Norma, que passou por revisão, estabelece os requisitos mínimos para projetos de instalações de tratamento do ar
As instalações de conforto são regidas pela norma ABNT 16401 partes 1, 2 e 3 de 19/11/2024 destinada ao estabelecimento de parâmetros básicos e requisitos de projeto para sistemas de condicionamento de ar centrais e unitários. As instalações hospitalares são pautadas pela norma ABNT NBR 7256 de 31/10/2022 que estabelece os requisitos mínimos para projetos de instalações de tratamento de ar em estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS).
Na concepção de um projeto de AVAC hospitalar, primeiramente, é necessária a leitura da norma ABNT NBR 7256 para compreensão das especificidades apresentadas nos textos e nas tabelas. A seguir, classificar os ambientes do projeto segundo as tabelasA.1 a A.7. Certamente nem todos os ambientes hospitalares encontram-se nas citadas tabelas. Haverá necessidade de adequações buscando nos diversos itens a aplicação de ambientes com similaridade.
Estratégias para a eficiência energética
Podemos considerar que os sistemas de ar-condicionado, ventilação e exaustão mecânica nos hospitais são responsáveis por 60% a 70% da conta de energia elétrica. A renovação de ar exterior é responsável de 30% a 50% da carga térmica. Então,devem ser adotados sistemas de recuperação de calor com DOAS (dedicated outdoor air systems) equipadas com rodas e trocadores de calor entalpicos, quando possível. De forma similar, a aplicação dos sistemas wrap around e runaround com serpentinas interligadas hidraulicamente de forma adequada podem trazer grandes benefícios de eficiência energética. Fruto da elevada carga térmica da renovação de ar, recomendamos que seja projetado um sistema exclusivo ao tratamento do ar exterior. A correta seleção dos diversos equipamentos irá trazer muitos benefícios na economia de energia elétrica.
O equipamento que ocupa maior espaço nos projetos das casas de máquinas hospitalares são as UTAS (unidades de tratamento de ar). Quando equipadas com filtros finos, serpentinas de água gelada ou DX, serpentinas de água quente e, eventualmente, quando necessário filtros HEPA, as dimensões são bastante significativas, e fruto de questionamento por parte dos escritórios de arquitetura. Os fabricantes sensíveis à questão já estão produzindo UTAS verticais com área de piso reduzida e máquinas de baixo perfil para aplicação sobre o forro.
Especificidades da climatização hospitalar
Sempre que desenvolvo um projeto hospitalar me coloco na posição de usuário, seja na sala cirúrgica, na enfermaria ou mesmo no setor de oncologia. Estamos tratando do bem mais precioso que é a vida humana. Sempre devemos buscar atender a todos os princípios normativos de forma a garantir não somente a qualidade do ar, temperatura e umidade relativa do ar, renovação e movimentação de pressão, pressão diferencial entre ambientes, mas, também,o nível sonoro e a redução na intervenção de manutenção preventiva e corretiva nos equipamentos, além, é obvio, da eficiência energética.
A Norma 7256 promoveu o desenvolvimento de novos equipamentos, principalmente no que se refere à aplicação de filtros finos e HEPA. Os grandes fabricantes de VRF e VRV buscaram associações com empresas desenvolvedoras de UTAS promovendo, desta forma, a aplicação das unidades condensadoras em estabelecimentos hospitalares de pequeno, médio e largo porte.
Vigas frias
Considero a aplicação de vigas frias a cereja do bolo para as instalações hospitalares. Sempre afirmo que na conta do Capex deverá ser levado em consideração e valorados os seguintes aspectos:
– Quanto vale o silêncio em uma UTI ou enfermaria? As vigas não possuem peças moveis;
– Quanto vale a qualidade do ar? As vigas frias não possuem bandeja de condensado e tampouco formam biofilme de algas, bactérias e fungos nas suas serpentinas que operam secas;
– Quanto vale a inexistência de manutenção no quarto/enfermaria do paciente? Nas vigas frias não há troca de filtros, limpeza de serpentina, substituição de motor elétrico, ventilador, mancal ou rolamentos;
– Sendo as serpentinas secas, não há ponto de drenagem para instalação e manutenção;
– Não sendo equipadas com motores elétricos, não há necessidade de interligações elétricas e quadros elétricos com dispositivos de proteção.
Já existem instalações de vigas frias em hospitais no Brasil e no mundo que comprovam a viabilidade de sua aplicação.
Economia de espaço
Temos dois gargalos na questão de espaço em instalações de ar-condicionado nos hospitais. O primeiro é a altura entre forro. Os dutos ocupam muito espaço e sempre exigem no mínimo 400 mm de altura. A solução com vigas frias, tetos radiantes, hidrônicos, evaporadores DX, podem reduzir a altura do entreforro já que os dutos a serem aplicados seriam somente os de renovação de ar e sistemas de ventilação e exaustão. O segundo são as casas de máquinas. O metro quadrado de área de piso em um hospital é de elevado valor. Neste caso, apelamos para empilhamento de máquinas, e UTAS verticais de forma a ocupar a menor área possível. As centrais de água gelada e água quente usualmente são deslocadas para a cobertura dos empreendimentos.
Atualmente,quando estamos dando os primeiros passos com a presença da IA em nossas vidas, os sistemas de automação são indispensáveis nos projetos de ar-condicionado hospitalar. A presença dos diversos acessórios – sensores, transdutores, pressostatos e tantos outros dispositivos – possibilitam melhor controle das grandezas térmicas e de pressão nos diversos ambientes, além de colaborar significativamente com os procedimentos de manutenção.
Contaminação cruzada
Este é um problema muito sério e os projetos de ar-condicionado devem ser desenvolvidos com especial atenção a este item. O controle de pressão entre os diversos ambientes é de vital importância, pois, quando inadequadamente projetados, podem promover o deslocamento de ar contaminado de área suja para ambientes limpos e com maiores exigências sépticas. Recomendo a leitura do item 7 da norma 7256. Importante a não utilização de retorno de ar em plenuns sobre o forro, e tampouco projetar rede de dutos de exaustão atravessando ambientes de níveis de risco 2 e 3. A aplicação de tecnologias com lâmpadas ultravioletas pode contribuir de forma positiva na eliminação do biofilme formadonas serpentinas desumidificadoras.
São muitos os fatores que devem ser observados no desenvolvimento de um projeto de ar-condicionado de forma a contribuir com a redução da contaminação hospitalar. Primeiramente, a correta aplicação dos sistemas de filtragem, o controle de pressão entre os diversos ambientes, a correta aplicação da renovação de ar, promover a movimentação de ar e a filtragem de forma correta, e a manutenção da temperatura e umidade relativa do ar nos níveis estabelecidos pela norma brasileira.
Principais alterações na última revisão da NBR 7256
– Filtragem: o nível de exigência agora é muito maior, mas está contribuindo de forma significativa para a qualidade do ar interno. Em torno de 80% dos ambientes citados na Norma devem ser atendidos por filtros finos e filtros HEPA.
– Pressões entre ambientes:as tabelas A.1 a A.7 estabeleceram os critérios de pressões para todos os ambientes o que tem contribuído de forma significativa no controle da contaminação hospitalar.
– Uso de ar externo:da mesma forma, as tabelas prescrevem a vazão mínima de ar exterior promovendo a qualidade do ar interno.
– Sistemas de exaustão: as tabelas apontam em todos os ambientes o critério de exaustão total de todos os ambientes normativos. Podemos encontrar informações importantes no item 7.3 que trata de exaustão de ar de expurgo, item 11.4.2 para descargas de exaustão, e item 11.5.2, para dutos de exaustão

Mário Sérgio de Almeida é engenheiro mecânico, consultor e projetista de sistemas de AVAC-R e diretor da MSA Projetos de Engenharia Ltda
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