Frente à pandemia da Covid-19, no que diz respeito aos sistemas de renovação do ar, alguns protocolos deverão ser definitivamente incorporados ao cotidiano das instalações. Os operadores e os proprietários de edificações devem avaliar os sistemas de ar-condicionado e entender se estão operando adequadamente, conforme projeto, e se são capazes de receber modificações para estratégias de mitigação, além de reparos para retornar à condição de operação de projeto.

Muitas instalações não estão operando adequadamente em relação ao projeto o que, em muitos casos – e que já resultaria em uma resposta inicial às crises – só estarem atendendo às normas de ventilação. Em resumo, um plano de preparação que garanta que o sistema instalado esteja em pleno funcionamento, ou seja, um bom PMOC e a avaliação do que precisa ser modificado neste sistema para que possa operar com taxas maiores de renovação de ar ou graus mais elevados de filtragens.

Em relação às taxas de renovação de ar para os diversos tipos de ocupação, alguns procedimentos passam a ser incorporados.

 Hospitais e estabelecimentos de saúde: Tomando como base os guias de preparação da ASHRAE para situações epidêmicas, observamos que, mais importante do que as taxas de renovação ou troca de ar nos ambientes, é ter um padrão de fluxo de ar limpo-para-sujo, de modo que o projeto de fluxo do ar renovado até a exaustão minimize ao máximo o tempo de presença do ar contaminado dentro do ambiente, sendo exaurido em pontos estratégicos. Além disso, a recomendação é que seja realizada a avaliação da instalação para aumentar ao máximo possível a quantidade de ar externo dentro da capacidade do sistema. Sistemas com maiores níveis de filtragem como MERV14 ou 16 podem permitir níveis de recirculação de ar interno maiores.

 Ambientes altamente adensados e enclausurados, como escolas, call centers, templos religiosos, cinemas e teatros, entre outros: Além de executar a purga do ar antes e depois da ocupação desses ambientes, conforme seus horários regulares, a orientação é verificar se os ambientes estão sendo adequadamente supridos de taxas de ventilação conforme a normatização vigente e, se possível, fornecer taxas de ventilação ainda maiores, respeitando a capacidade instalada do sistema, e utilizar filtragem mínima MERV13.

 Ambientes de alta concentração de pessoas, como shopping centers e aeroportos: Se aplicam as mesmas recomendações acima: utilizar taxas mínimas de ventilação e, se possível, maiores do que o recomendado pela norma, e filtros de maior eficiência sendo recomendado, no mínimo, um MERV13.

 Ambientes de trabalho e atendimento ao público, como escritórios e agências bancárias, entre outros: Se aplicam as mesmas recomendações, utilizar taxas mínimas de ventilação e se possível maiores do que o recomendado pela norma, e filtros de maior eficiência sendo no mínimo um MERV13 o recomendado.

O aumento das taxas de ar de renovação traz consigo um maior dispêndio energético. Para equacionar esta questão, tendo em vista a crise energética, existem soluções tecnológicas e de engenharia. Em relação à tecnologia de ventilação, como motores e atuadores, por exemplo, atualmente, temos à disposição ventiladores do tipo plug-fan e motores EC que têm se destacado em diversas aplicações. Vale ressaltar, entretanto, que os desafios logísticos do período pandêmico têm resultado em prazos de fornecimento bastante dilatados para estes produtos, em especial os motores eletrônicos.

Quanto às soluções de engenharia, uma forma bastante eficaz de realizar a renovação de ar é a utilização de unidades dedicadas de tratamento de ar externo. Em edificações onde a instalação deste tipo de solução é possível, podemos resolver problemas como falta de capacidade térmica e impossibilidade de filtragem fina devido à limitação dos ventiladores instalados. Já no que diz respeito aos recuperadores de energia, conforme a recomendação da ASHRAE, se há risco de contaminação e estivermos em situação epidêmica, é desativar os recuperadores de energia.

A automação pode contribuir para fornecer a quantidade adequada de ar externo de forma dinâmica, porém, o sistema de automação deve ser capaz de ir além do controle básico medindo particulado, compostos orgânicos voláteis, umidade, monóxido de carbono e outros e, com base nestas medições, tomar a decisão de quanto ar externo deverá ser admitido no ambiente. Não são muitos os sistemas de controle com toda essa capacidade e, sabendo disso, a ASHRAE recomenda que os controles de ventilação por demanda sejam desativados em período epidêmico. Entendo que, pelo fato de muitos destes controles serem simples por CO2 ou ocupação que não permite uma avaliação completa do ambiente, a redução da ventilação pode diminuir a efetividade do combate à contaminação.

Existe um conceito chamado taxa de renovação de ar equivalente. Basicamente, consiste em utilizar tecnologias de filtragem mais eficazes ou filtragem ativa como lâmpadas UV e peróxido de hidrogênio seco para obter resultados similares ao que se teria com taxas de renovação mais altas.

Do ponto de vista de redução da concentração de contaminantes este é o caminho a seguir: encontrar um balanço adequado para cada instalação entre maiores taxas de renovação de ar e dispositivos que limpem o ar de forma eficaz. Além das lâmpadas UV e do peróxido de hidrogênio seco, temos os filtros mecânicos em suas diversas eficiências de filtragem e a oxidação fotocatalítica como exemplos de tecnologias que podem contribuir significativamente para o aspecto da concentração de contaminantes no QAI. Por fim, abordagens já conhecidas como a utilização de unidades dedicadas de tratamento de ar externo podem ser uma boa solução, especialmente para as instalações que não possuem capacidade extra de resfriamento para lidar com estas taxas mais elevadas de ar externo.

Em relação à operação e manutenção de sistemas de climatização diante desta nova realidade, recomendo a elaboração de um bom PMOC, usando como referência os guias de preparação da ASHRAE para as características específicas da edificação a ser operada. Como mencionado inicialmente, muitas das instalações estão operando hoje aquém dos padrões recomendados e uma avaliação inicial seguida de uma correção para os padrões de projeto pode, em muitos casos, ser de grande valia. Melhor ainda se neste processo de correção forem implementadas estratégias e tecnologias novas que melhorem o QAI. Só então um novo PMOC atualizado será eficaz para manter este sistema atualizado.

Rafael Dutra é Supervisor de Engenharia de Aplicação da Trane

 

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