, listados de acordo com as atualizações mais recentes da resolução RDC Nº 50, que passou por consulta nacional, e da ASHRAE Standard 170 (2017).

Sete tabelas com os parâmetros de projetos de vários ambientes de Estabelecidos Assistenciais de Saúde foram disponibilizadas. Os parâmetros de projeto foram revisados e atualizados com base em normas, resoluções e referências bibliográficas atualizadas sobre o tema, com especial destaque para a ASHRAE Standard 170 (2017), assim como normas complementares a serem utilizadas e citadas ao longo do texto da Norma. Os parâmetros de projeto recomendados na NBR 7256 têm como objetivos minimizar os riscos de infecção em ambientes de saúde, a manutenção da qualidade do ar interior, a remoção e/ou diluição de contaminantes e odores, e garantir condições adequadas para a equipe médica, pacientes e demais ocupantes destes espaços projetados.

A estrutura das Tabelas do anexo A é ilustrada na Figura 1, e as 4 primeiras colunas indicarão quão crítico é o ambiente estudado e as atenções que devem ser dadas durante o projeto. As tabelas estão divididas em 11 colunas. Na primeira coluna são listados os ambientes e, na sequência, são classificados o tipo de ambientes: Ambientes protetores (PE), Ambientes de isolamento de infecções por aerossóis, materiais contaminados e emissão de vapores/gases (AII), ambientes associados (AA), e ambientes operacionais (AO). O nível de risco e a situação a controlar (agentes químicos/biológicos/radiológicos e condições especiais a atender) foram incluídos nas colunas seguintes. Nesta versão atualizada da Norma, a 5ª coluna indica o nível de pressão que deve ser mantido em relação aos ambientes adjacentes para minimizar o potencial risco de contaminação cruzada. Além deste cuidado, em alguns ambientes AII, foram incluídas antecâmaras para um maior controle do ambiente, diante das evidências da eficácia em manter os diferenciais de pressão e criar contenção em quartos de isolamento (Mousavi et al. 2019; e Siegel et al. 2007). Na sequência são apresentados os números de renovações e de movimentações por hora. Outra coluna incluída na Norma refere-se à exaustão total do ar ambiente indicando quando se faz necessária. Note-se que, nesta edição, estes números estão relacionados ao volume da sala. A classe de filtragem foi atualizada assim como os limites da temperatura de bulbo seco e umidade relativa.

Figura 1. Ilustração das Tabelas do Anexo A

No intuito de uma melhor compreensão das unidades hospitalares contempladas, um índice das tabelas é apresentado abaixo.

A Tabela A1 corresponde à Unidade de Atendimento Imediato – Emergência e Urgência, onde são listados 8 ambientes. Uma particularidade nesta tabela em relação à versão de 2005, foi a inclusão da sala de espera. Esta área é considerada uma área que necessita de atenção especial devido ao grande acúmulo/circulação de pessoas. Beggs et. al. (2010) estimaram o aumento de risco de adquirir algumas doenças infecciosas transmitidas pelo ar para 1 hora em salas de espera, por exemplo, de 30% para sarampo e de 6,6% para influenza. A previsão de tempo de espera para o atendimento médico, de acordo com a classificação e o nível de risco (após a triagem), pode demorar de 15 minutos até 4 horas. Outro risco em salas de espera, é que alguns pacientes podem ser assintomáticos com doença infecciosa e, assim, colocariam tanto o ambiente quanto as pessoas que ali estiverem expostas ao risco de contaminação. Portanto, é imprescindível prover um ambiente com a qualidade do ar interior adequada que proporcione bem-estar, conforto e segurança aos usuários. Outros ambientes contemplados na Tabela A1 incluem a sala de observação e de diagnóstico com antecâmara para pacientes com risco de doenças infecciosas transmissíveis pelo ar, a sala vermelha, a sala de inalação e a sala de higienização e descontaminação. Os parâmetros de projeto para cada ambiente são listados na tabela e, quando necessário, observações adicionais foram incluídas abaixo da tabela.

Na Tabela A2 é descrita a Unidade de Internação composta de 12 ambientes. Importantes alterações foram propostas nesta tabela e nos ambientes, tendo como base os novos conhecimentos, em especial na área do controle do ambiente. Para tanto, foram propostas antecâmaras no corredor de acesso dos quartos PE, em quartos AII e UTIs. Foi incluída UTI para pacientes AII no intuito de um maior controle da área e atendimento de pacientes contaminados, como por exemplo, por SARS-CoV-2. O controle de pressão nestes ambientes é um importante parâmetro de projeto e no Anexo C são apresentadas figuras ilustrativas.

A Tabela A2 contempla também a Unidade de Queimados, composta de 5 ambientes. Foram incluídos o corredor de acesso aos quartos de pacientes queimados expostos, quartos para pacientes expostos (com e sem antecâmara) e não expostos, sala para tratamento de balneoterapia e a sala de curativos. O quarto para paciente exposto apresenta amplitude maior de temperatura em função da necessidade do processo e necessidades de tratamento do paciente. Um importante aspecto é que o diferencial de pressão dos ambientes da unidade de queimados, com exceção da balneoterapia, é mantido sobre pressão para maior proteção do paciente e ambiente.

O Centro Cirúrgico está descrito na Tabela A3 composta de 8 ambientes.  Nesta versão foi considerado apenas um tipo de sala cirúrgica. Foi acrescido o ambiente de antecâmara, para maior controle do diferencial de pressão em relação ao corredor. No Anexo C uma figura ilustrativa da sala cirúrgica, com antecâmara, é apresentada. Na sala de cirurgia, sala de apoio, quando houver no hospital, e antecâmara, foi especificado o uso do filtro ISO 35H. Seguindo a atualização RDC 50, foi incluída na tabela uma sala de procedimento. A sala de recuperação pós-anestésica e sala de guarda e preparo de anestésicos foram consideradas, nesta versão da Norma, com risco de exposição da equipe médica aos gases anestésicos que representam comprometimentos à saúde, segundo estudos científicos.

Na Tabela A4 é apresentada a Central de Material Esterilizado composta de 5 ambientes. Embora os ambientes citados sejam os mesmos da versão 2005, significante revisão dos parâmetros de projeto foi realizada. Em relação ao nível de risco, apenas as Áreas para preparo de materiais e roupa limpa para esterilização física permaneceram com nível de risco 1, enquanto demais ambientes foram considerados nível de risco 2 e a “área de recepção, área para lavagem e separação de materiais” passou a ser considerada nível de risco 3, devido a geração de aerossóis em alguns processos de lavagem e por ser considerada uma área contaminada. O diferencial de pressão em relação às áreas adjacentes foi definido para todas as áreas, assim como recomendado renovações e movimentações de ar no ambiente, exaustão total na maioria dos ambientes citados, o uso de dois processos de filtragem e controle de temperatura e umidade relativa. A Resolução RDC Nº 15 e a ASHRAE Standard 170 (2017) foram importantes referências para a definição de alguns critérios de projeto.

Na Tabela A5 foram incluídas as Unidades de Diagnóstico e Terapias, com o total de 23 ambientes, considerando os avanços médicos e tecnológicos atuais. Destes ambientes listados, 6 são considerados ambientes protetores (PE) e os demais, ambientes operacionais (AO). Nos ambientes protetores, com exceção do “Laboratório de biologia molecular com cabines de segurança biológica”, o ar antes de ser insuflado deverá passar por três processos de filtragem – G4 + F8 + ISO 35H. Devido a particularidade das atividades realizadas em cada ambiente, além dos parâmetros de projeto citados na tabela, engenheiros projetistas deverão atender critérios estabelecidos pelos fabricantes dos equipamentos utilizados.

Na Tabela A6 ficam os ambientes de Apoio Técnico e Apoio Logístico com 14 ambientes. Destes ambientes listados, quatro são considerados críticos e precisam maior atenção: (a) na Farmácia/Farmacotécnica, a sala de preparo e fracionamento de doses e reconstituição de medicamento com antecâmara, e área para armazenagem e controle; (b) na Lavanderia, a sala de recebimento, pesagem, classificação e lavagem (área suja); e (c) o Departamento de Limpeza e zeladoria, devido a armazenagem de resíduos contaminados/armazenagem de substâncias perigosas/tóxicas. Na lavanderia e no departamento de zeladoria os limites de temperatura não são recomendados e sim o uso de ventilação mecânica e exaustão mecânica, respectivamente. Os ambientes citados na Tabela A6 apresentam diversos processos de filtragem do ar a ser insuflado, sendo o ambiente mais exigente a “Sala de limpeza e higienização de insumos para manipulação parenteral”, que deverá passar pelas filtragens G4 + F8 + ISO 35H.

Na Tabela A7 são os Ambientes diversos, sendo alguns destes existentes em várias unidades como os vestiários de barreira e os banheiros, e foram também incluídos os ambientes odontológicos e ambientes de fisioterapia. Os ambientes odontológicos foram incluídos nesta Norma por ser um ambiente dedicado à saúde bucal e devido a necessidade de um controle ambiental e qualidade do ar interior adequada ao tipo de uso.

Mônica do Amaral Melhado, é arquiteta pela Universidade Estadual de Londrina, com mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorado pela Technische Universiteit Eindhoven, Países Baixos; atua na área de arquitetura hospitalar há 23 anos e em várias entidades técnicas

 

 

 

Mário Alexandre M. Ferreira, é engenheiro mecânico, projetor e consultor na Projetos Avançados

 

 

 

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • ANSI/ASHRAE/ASHE 2017. Standard 170: Ventilation of heath care facilitie.
  • Mousavi, E., R. Lautz, F. Betz, and K. Grosskopf. 2019. Academic Research to Support Facility Guidelines Institute & ANSI/ASHRAE/ASHE Standard 170. ASHRAE Research Project CO-RP3. Atlanta: ASHRAE.
  • Clive B Beggs, Simon J Shepherd e Kevin G Kerr, 2010. Potential for airborne transmission of infection in the waiting areas of healthcare premises: stochastic analysis using a Monte Carlo model. BMC Infectious Diseases 2010 10:247.
  • Siegel J.D., E. Rhinehart, M. Jackson, and L. Chiarello. 2007. 2007 Guideline for Isolation Precautions: Preventing Transmission of Infectious Agents in Healthcare Settings. Atlanta: Centers for Disease Control and Prevention, The Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee

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