Após um período de, aproximadamente, 10 anos, a NBR 16 401 foi revisada e ampliada nas suas três partes. Destaco alguns pontos nos quais estive mais envolvido, e que considero boas contribuições para as futuras instalações de AVAC.
Na parte 1: Projeto das Instalações
1)Foram atualizados e ampliados os dados climáticos de cidades brasileiras, agora abarcando 52 localidades, superando as 34 anteriores, sendo organizados de forma didática, o que possibilita melhor assertividade nos cálculos feitos em projetos;
2)A metodologia para calcular vazamentos na rede de dutos foi atualizada;
3)Há uma seção explícita com orientações sobre o processo de Comissionamento de projetos e instalações;
4)As orientações sobre o conteúdo do projeto de instalações foram ampliadas, estabelecendo um detalhamento mais abrangente e rigoroso para os tópicos entregues em um projeto;
5) No item 4.7 Documentos de Entrega da Obra, está estabelecido que deve ser fornecido manual de operação e manutenção, com orientações para o usuário, contendo memorial descritivo, recomendações, esquemas e desenhos. E, uma novidade importante, é que “Deve ser instalada, junto aos comandos e controles da instalação, uma placa contendo informações principais para operação da instalação…”.Nesta placa o usuário/operador deve encontrar informações como: temperatura do ar, classes de filtragem, vazão de recirculação e vazão de ar exterior. Este é um importante avanço que pode ajudar a informar e educar os usuários e operadores.
Na Parte 2 – Parâmetros de conforto térmico, ocorreu uma profunda mudança. O grupo responsável pela proposta da revisão adotou a Norma Ashrae 55 e incluiu na proposta de parametrização do conforto térmico praticamente toda a metodologia da norma americana. Avalio que o nível de complexidade que está neste resultado deve exigir dos usuários da Norma esforço em conhecer mais profundamente os fatores que influenciam o conforto térmico. Acredito que esta parte da nova Norma traz significativo desafio para sua implantação
Na Parte 3 – Qualidade do ar interior tivemos grandes polêmicas durante o desenvolvimento do texto. Dois pontos foram significativamente modificados: parâmetros para determinação da vazão de ar exterior, utilizado para renovação, e classes de filtragem utilizadas em diferentes pontos do sistema de tratamento de ar.
A proposta de cálculo da vazão de ar exterior procurou estabelecer um modelo híbrido entre a proposta da norma Ashrae 62.1 (Ventilation for IAQ) e cálculos que consideram efeitos relacionados à produção de CO2 pelos ocupantes dos ambientes e à concentração deste gás no ar exterior.
Neste ponto, da determinação da vazão de ar exterior, a mistura destes dois métodos assumiu equacionamentos e modelos da norma americana 62.1 de modo desvinculado ao tipo de sistema que estava previsto originalmente. Resultados com vazões exageradas, muito desproporcionais a valores de outras referências, podem ser obtidos em alguns casos de aplicação das equações. Estes problemas foram identificados quando do uso de determinados equacionamentos e estão sendo discutidos pela Comissão de Estudos da ABNT responsável pela revisão. Na reunião da Comissão, realizada em abril de 2025, foi decidido que nas próximas reuniões o processo de revisão da parte 3 será reaberto. Espera-se que um novo texto seja submetido a aprovado para estes itens até meados do segundo semestre do corrente ano.
Condições de conforto
As condições de conforto estabelecidas na parte 2 da Norma estão apresentadas por dois métodos, cada um deles relacionado às condições de velocidade do ar na zona ocupada. O primeiro método, e principal, definido para velocidades do ar menores que 0,2 m/s na zona de ocupação, é chamado Método da zona analítica de conforto térmico e propõe o uso de um programa de computador para calcular as condições de conforto em função de parâmetros e premissas relacionados ao ambiente e aos ocupantes. A condição de conforto pode ser apresentada de forma gráfica, resultante do processamento computacional, em formato similar a uma carta psicrométrica, mas que tem a temperatura de bulbo seco trocada pela temperatura operativa.
Neste gráfico pode-se identificar um intervalo de temperatura operativa e de umidade relativa em que ocupantes com determinado tipo de roupa, realizando atividades com metabolismo definido, podem sentir-se confortáveis.
Na versão atual não existe um único limite de velocidade do ar, pois a parte 2 da Norma propõe que sejam calculadas condições de conforto por dois métodos, um para velocidades abaixo de 0,2 m/s e outro para velocidades maiores que 0,2 m/s na zona ocupada. Assim,é possível adotar velocidades, para o ar na zona ocupada, maiores que na versão anterior da norma, mas, para obter a condições de conforto neste caso, é preciso dar atenção para os outros parâmetros envolvidos.
Filtragem do ar
A filtragem para o ar deve ser estabelecida atendendo a requisitos da parte 3 da Norma, que utiliza como referência o que está estabelecido na nova norma de especificação de filtros, a NBR ISO 16.890. O foco está no controle da concentração do particulado fino identificado como PM2,5. Não existe solução única, ou seja, as soluções possíveis podem ser resultado da combinação de processos de filtragem que podem ocorrer em até três pontos do sistema de tratamento de ar: no ar exterior, no ar recirculado que será misturado com o ar exterior, e no ar de mistura que será tratado termicamente na serpentina. A combinação de dois ou mais filtros e os valores de vazão de ar que atravessam cada etapa do tratamento de ar devem ser considerados para prever o resultado em termos de concentração de particulado PM2,5. As condições do ar exterior também influenciam os resultados destes processos. No seu Anexo B, da parte3, a norma considera que a concentração limite para este particulado PM2,5 não deve estar acima de 25 µg/m3 (microgramas por metro cúbico) calculada como média de 24 horas.
Os fabricantes de sistemas e equipamentos devem evoluir no sentido de possibilitarque este padrão de QAI seja alcançado. Um desafio importante surge quando o ar exterior está muito poluído por condições climáticas adversas ou por geração de poluentes com grande intensidade, como ocorrido recentemente com incêndios e queimadas. Sistemas que permitam filtrar suficientemente o ar exterior podem possibilitar que o ambiente interior mantenha a saúde dos seus ocupantes de modo mais eficiente que os ambientes exteriores com altas taxas de concentração de poluentes.

Antonio Luís de Campos Mariani, é professor doutor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli USP), e coordenador do LEQAI – Laboratório de Estudos da Qualidade do Ar Interior nesta instituição.