A percepção, pós-pandemia, é que há um conhecimento maior sobre a importância da qualidade do ar em ambientes internos, de modo que o assunto não é mais desconhecido. Porém, ainda temos muito espaço para conquistar. Infelizmente, em muitas instalações, a qualidade do ar não recebe os investimentos e a devida atenção e isso acaba tornando-a vítima de ações de reengenharia ou “otimizações” financeiras. Acredito que o nosso mercado ainda é muito pautado por regulação em formato de leis ou portarias e carece de uma forma efetiva de comunicação com o público geral para que a demanda por ambientes seguros e saudáveis seja um ponto não negociável. Portanto, não se pode achar que ganhamos muito espaço na consciência dos consumidores, pois, ainda há muita divulgação e conscientização a serem feitas.

Observo que a especificação de níveis de filtragem passiva mais elevados se tornou mais comum. Além disso, algumas soluções ativas estão sendo aplicadas com maior frequência do que no período anterior à pandemia. Porém, acredito que esse efeito é modesto e sofreu uma redução após a pandemia.

Certificações, normas e referências

Uma das certificações de referência para a QAI é a Well, do IWBI. Essa cerificação por performance elenca parâmetros e normas de referência para 10 áreas distintas que afetam o conforto humano, uma delas é a qualidade do ar interno. De forma geral, para a qualidade do ar existem quatro pré-requisitos e mais 10 otimizações com critérios específicos para ventilação, filtragem, mitigação de poluentes entre outros. A certificação Leed, embora voltada para a sustentabilidade da construção das edificações, também possui determinações para qualidade do ar com referência na Ashrae 62.1. A certificação Reset é focada exclusivamente em qualidade do ar interno e estabelece apenas metas de qualidade, sem definir como devem ser atingidas, dando liberdade para os proponentes. Além disso, ela exige recertificação periódica com verificação de performance.

A combinação da qualidade do ar com eficiência energética, inicia pelo projeto, especificando adequadamente as taxas de renovação do ar, níveis de filtragem e métodos de distribuição do ar seguindo as recomendações prescritas em normatização como a Ashrae 62.1 e NBR 7256 e NBR 16401 em suas versões mais recentes. Uma vez bem definido cada um destes parâmetros, eles devem ser adequadamente controlados e monitorados. O objetivo é operar os filtros até o nível de saturação economicamente adequado, ajustar as taxas de ar externo conforme a ocupação sempre que possível, e otimizar a distribuição de ar pelos ambientes utilizando os menores níveis de vazão e pressão para atender os ambientes sem renunciar ao conforto térmico. Por fim, a manutenção é fundamental para todos os componentes do sistema, em especial a automação. Sensores fora de calibração, dampers presos em posições inadequadas, vazamentos de ar em equipamentos e dutos, entre outros exemplos, são itens facilmente resolvidos por uma boa manutenção periódica e que irá trazer economia de energia significativa.

É muito importante compreender a localidade da instalação para entender quais contaminantes são esperados no ar externo e a possível geração nos ambientes internos. Com isso, é possível escolher quais as estratégias adequadas de mitigação desses contaminantes, como, por exemplo, níveis de filtragem, ar externo ou adoção de tecnologias de tratamento ativo do ar. Outra forma interessante é avaliar se, com níveis mais elevados de filtragem, o projeto consegue reduzir as taxas de ar externo sem prejudicar a qualidade do ar dos ambientes. Em linhas gerais, essa é a abordagem do procedimento de qualidade do ar da 62.1 e é uma alternativa ao procedimento de taxa de ventilação que pode ser avaliado como uma alternativa viável para economia de energia.

Recomendações quanto aos equipamentos

 Resfriadores de líquidos: Equipamentos de alta eficiência que utilizam a nova geração de fluidos refrigerantes de baixo impacto ambiental, com automação embarcada e capacidade de conectividade. São capazes de operar com vazão de água variável em seus trocadores.

Unidades de tratamento do ar: Equipamentos com certificações como, por exemplo, Ahri ou Eurovent, bem selecionados em termos de serpentina, ventilador e filtros para apresentar perdas de pressão otimizadas do lado do ar e da água, com boa performance de gabinete em termos térmicos, de rigidez e estanqueidade. Equipamentos conectados ao sistema de automação, operando com vazão de ar variável e válvulas de controle independente de pressão ou sistemas de bombeamento distribuído.

Bombas de água gelada e de água de condensação: Bombas com elevada eficiência energética, integradas ao sistema de automação e operando com vazão de água variável com otimização de setpoint de pressão. Uma alternativa de distribuição a se avaliar são os sistemas distribuídos que têm se mostrado promissores.

Ventiladores e exaustores: Ventiladores selecionados em pontos elevados de eficiência, motores de alta eficiência com variadores de frequência e, se possível, motores eletrônicos. Esses ventiladores devem operar ligados a sistemas de automação com vazão de ar variável que otimizem o setpoint de pressão de operação.

Sistemas de climatização são inerentemente dinâmicos e com um número elevado de pontos de controles ou dados. Em geral, os algoritmos embarcados dos sistemas de controles fazem um bom trabalho para manter o sistema em um ponto ótimo de eficiência, porém, existem limitações. Muitas oportunidades de economia são capturadas ao analisar essa massa de dados ao longo do tempo, além de desvios de condições esperadas de operação. Muitas dessas oportunidades se devem à degradação natural do sistema. Muitas outras, devido à intervenção humana na operação. Outras, ainda, são oportunidades perdidas na concepção original do projeto e que, com a validação dos dados, se torna possível demonstrar antecipadamente um benefício financeiro de um investimento.

Algumas tecnologias para QAI podem contribuir para a eficiência energética. Podemos citar lâmpada UV, filtros fotocatalíticos, dispositivos ionizantes e dispositivos que utilizam o peróxido de hidrogênio em baixas concentrações no próprio ambiente ocupado e que têm apresentado resultados bem expressivos. Vale ressaltar que ainda não há normatização de referência ou que estabeleça um parâmetro claro de performance que permita a comparação entre estas tecnologias de forma independente. Muito do que temos são testes laboratoriais dos próprios fabricantes e casos de sucesso em instalações específicas. Portanto, é fundamental a cautela na adoção de tecnologias e escolha criteriosa de fabricantes destes componentes.

Rafael Dutra, Coordenador de Aplicação da Trane

 

Veja também:

Com o esmorecimento da pandemia a preocupação sobrevive?

A importância das válvuas de controle para a manutenção da qualidade do ar

Debate sobre a qualidade do ar passa por amadurecimento

Válvulas e controles podem jogar papel decisivo para a manutenção da QAI

O ideal é encontrar o ponto certo entra QAI e eficiência energética

Tags:,

[fbcomments]