O Real Hospital Português de Beneficência foi criado em 1855, no Recife, visando responder à epidemia de cólera que então se alastrava por todo o país. Hoje, transformado em moderno e sofisticado complexo, incorporou à edificação de um século e meio de vida outras quatro, construídas, uma por vez, a partir da década de 1990. Sendo a última delas, o hospital Santo Antônio, de nefrologia, inaugurado no segundo semestre do ano passado.

A edificação inicial, dada as limitações arquitetônicas, é climatizada por vários sistemas unitários por expansão direta. Todas as demais edificações passaram a ser atendidas por sistemas de expansão indireta, sempre incorporando estratégias de engenharia e tecnologias pari passu com o momento. E, em todas as fases, o conceito da instalação teve a autoria da Interplan Planejamento Térmico Integrado, sediada na capital pernambucana.

“As duas primeiras edificações tiveram projeto de centrais por expansão indireta para cada prédio, com chillers arrefecidos a ar instalados nas respectivas coberturas. A partir da terceira edificação, o João de Deus, maior entre as quatro, projetou-se uma central distrital para produção de água gelada e de água quente sanitária predial, anel secundário de distribuição de água gelada para todo o campus hospitalar e anel secundário de distribuição de água quente para as duas últimas edificações”, descreve Francisco Dantas, diretor da Interplan.

A central distrital foi projetada com dois módulos de igual capacidade e teve o primeiro módulo implantado para atender a demanda da terceira edificação. Posteriormente sua capacidade foi duplicada com a implantação do segundo módulo, que permitiu a incorporação da demanda das duas primeiras edificações, e a consequente desativação das centrais localizadas nos topos dessas edificações. Ultimamente foi construída a quarta edificação, automaticamente atendida pela central distrital.

“A central distrital dispõe de anéis primário e secundário de bombeamento e distribuição de água. Cada edificação dispõe de um anel terciário e sistema terciário de bombeamento de água, conectados ao anel secundário de distribuição distrital. A água gelada é produzida, armazenada e distribuída em duas temperaturas, 4°C e 10°C. As duas primeiras edificações, que tiveram a concepção do circuito hidráulico para operar com uma única temperatura, recebem água a 7°C, resultado de uma mistura de água a 4°C e 10°C”, continua o diretor da Interplan.

A água quente é produzida em dois estágios de temperatura. O primeiro estágio é por processo de recuperação de calor, através da conexão em série dos condensadores de duas unidades resfriadoras de água, produzindo água a 43°C. Quando não há produção de água quente, os condensadores passam a operar em paralelo. O segundo estágio é produzido por bombas de calor acionadas eletricamente.

“A produção de água quente possui um processo bastante inovador. Uma bomba de calor trabalharia sempre, tendo ou não demanda, o que reduz o rendimento do processo frigorífico para poder fazer o processo calorífico. Fizemos, então, dois processos em série: o primeiro entra a 30°C e sai a 37°C, o segundo entra a 37°C e sai a 45°C. Colocando os dois em série, transformamos as duas máquinas de refrigeração em bombas de calor. E, terminando a demanda por água quente, a máquina volta a trabalhar em paralelo, desfazendo o funcionamento como bomba de calor; é tirar partido da instalação, sem precisar utilizar uma máquina dedicada ao processo”, explica Dantas.

A central distrital não foi a única inovação incorporada a partir do João de Deus, que está mais para um hospital geral do que um hospital especializado. Nele, o 14º andar é destinado a transplantados de medula óssea.  Outro dos diretores da Interplan, Francisco Dantas Filho, diz que para esses ambientes protetores foram instaladas máquinas exclusivas, equipadas com lâmpadas germicidas e filtragem absoluta. “Tais máquinas, instaladas na cobertura, atendem aos pacientes com baixa imunidade nos ambientes para transplantados de medula óssea.”

“Já nos leitos de isolamento para pacientes com infecções transmissíveis pelo ar, a climatização é feita por 100% de ar externo e todo o ar da sala é exaurido, mantendo o ambiente com pressão negativa. O fluxo de exaustão é equipado com filtros absolutos”, ressalta Fabiana Dantas Gusmão, também diretora da empresa de consultoria e projetos.

Fancoletes hospitalares

“Na ocasião da concepção do projeto do edifício João de Deus, eu disse ao provedor do hospital que acreditava serem os fancoletes hospitalares uma tendência e que ele teria a oportunidade de ser referência neste aspecto. Ele reagiu positivamente”, lembra Dantas.

Assim, o uso desses equipamentos transformou-se em uma constante e as duas últimas edificações foram equipadas com fancolete hospitalar nos apartamentos e enfermarias, com filtragem de ar G4/F9. Já o ar exterior é tratado em unidade DOAS com filtragem de ar G4/F7.

No Santo Antonio as centrais de tratamento de ar foram alocadas na cobertura. Para trazer o ar tratado, foram projetados shafts da cobertura ao térreo, passando pelos nove pavimentos que compõem a edificação. “Dificilmente haverá a necessidade de a equipe técnica de manutenção circular pela área hospitalar. O fato das UTAs não estarem em cada pavimento, mas centralizadas na cobertura, não se traduz em maior uso de dutos. Acho que foi uma solução muito boa do ponto de vista de assepsia hospitalar, porque haverá excelente acesso às máquinas para manutenção”, defende Dantas.

Qual seria, entretanto, a vantagem dos fancoletes hospitalares? “Entendemos que o principal personagem dentro da edificação é o paciente. Se você tem um dispositivo cuja filtragem é de muito melhor eficiência do que outros, você estará trabalhando a favor do processo médico. O fancolete hospitalar, na concepção adotada para o projeto – com desacoplamento entre cargas sensível e latente –  não produz o biofilme, e o filtro final, que é classificação F9, está a jusante da serpentina. Quer dizer, há um filtro G4 a montante da serpentina e um filtro F9 a jusante da serpentina; além do mais trata-se de uma serpentina que não tem condensação, numa vantagem muito grande em termos de qualidade do ar. Nós não colocamos as lâmpadas germicidas justamente pelo fato de não ter o biofilme. Lâmpada germicida temos em todas as máquinas de tratamento de ar para a UTI, de renovação e desumidificação de ar”, enfatiza o consultor.

Cada fase foi um desafio para a instaladora

A Comtel Climatização participa há tempos da expansão do complexo Real Hospital Português de Beneficência, tendo atuado na instalação da primeira CAG e na sua posterior duplicação. “Na primeira fase foi instalada a nova CAG que serviria como district cooling para o João de Deus e os futuros edifícios do complexo do Hospital. Teve como diferencial os seguintes pontos: CAG com três estágios de temperatura para tratamento do ar externo com fancoils dedicados, produção de água quente utilizando condensadores em série e trocador de calor, e tanques de termoacumulação de água gelada e água quente. A segunda fase foi executada quase em paralelo com a primeira, que foi a instalação do João de Deus, com 15 andares. Este projeto possuiu alguns diferenciais: bombas terciárias e válvula de redução de pressão para a CAG, fancoletes hospitalares para todos os quartos e corredores, UTAs para demais ambientes, com um pavimento técnico inteiro localizado na cobertura, com fancoils individuais para atendimento individualizado de cada quarto de TMO”, descreve Davi Vilela Nóbrega, diretor comercial da empresa.

A Comtel atuou, ainda, na reforma do Edifício Egas Muniz, onde o sistema antigo de split foi substituído pelo novo sistema de água gelada, “tendo como diferencial o bloco cirúrgico altamente moderno onde todas as paredes, tetos e sistema de fluxo laminar e teto filtrante vieram da Alemanha, fornecido e montado pela empresa. A Comtel executou todos o fornecimento de equipamentos e dutos até a conexão nas salas do bloco” enfatiza Nóbrega.

Finalmente, a empresa assumiu a instalação do novo edifício Santo Antônio e a ampliação da CAG, “que neste momento iria atender três edifícios e necessitava ser ampliada. O maior diferencial foi ajustar o fluxo de água e automação para atender todo o complexo. A utilização de bombas in-line, com sensorless na CAG, e utilização de válvulas independente de pressão para todos os fancoils e fancoletes”, diz Nóbrega.

Alguns desafios se colocaram para a empresa, nesse processo, segundo Nóbrega. Substituir o sistema de ar condicionado split no edifício Egas Muniz pelo sistema de água gelada com o edifício em funcionamento, foi um deles. Outro foi interligar a nova central de água gelada à central antiga e balancear as vazões de água para todos edifícios, inclusive os já em funcionamento.

“A primeira CAG foi um marco para o Hospital que possuía, naquela época, mais de 2.000 aparelhos de ar condicionado tipo janela e split. No ano de 2009, a Interplan projetou uma CAG moderna com três estágios de temperatura e geração de água quente que iria atender prioritariamente o edifício João de Deus, e já implementando um anel hidráulico contornando o complexo que futuramente, com a ampliação da CAG, poderia atender um total de quatro edifícios. O provedor Alberto Ferreira da Costa, em 2010, com sua visão futurista e arrojada, topou o desafio de realizar uma CAG que atenderia o novo edifício João de Deus e teria capacidade para atender mais dois prédios e, com a ampliação, poderia atender um total de cinco edifícios. Hoje, além do João de Deus, concluímos o Santo Antônio e a modernização do Egas Muniz, interligando o mesmo à central de água gelada. Já está prevista a interligação do Edifício RHC também à central de água gelada existente. O provedor Alberto Ferreira da Costa é um administrador moderno e com visão inovadora e futurista, sempre em busca de construir e modernizar o hospital com tecnologia de ponta, inclusive em climatização. Acredito que hoje é um dos hospitais com melhor sistema de climatização do Brasil”, finaliza o diretor da Comtel.

Ficha técnica: 

Projetista: Interplan Planejamento Térmico Integrado

Instalador: COMTEL Climatização

Integrador da automação: Logol

Chillers :  Carrier

Difusores: Trox

Fancoletes hospitalares: Trox

Bombas de água gelada: Armstrong

Variadores de frequência: Danfoss

Fancoils para tratamento do ar exterior: Trox

Fancoils de ar de recirculação: Trox

Válvulas: Danfoss

Ventiladores: BerlinerLuft

Controles e sensores: Johnson Controls

Tanques de pressurização: IMI – TA

Isolamento dos dutos: Armacell e Isover Saint Gobain

Isolamento da tubulação da água: Armacell e Epex

Sensores de CO2 (tipo e fabricante): Johnson Controls

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