Sistemas de climatização em estabelecimentos assistenciais de saúde demandam não só a garantia de qualidade do ar interno e de conforto térmico, mas, principalmente, o controle rigoroso de vários parâmetros que visam a atender a preservação da saúde e da vida de pacientes e pessoal médico hospitalar, particularmente temperatura e umidade. Também a estanqueidade entre os diversos ambientes é fundamental. Para atingir tais condições, são necessários projeto meticuloso, instalação que respeite as normas e condições estabelecidas em projeto e equipamentos de alta performance. Para esclarecer esses aspectos, conversamos, por email, com Gustavo Hoffman, engenheiro de aplicação da Midea Carrier. A conversa pode ser conferida abaixo.
Abrava+Climatização & Refrigeração:O que diferencia uma instalação hospitalar em relação às instalações de conforto?
Gustavo Hoffman: De uma forma geral, diferente de ambientes comerciais e residenciais, instalações hospitalares exigem controle mais rigoroso de temperatura, umidade e da qualidade do ar com sistemas de pressurização, renovação e filtragem para prevenir infecções, preservar a segurança dos pacientes e garantir a integridade de procedimentos médicos.
O sistema também deve ser estável e confiável, pois não pode apresentar falhas de funcionamento, especialmente em áreas mais sensíveis como unidades de terapia intensiva e salas de cirurgia.
A+CR:Quais os vários elementos a levar em conta num projeto de AVAC hospitalar?
GH:É preciso considerar a classificação dos ambientes conforme criticidade, controle de temperatura e umidade, controle de contaminação (inclusive particulados), número de trocas de ar, pressão relativa entre salas, filtragem (inclusive HEPA), facilidade de manutenção e outros aspectos operacionais.O correto dimensionamento e escolha do tipo de sistema faz diferença para atender as necessidades deste tipo de projeto. Conforme as características dos ambientes atendidos, é possível aplicar sistemas de água gelada, com chillers, Unidades de Tratamento de Ar (UTAs) com vazão e filtragem adequadas e fancoils projetados para estas aplicações.Também é possível aplicar sistemas de expansão direta, normalmente quando a complexidade do projeto for menor, principalmente equipamentos do tipo splitão e/ou VRF que compartam filtragens mais eficientes (médias e finas).
A+CR:Hospitais são grandes consumidores de energia; quais as estratégias cabíveis para a eficiência energética em instalações desse tipo?
GH:Equipamentos de alto rendimento que possuem excelente eficiência energética, ou seja, consomem o mínimo de energia elétrica para estarem funcionando. Automação inteligente com sensores de presença e até mesmo segmentação de sistemas para que operem sob demanda são enormes aliados para climatizações cada vez mais sustentáveis do ponto de vista energético.
Como áreas hospitalares usualmente exigem filtragens mais finas, o consumo de energia dos ventiladores das UTAs pode acabar sendomaior do que equipamentos convencionais de conforto. Uma estratégia neste caso é trabalhar com ventiladores de alta eficiência, com ou sem variação de vazão (conforme projeto).
A+CR: Como tornar essas instalações mais compactas e eficientes?
GH:Por meio da otimização do layout técnico como centralização de equipamentos e integração de funções em menos equipamentos. A própria escolha de equipamentos com menor área de piso e maior capacidade por equipamento, traz uma escolha interessante no que diz respeito a instalações mais compactas. Nós temos linhas de equipamentos que foram desenvolvidas buscando a menor área de piso possível, com o máximo rendimento e eficiência.
É importante salientar que, mesmo com áreas mais compactas, é necessário que exista uma integração das equipes responsáveis pela implementação do sistema de AVAC com outras disciplinas das construções para verificar pontos importantes na instalação. Por exemplo, para garantir que o local de instalação de um equipamento com condensação a ar possua uma boa ventilação, o que irá garantir a máxima eficiência do equipamento proposto. Ainda, quando possível, vale estudar como centralizar sistemas de edificações diferentes, buscando otimizar espaço.
A+CR: Quais as respostas a cada uma das preocupações acima expostas?
GH:Quando pensamos em sistemas de AVAC hospitalares, falamos de conjuntos de grande capacidade, que operam 24h por dia, 7 dias por semana.Então, quanto menos energia os sistemas consumirem para atender a necessidade de climatização do hospital, melhor. Aqui, vale considerar sistemas eficientes com tecnologia inverter, de altíssima eficiência energética com equipamentos de até 500TR de capacidade. Além disso, sistemas de recuperação de energia são muito bem-vindos, tanto para geração de água quente no próprio chiller, quanto para a utilização de recuperadores de calor nos sistemas de ventilação. Também, sistemas de automação que ajustem a operação dos equipamentosde acordo com os parâmetros do próprio hospital e com parâmetros externos de temperatura e umidade. Hoje, existem sistemas de automação que utilizam a própria previsão do tempo para ajustar o melhor ponto de operação dos equipamentos de AVAC.
A utilização de sistemas centralizados de maior capacidade, que distribuem água gelada pelo edifício ou conjunto de edifícios que compõem o hospital, tornam a área utilizada menor e facilitam a operação. Ainda, equipamentos de baixa altura, como os fancoletes hospitalares 42BHA, podem ser aplicados diretamente no entreforro de alguns ambientes, diminuindo a utilização de casa de máquinas.
Em relação a segurança, podemos pensar principalmente em questões sanitárias que evitam a transmissão e contaminação de pessoas nos ambientes internos dos hospitais. Desta forma, a correta aplicação de filtragem, atendendo os requisitos das normas vigentes é primordial. Ainda, o controle de temperatura e umidade é vital para garantir um ambiente saudável a todos que compartilham o ambiente interno hospitalar.
É de extrema importância ter sistemas com redundância e manutenção facilitada pelo projeto, com planos de manutenção bem elaborados e seguidos por empresas e profissionais qualificados. No quesito de equipamentos, é importante que sejam aplicados equipamentos com projetos robustos, com componentes de qualidade e que garantam muitas horas de operação entre manutenções.
A+CR: Por que os sistemas de AVAC hospitalar são especiais?
GH:Porque são parte crítica da segurança do paciente, exigem operação contínua e estável e têm impacto direto no controle de infecções, além de estarem sujeitos a normas técnicas mais rigorosas. Por isso, precisam operar com alta confiabilidade.
A+CR: Como os fabricantes se adequaram às necessidades especiais das instalações hospitalares, por um lado, e da 7256 de uma maneira geral?
GH:Adaptando produtos específicos para o setor hospitalar: utilizando filtragem aprimorada, materiais antimicrobianos, controle preciso de vazão e umidade e design orientado à manutenção e higienização.É necessário manter a equipede produto da empresasempre atenta a novos estudos e normas que buscam aperfeiçoar o setor e garantir mais segurança aos usuários finais. Ainda, com o corpo de engenharia, buscamos desenvolver ideias e novas tendências para melhorar cada vez mais as instalações e operações.
A+CR:Quais equipamentos a sua empresa desenvolveu para atender às novas demandas de hospitais?
GH:Nossa empresa atua no segmento hospitalar há muitos anos, portanto,aperfeiçoamos os equipamentos da linha e complementamos com novos produtos.
Como destaque podemos citar o fancolete hospitalar 42BHA, que é um modelo compacto de alto desempenho, com baixo nível de ruído, design diferenciado e a confiabilidade Carrier. Desenvolvido para uma elevada eficiência em troca térmica, o 42BHA é a solução ideal para ambientes que requerem eficiência, confiabilidade e elevado nível de filtragem, em condições operacionais reais. O 42BHA vai de 1 a 3 TR, utiliza ventiladores com motor EC de alta eficiência, podendo ser instalado com água gelada ou expansão direta. Ainda possui opcionais para controle de umidade, válvula integrada,lâmpada UV-C e controle integrado Carrier.
A+CR:Quais as soluções mais eficientes para economizar espaços em instalações hospitalares?
GH:Uso de UTAs compactas, shafts multifuncionais, equipamentos integrados (como fan coils com filtragem elevada), centralização de centrais de água gelada (com o uso de equipamentos de área de piso reduzida) e sistemas de distribuição de ar por tetos, que liberam área útil.
A+CR:Por que a automação, em particular, ganha relevância em instalações hospitalares?
GH:A automação é uma grande aliada para garantir a eficiência de funcionamento dos equipamentos porque permite o monitoramento contínuo e em tempo real de múltiplas variáveis que impactam na climatização. São variáveis ambientais, de condições críticas, alertas de falha, ajuste dinâmico conforme ocupação e até redução de consumo energético sem comprometer a segurança sanitária e a qualidade do ar circulante.
A+CR:Quais as estratégias para evitar a contaminação cruzada em hospitais e, particularmente, a formação do biofilme em serpentinas?
GH:As UTAs em hospitais devem ter tratamento adequado, receber manutenção preventiva periódica, fazer controle de umidade, evitar recirculação de ar em áreas críticas e segregação por pressão entre ambientes, além do uso de revestimentos antiaderentes eaplicação de lâmpadas UV-C para prevenir o acúmulo de biofilmes em serpentinas.
A+CR: Quais as estratégias mais eficazes para tornar o AVAC um instrumento de combate à contaminação hospitalar?
GH:Pode parecer óbvio, mas precisa ser dito. A principal estratégia para ter um sistema de AVAC como instrumento de combate à contaminação é um projeto bem-feito, seguindo as normas vigentes, uma instalação adequada e equipamentos que efetivamente atendam estes projetos.
O sistema precisa agir como uma barreira protetora, o que se dá por meio da pressurização correta, filtragem adequada para cada ambiente, renovação em taxas controladas, controle de umidade e temperatura, exaustão controlada e ausência de recirculação em áreas críticas.
Veja também:
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Diretrizes da NBR 7256 para hospitais e estabelecimentos assistenciais de saúde
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