Responsabilidades de projeto, instalação e fornecimento de equipamentos e componentes para o sucesso do empreendimento

O embasamento para o desenvolvimento de um projeto de AVAC se dá por meio de requisitos legais, técnicos e éticos. O ponto de partida para a elaboração é conhecer as reais necessidades do cliente e expectativas em relação ao projeto a ser desenvolvido.

“Nesta ocasião formulamos perguntas importantes que irão nortear as decisões técnicas. Usualmente fazemos uma exposição das diversas soluções possíveis expondo suas vantagens, desvantagens e, principalmente, uma estimativa de investimento na instalação. Nos projetos maiores, desenvolvemos uma apresentação com os tipos de soluções de climatização, as estimativas de potência elétrica, assim como contas de energia elétrica, água, esgoto, gás natural, tratamento de água, manutenção, vida útil e investimento. Estabelecida a diretriz de solução de climatização com o cliente, devemos levar em consideração alguns aspectos importantes como a localização do empreendimento. Por exemplo, em Salvador existem bairros onde o índice de salinidade é um dos maiores do mundo, e irá exigir cuidados especiais, não somente em relação à maresia, mas à presença de ventos fortes em determinadas épocas do ano. Outros itens são prédios próximos a futura casa de máquinas exigindo equipamentos mais silenciosos ou o desenvolvimento de projeto acústico específico; locação das futuras tomadas de ar exterior devido a movimentação de veículos, depósitos de lixo e outras situações que possam comprometer a qualidade de ar interno. Se o prédio for existente, é recomendável a medição de dióxido de carbono para estabelecer a concentração externa do mesmo, bem como buscar junto às demais disciplinas informações relativas a tensão elétrica trifásica, potência elétrica disponível, disponibilidade de água e sua qualidade (em determinadas cidades do interior ou mesmo em algumas capitais do Nordeste a qualidade inviabiliza a solução de condensação a água); e, por fim, munir-se de desenhos de arquitetura e projeto estrutural, mesmo que sejam estudos iniciais”, diz Mario Sérgio de Almeida, presidente do DNPC da Abrava e diretor da MSA.

A partir da existência do projeto arquitetônico que contenha planta de locação com orientação magnética, layout da ocupação e definição quanto ao uso das dependências a serem beneficiadas pela instalação de climatização, poder-se-á conhecer as características climáticas do local e identificar possíveis aplicações de processos mais eficientes, como ciclo economizador, resfriamento evaporativo, free cooling e geotermia.

“Um bom projeto técnico terá que apoiar-se nas ciências da transmissão de calor, mecânica dos fluidos, psicrometria e termodinâmica. Esses pressupostos, em conjunto, conduzirão a um sistema eficaz, econômico, ecológico e sustentável”, informa Francisco Dantas, diretor da Interplan – Planejamento Térmico Integrado.

Renato Nogueira de Carvalho, diretor da Termax, chama a atenção para o fato de que clientes que compram sistemas de ar condicionado para conforto preocupam-se apenas com a temperatura dos ambientes, porém, faz parte do trabalho do projetista ou do instalador alertar e mostrar que existem outros fatores que podem comprometer a instalação, como umidade relativa, qualidade do ar e o nível de ruído dos ambientes.

“Todo projeto precisa considerar o tipo de ambiente que será condicionado e as expectativas do cliente. É importante entendermos as necessidades do cliente, o que ele espera obter. Em geral, em sistemas de ar condicionado para conforto, o custo do projeto suplanta outros requisitos e chega até a preterir soluções de maior qualidade para reduzir o custo de implantação do sistema. Ao se iniciar um projeto devemos informar ao cliente quais serão os critérios adotados para a elaboração do projeto e explicar os benefícios e impactos que serão gerados. Emite-se então um documento denominado, por exemplo, critérios de projeto, onde serão listadas todas as premissas adotadas para o desenvolvimento deste. Esse documento deverá ser aprovado pelo cliente e assim adotado como referência para possíveis alterações. Em sistemas de ar condicionado destinados a processos de produção esse documento é chamado de URS (User Requirement Specification)”, observa Carvalho.

Cabe ainda ao projetista do sistema de AVAC relacionar os pressupostos legais e éticos.

“Todos os cálculos para desenvolvimento de qualquer projeto são baseados nas normas da ABNT, Portarias e Resoluções vigentes de órgãos municipais, estaduais, federais, ou internacionais, nos casos da inexistência de parâmetros regulamentares nacionais. Existem projetos específicos em que o próprio cliente possui seu caderno de encargos para o desenvolvimento de projetos de ar condicionado, que, neste caso, servem de orientação para o projetista”, diz Almeida.

Ele acredita que todo projeto deve ser conduzido pelo projetista com consciência criativa: “À medida que adquire experiência ao longo dos anos e maturidade na elaboração dos seus trabalhos, desenvolve naturalmente pelo seu esforço essa consciência ética procurando produzir bens úteis para o cliente e a sociedade. A competividade global gerando nefasta redução de valores não deve afetar a qualidade do produto de engenharia dos projetos, sem o que, o valor ético da empresa será diminuído. O maior bem da empresa é o seu valor ético, a qualidade de sua engenharia e a segurança do desenvolvimento de um produto diferenciado. A ética é o bem mais importante de uma sociedade. Quando o projetista se afirma pela ação contínua e bem direcionada, perseverando na busca das metas que estabelece, e amadurece sua consciência ética de responsabilidade e dever, se credencia naturalmente, diante da sociedade, a ser referência de qualidade e ética no serviço que realiza”.

Anderson Rodrigues, diretor da Artécnica, ressalta: “Ética, vem do grego `ethos´ e significa caráter, comportamento. O estudo da ética é centrado na sociedade e no comportamento humano. As reflexões sobre esse tema começaram na antiguidade, e até hoje é um ramo da Filosofia interessantíssimo e fundamental. Para nós (empresa) a ética trata do comportamento individual (pessoas e empresas) em relação à sociedade, o que garante o bem-estar social. Ela define nosso trabalho e comportamento diante da sociedade humana. Logo, em nossos projetos, os seres humanos e a preservação do planeta vêm em primeiro lugar. Destaco ainda a interação com o cliente e suas necessidades para podermos elaborar um trabalho em perfeito balanço da boa engenharia (conforto térmico, eficiência, custos) e preservação da natureza. Lembro sempre de um comercial da Volvo Automóveis que me deixou curioso, na época, pois a empresa se define como feita para pessoas. Seguindo o mesmo raciocínio, prédios e casas existem para e por pessoas, e elas são a razão de ser da nossa empresa. São as pessoas que nos inspiram e por elas inovamos, assim, são as pessoas que devemos cuidar e proteger em nosso trabalho”, informa Rodrigues.

Ele ainda faz uma ressalva sobre a responsabilidade ética do projetista quanto a utilização de ferramentas e metodologias, como o BIM.

“Com o uso da metodologia BIM por parte dos construtores e escritórios de projetos, os usos genéricos de partes, peças e equipamentos começam a ser questionados, bem como a forma de contratação dos envolvidos no empreendimento. A metodologia BIM requer informação e parametricidade de componentes para serem usados nos projetos, logo, os fornecedores devem ser selecionados inicialmente. Os seus concorrentes devem possuir equipamentos semelhantes (tamanho, eficiência, capacidade etc.) ou melhores (menores, mais eficientes etc.). A metodologia de contratação dos projetos e empreiteira também deve ser revista. Desta forma (com o BIM) o projetista é responsável pelo projeto executado, pois em seu desenho está, para a instalação, o mais fiel à realidade”, revela o diretor da Artécnica.

Na visão de Carvalho, da Termax, o profissional ou a empresa responsável pela elaboração de um projeto deve orientar o seu cliente sobre as características técnicas dos sistemas e equipamentos e quanto ao padrão de qualidade, sem envolvimento ou interesses pessoais nas negociações comerciais. Os pressupostos legais e éticos possuem pesos equivalentes e não devem ser separados. O profissional responsável pelo projeto ou pela instalação tem a obrigação de orientar o seu cliente sobre as opções que o mercado oferece, sob o ponto de vista técnico, mas também tem o dever de fazer com que sejam cumpridas as normas vigentes e leis que norteiam o mercado. Com a mesma importância esse profissional deve comportar-se de forma isenta de preferências ou interesses ao propor a adoção de sistemas de condicionamento de ar e seus equipamentos.

“Do ponto de vista técnico, infelizmente, são comuns instalações de ar condicionado que não cumprem as normas técnicas e sequer as leis vigentes. Em consequência disso encontramos edificações que apresentam problemas em seus ambientes para manter a temperatura uniforme, boa distribuição de ar e, principalmente, ambientes sem renovação de ar que causam problemas de saúde para as pessoas. Do ponto de vista legal o cliente ficará vulnerável e sujeito a possíveis sanções como notificações, multas e até a interdição dos ambientes condicionados. As fiscalizações não são frequentes, mas o cliente está sujeito a denúncias que podem ser feitas por funcionários ou por usuários das instalações que estejam em desacordo com a legislação vigente. No campo da ética as consequências são subjetivas. Não existem punições claras, mas o profissional que estiver atuando no mercado de forma antiética poderá ser denunciado pelo cliente ou por seus pares para os conselhos de classe como CONFEA/CREA e CAU. É sempre difícil falar sobre aspectos intangíveis aqui no Brasil, onde profissionais sem a devida qualificação técnica exercem atividades incompatíveis com as suas atribuições, caracterizando a falta de ética e o exercício ilegal da profissão, mas sendo detectadas essas práticas, os profissionais deverão ser denunciados e após processo administrativo junto aos respectivos conselhos, estes deverão ser impedidos de exercer a profissão. Para isso é importante que o consumidor tenha consciência do custo e dos problemas que decorrem da contratação de profissionais não habilitados e não éticos para a elaboração de projetos. Para que o projetista possa ser responsabilizado legalmente pelo projeto, entendemos que a participação da empresa e/ou profissional deverá ocorrer durante toda a maturação e implantação do empreendimento. A participação do profissional que fez o projeto deve ser permanente desde a concepção, ou seja, estudos preliminares e básicos até a finalização dos projetos executivos, fiscalização da obra, comissionamento e start-up do sistema”, alerta Carvalho.

Dantas acrescenta ainda que os pressupostos éticos, por influirem na qualidade de vida tanto das gerações presentes, como das futuras, determinam que “as decisões do projetista devem ser tomadas priorizando o interesse e o benefício do empreendimento e seus usuários. Além da observância das Normas Técnicas Brasileiras como NBR 16401 e NBR 7256 (Hospitalar), bem como as Normas ASHRAE 55, 62.1 e 62.2, que tratam do conforto higrotérmico e da qualidade do ar interior, e da ASHRAE 90.1, que trata do uso eficiente e responsável da energia em edificações, cabe a nós, projetistas, conceber, planejar, convencer e explanar a ideia a empreendedores, executores, mantenedores e usuários, difundindo a prática da sustentabilidade e atuando com foco no aspecto estrutural de longo prazo, não no aspecto conjuntural de possíveis vantagens imediatas. No caso da não observância dos pressupostos, as consequências são a degradação da eficácia, no âmbito técnico; degradação da credibilidade, no âmbito legal; degradação da confiabilidade, no âmbito ético”, enfatiza o diretor da Interplan.

Almeida destaca ainda uma breve transcrição do Código de Ética profissional do engenheiro, do arquiteto e do engenheiro agrônomo que consta da carteira do CREA:

São deveres dos profissionais da engenharia, da arquitetura e da agronomia:

1°) Interessar-se pelo bem público e com tal finalidade contribuir com seus conhecimentos, capacidade e experiência para melhor servir a humanidade.

2°) Considerar a profissão como alto título de honra e não praticar nem permitir a prática de atos que comprometam a sua dignidade.

3°) Não cometer ou contribuir para que se cometam injustiças contra colegas.

4°) Não praticar qualquer ato que, direta ou indiretamente, possa prejudicar legítimos interesses de outros profissionais.

5°) Não solicitar nem submeter propostas contendo condições que constituam competição de preços por serviços profissionais.

6°) Atuar dentro da melhor técnica e do mais elevado espírito público devendo quando consultor limitar seus pareceres as matérias específicas que tenham sido objeto de consulta.

7°) Exercer o trabalho profissional com lealdade, dedicação e honestidade para com seus clientes e empregadores ou chefes, e com espírito de justiça e equidade para com os contratantes e empreiteiros.

8°) Ter sempre em vista o bem estar e o progresso funcional dos seus empregados ou subordinados e tratá-los com retidão, justiça e humanidade.

9°) Colocar-se a par da legislação que rege o exercício profissional da engenharia, da arquitetura e da agronomia, visando a cumpri-la corretamente e colaborar para sua atualização e aperfeiçoamento. 

Da teoria à prática

Segundo Gerson Catapano, diretor de engenharia da Masstin e presidente do DN Instalação e Manutenção da Abrava, o ponto de partida para a execução de uma instalação de AVAC é entender os parâmetros necessários em termos de temperatura, umidade, pressurização, filtragem, distribuição de ar, exaustão e quantidade de ar externo, definidos em função do uso (tipo de ocupação) que a área terá. As tecnologias a serem empregadas também devem ser de consenso entre o cliente, projetista e o instalador.

“O instalador deverá primeiramente verificar a adequabilidade do projeto, as características da área a ser implantada, o sistema de AVAC e, principalmente, verificar os meios para execução do projeto, que passam por diversas fases, desde o reconhecimento da área onde deverá ser realizado um levantamento meticuloso, para verificação de quando os serviços podem ser realizados e os prazos necessários,  desenvolvimento de um cronograma, estudo da logística da obra, ou seja, como os materiais e equipamentos chegarão ao local onde serão instalados, definição do que será fabricado no local e o que será pré-fabricado, exigências de segurança para a execução dos serviços,  viabilização econômica, e alterações necessárias para execução, as Boas Práticas de Engenharia, além da observância das normas aplicáveis para cada caso. Hoje contamos com normas para as mais diversas aplicações, como pressurização de escadas para incêndio, exaustão de cozinhas, salas limpas, ambientes de saúde e hospitais, e, principalmente, a Norma Brasileira ABNT NBR 16401 que regula sobre projeto e instalações de ar condicionado, parâmetros de conforto térmico e qualidade do ar interior. Existem vários requisitos legais a serem observados também, sendo o principal a ART – Anotação de Responsabilidade Técnica, em que o engenheiro se responsabiliza pela execução da obra e os resultados obtidos. Além da ART existe a questão dos impostos envolvidos na venda, montagem e entrega da instalação”, descreve Catapano.

Ele ressalta a responsabilidade pelo desempenho da instalação, que hoje é muito pouco avaliado pelo cliente/usuário, que se preocupa muito mais com a questão do custo da instalação de AVAC do que com sua operação.

“Algo que de certa forma acaba ficando de lado por parte de muitos clientes, e que considero muito importante destacar, é a necessidade de operação e manutenção adequada dos sistemas. A obtenção da performance do sistema ao longo do tempo depende de uma boa operação, que depende tanto da compreensão do sistema, quanto de indicadores de performance e tendência. O desgaste e necessidade de manutenção são naturais a qualquer sistema mecânico, portanto, existe a necessidade de uma manutenção qualificada. A operação e manutenção mal implementada resultam em gastos de energia excessivos, baixa qualidade do ar interior e perda de performance, afetando os parâmetros de funcionamento do sistema de AVAC”, alerta o presidente do DN Manutenção e Instalação.

Martin Lazar, gerente de projetos da Masstin, acrescenta que a execução da instalação demanda vários pontos a serem considerados, principalmente se for um projeto novo ou uma reforma, iniciando por um contato amplo com o cliente com a participação da manutenção, operação, produção e engenharia.

“Nesta fase serão definidas padronização de equipamentos, por exemplo, para facilidade de manutenção, exigências da obra, horários para os trabalhos, descarte de materiais, filosofias de sustentabilidade, dentre outras. Para diversos projetos, como instalação farmacêutica, laboratorial, biocontenção, veterinária, hospitalar, eletrônica e até processos industriais, a primeira etapa é conhecer os Requisitos do Usuário (RU), onde são conhecidas todas as características de cada ambiente, como temperatura, umidade, diferencial de pressão, filtragem requerida etc. Esse formulário irá balizar todo o projeto, servindo para o desenvolvimento de toda a documentação até o comissionamento e qualificação dos sistemas. Em paralelo devemos conhecer muito bem a arquitetura do projeto e, frequentemente, trabalhar em conjunto com o arquiteto para o aprimoramento de soluções a fim de viabilizar cascatas de pressão, pisos técnicos, casas de máquinas etc. Esta fase é uma das mais importantes. Para uma instalação de conforto, por exemplo, muitas vezes o projeto de arquitetura já vem concebido com uma filosofia, o que facilita o desenvolvimento. Hoje nos deparamos com projetos que demandam atender ao LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) ou PROCEL (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) ou AQUA-HQE (Haute Qualité Environnementale), o que já definem de antemão muitos pontos de partida, cada um com suas características”, informa Lazar.

Para ele a responsabilidade pela filosofia do projeto é do projetista, o que baliza, além da diretriz da solução, o custo da obra, pois participou com o cliente de todas as etapas de decisão para a formulação do mesmo. Contudo, frequentemente, tanto a verificação quanto a seleção final de equipamentos são responsabilidades do instalador, assim como as interferências locais que muitas vezes no projeto não são detectadas. É uma responsabilidade compartilhada, principalmente porque a garantia de performance do sistema acaba sendo do instalador que deve analisar antes de tudo o projeto e alertar para alguma inconsistência.

“Ao receber um projeto espera-se que contenha embarcado todas as melhores soluções técnicas. Cabe ao instalador, com uma engenharia adequada, colocar em ação as Boas Práticas de Execução seguindo os conceitos do projeto e, principalmente, na aplicação dos equipamentos e materiais, agregando valor à mesma. Uma obra tem que ter capricho, ser limpa, ordenada e os profissionais envolvidos possuírem treinamento e capacitação adequada. Alguns pontos devem ser observados, que na realidade são obrigações, desde preço justo, cumprimento de cronogramas assumidos, até o emprego dos melhores equipamentos e materiais, e um relacionamento franco, onde se espera a reciprocidade e reconhecimento do cliente. Ser ético é uma obrigação e não um diferencial pontual. A empresa não será reconhecida pelo cliente caso não siga esses pressupostos, além de ter retrabalhos para obter a conformidade exigida. Dificilmente alguém irá recontratar uma empresa que não cumpriu o esperado”, alerta Lazar.

A análise criteriosa do projeto por parte do instalador é destacada por Francisco Redondo, diretor da SetHVAC – Sociedade de Engenharia Térmica. “A perfeição não existe. Eventualmente, o instalador ao analisar o projeto com critério pode propor alguns pontos de melhoria, ou até mesmo identificar alguma inconsistência. Assim, ele deve entrar em contato com o projetista para discutir este tipo de assunto. Ou ainda, no momento em que se inicia a construção do edifício poderão surgir situações em que há necessidade de alteração do projeto executivo e sua adaptação às novas condições construtivas. Ressalto que a contratação do projetista deve acontecer no mesmo momento que a do instalador para que essas duas áreas se envolvam desde o começo. Trabalhando em conjunto facilita a observância dos preceitos técnicos, por parte do instalador, que deve seguir fielmente o que foi descrito pelo projetista. Qualquer alteração só poderá ser feita com a anuência do projetista. Além disto, o instalador deverá indicar equipamentos que primem pela qualidade, como também atender todos os pressupostos legais referentes às normas técnicas, resoluções descritas em projeto, registros nos órgãos competentes, e as NRs do Ministério do Trabalho (durante a execução), inclusive a fiscalização do uso de EPI´s na obra, evitando problemas quanto a segurança do trabalhador”, diz Redondo.

Redondo ressalta que a não observância dos itens citados geram sérias consequências. “Sob o aspecto legal, o descumprimento de normas gera multas e punições. Quanto às técnicas, elas podem ser desastrosas. Ao longo da minha vida profissional posso citar várias instalações que não atenderam muitos preceitos técnicos e, embora funcionem, possuem um altíssimo consumo de energia elétrica, equipamentos com pouca vida útil, péssima qualidade do ar interior, e por aí vai! O custo social desta não observância é muito alto, comprometendo a saúde do trabalhador. Sob o aspecto ético, infelizmente ainda prevalece a política do menor custo e concorrência desleal. Talvez 70% das construtoras exercem essa política, contratando mão de obra barata e despreparada. Isto inclui o proprietário, uma vez que ele compra preço e não qualidade. Raríssimas são as exceções, em sua maioria multinacionais, inclusive com exigências de normas europeias, voltadas em especial à sustentabilidade e eficiência energética, ou seja, instalações verdes. Cito como exemplo de qualidade e cumprimento de todos os requisitos técnicos, legais e éticos o Shopping JK, em Brasília – DF, onde o investimento, apesar de ter um custo inicial elevado, proporcionou baixo custo operacional, gerando o necessário retorno”, afirma o diretor da SetHVAC.

Responsabilidades e limites dos fornecedores

E na visão dos fornecedores de equipamentos, quais deveriam ser os pressupostos legais, éticos e técnicos a serem observados por projetistas e instaladores de AVAC?

“Para o primeiro, obviamente a observância das recomendações normativas e demais normas vigentes na elaboração dos projetos e execução do mesmo. Na questão técnica, a observância às condições requeridas pelo usuário, conforme a ocupação e objetivo de cada área. Já o ponto de vista ético é mais difícil de relacionar. Acho que um projeto deve ser elaborado e executado de acordo com o alinhamento entre as aspirações do cliente e o projeto efetivamente produzido e há diferentes perspectivas para cada projeto. Alguns são dirigidos com relação ao seu custo final, outros pelo seu custo operacional. Acho que a discussão com relação aos benefícios na adoção de componentes de maior eficiência deveria ser mais intensa, porém acredito que há diversos profissionais em nosso mercado que atuam de acordo com as aspirações de seus clientes tanto na área de projeto, como na de instalação. A não observância desses pressupostos geram diversas consequências, desde a substituição de seu componente por outro de menor valor agregado, até a responsabilização pelo fracasso do mesmo, além de custos de retrabalho para adequação à normas (no caso dos pressupostos legais) até o eterno convívio com um sistema em desacordo com as condições requeridas”, enfatiza Danilo Santos, engenheiro da Munters do Brasil.

Hernani Paiva, diretor da IMI Hydronics, acrescenta que todas as empresas deveriam ter suas missões e valores claramente identificados pelos seus colaboradores e clientes, a fim de não cometerem equívocos sistêmicos comprometendo todo o trabalho e imagem da empresa junto ao mercado, tais como, projetista: projetar e fiscalizar; instalador: instalar fielmente o que o projetista especificou; fabricante: fornecer o produto especificado pelo projetista;  e, por fim, o comissionador garantir os requisitos que o cliente solicitou ao projetista quando da contratação do projeto. Tudo dentro da ética, e de acordo com as leis e normas vigentes.

“A não observância desses pressupostos gera um mercado não profissional, desacreditado pelos clientes e com baixo retorno sobre investimento, tanto dos clientes quanto dos fornecedores; além da queda da qualidade e das garantias necessárias, o retorno sobre investimento não é atingido”, opina Paiva.

Na opinião de Leandro Antunes Pereira, engenheiro da Armstrong, “o fornecedor num primeiro momento deve se preocupar com a qualidade do produto, desde os materiais envolvidos no processo de fabricação do mesmo até os respectivos processos de fabricação e controle de qualidade. Uma vez que o fornecedor não se preocupa com estas questões mínimas sobre seu produto o mesmo deve sofrer as sanções aplicáveis. Acreditamos que é obrigação de um bom fornecedor propor soluções que tragam vantagens ao cliente, ao instalador e ao projetista, por isto a constante necessidade de investimento e desenvolvimento de novas soluções. A não observância desses pressupostos irá gerar para o cliente alguns problemas para administrar no futuro, como alto consumo energético, investimento adicional em soluções de controle, elevado custo de manutenção e operação, com reposição de peças e até mesmo do produto. No caso, as certificações traduzem-se como o melhor termômetro, para validações de pressupostos técnicos/legais exigidos para as instalações. O correto seria os mesmos serem notificados pelos órgãos responsáveis ou agentes de fiscalização do projeto, a fim de que possam corrigir ou contestar as soluções apresentadas ao cliente, lembrando que em boa parte das vezes nosso cliente é leigo e não possui embasamento técnico necessário para avaliação das soluções que lhes é apresentada”, conclui Pereira.

Ana Paula Basile Pinheiro

anapaula@nteditorial.com.br

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