Na luta contra as doenças transmitidas pelo ar, como é o caso da Covid-19, faz-se necessário que, além da renovação do ar, os ambientes estejam protegidos por sistemas eficientes de filtração com o objetivo de reduzir a concentração de material particulado, em especial o PM 2,5. Para falar a respeito, conversamos com três profissionais do mercado: Wili Colozza Hoffmann, diretor técnico da Anthares e uma das principais referências no assunto; Vinícius M. Fernandes, da área de desenvolvimento da Aeroglass Brasileira; e Isaias Almeida, da AAF Flanders.

Quais os requisitos mínimos exigidos de filtros para cada tipo de aplicação?

Hoffmann: Para doenças que podem ser transmitidas pelo ar, entre elas a Covid-19, é desejável que, além da renovação de ar externo, os ambientes tenham baixas concentrações de material particulado (MP) em suspensão. Principalmente o PM 2,5, que é a faixa das partículas menores e que permanecem em suspensão por tempo maior. Estatisticamente, quanto menor esta concentração, menor será a possibilidade de contaminação, porém, ainda carecemos de estudos mais detalhados para entender qual é a relação entre concentração e contaminação para as escolhas mais eficientes e efetivas.

Os filtros disponíveis no mercado, se adequadamente selecionados, são eficientes para este controle, sejam instalados nos sistemas de climatização ou em sistemas de purificação de ar com recirculação no ambiente. São necessários filtros com boa eficiência para PM2,5, tanto no sistema de ar externo como no de recirculação/climatização; dessa forma, os ambientes ocupados se tornam mais seguros.

Fernandes: Os requisitos mínimos para filtragem do ar estão vinculados ao uso do ambiente e devem atender especificações presentes em normas técnicas referentes ao assunto. Deve-se sempre respeitar as especificações da qualidade do ar interior de acordo com normas técnicas para tal.

Almeida: Para cada aplicação existem peculiaridades que devem ser levadas em consideração na escolha dos níveis de filtragem que devem ser empregados no sistema de ventilação. A EUROVENT 4/23/2017 traz algumas recomendações dos níveis mínimos, ou seja, sempre considerando como filtragem final que cada ambiente deve ter. Vale a pena ressaltar que devido a incêndios florestais e outros eventos inesperados, recomendamos exceder as eficiências para garantir proteções adequadas se as condições piorarem.

Como dimensionar corretamente um sistema de filtros para a manutenção da qualidade do ar interior?

 Hoffmann: Na norma NBR 16401-3, em fase de revisão, está sendo proposta uma metodologia de cálculo da concentração de material particulado PM2,5 levando-se em conta a geração de material particulado interno, concentração externa, vazões de recirculação e de ar externo para que seja possível estimar a concentração de material particulado. Entendo que esta metodologia poderá trazer alguma luz para os engenheiros nas escolhas adequadas dos filtros.

Fernandes: O sistema de filtragem deve levar em consideração algumas especificações, dentre elas a principal é a qualidade do ar necessária no ambiente. Com esta definição, é importante dimensionar parâmetros técnicos de vazão e perda de carga no sistema, evitando que ele apresente problemas em seu funcionamento. Além do correto dimensionamento, é necessária a utilização de manômetros para as leituras de perda de cargas no sistema, desta forma é possível acompanhar a vida útil do filtro, realizando as trocas seguindo as indicações dos fabricantes.

Almeida: Os passos para dimensionar corretamente um sistema de filtros para manutenção da qualidade do ar interior são: 1)Definição da vazão de ar através do número de trocas de ar estipulado pelo ambiente em questão; 2) Exigir que os filtros possuam seus certificados de eficiência comprovada; 3) Selecionar filtros que atendam o projeto de AVCA; 4) Realizar a troca dos filtros conforme recomendação do fabricante;5) Verificar equipamento de ventilação, vedação de portas e dutos etc.

Como conciliar eficiência na filtração com o menor consumo possível de energia dos equipamentos?

 Hoffmann: Filtros mais eficientes muitas vezes inserem maior resistência na passagem do ar provocando um consumo de energia maior. Mas os engenheiros devem utilizar recursos de engenharia para mitigar este efeito, utilizando filtros com maior área de filtragem ou ainda ventiladores mais eficientes, entre outros.

Fernandes: A correta determinação dos filtros e suas classes de filtragem são de grande importância para a eficiência enérgica no sistema. Filtros de ar têm como objetivo a retenção de partículas suspensas no ar, e é este acúmulo que irá gerar a resistência e perda de carga, demandando maior esforço do sistema. A utilização de filtros de ar com eficiência superior à necessária, fará com que o sistema tenha que trabalhar com perda de carga maior e aumento de custo de energia, podendo gerar outros problemas relacionados à manutenção.

Almeida: Essa tem sido a preocupação de muitas empresas que estão preocupadas com o futuro do planeta. Além dessa preocupação, o custo da energia só aumenta, fazendo com que o mercado busque máquina e produtos que sejam mais eficientes do ponto de vista do consumo de energia.

Como definir o que é um filtro de alta eficiência?

 Hoffmann: Na maioria das instalações de conforto se consegue concentrações seguras de material particulado com filtros médios e finos. Sabe-se que partículas muito pequenas, que é o caso dos vírus individualmente, tendem a se aglomerar e formar partículas maiores, por isso, não há a necessidade de filtros de alta eficiência para seu controle, bastando filtros médios e finos.

Fernandes: Filtros de ar têm a aferição de eficiência conforme a norma ABNT ISO 16890 e os filtros absolutos conforme a norma ABNT ISO 29463-1.

Almeida: Um filtro de alta eficiência pode ser definido seguindo os seguintes aspectos: a) atender as normas vigentes para garantir que ele realmente passou nos testes; b) performance consistente atendendo as especificações técnicas, resistência mecânica coerente e previsibilidade; c) baixo custo de operação, levando em conta a vida útil do filtro.

Como delimitar a melhor relação custo-benefício na especificação de um sistema de filtração do ar?

 Fernandes: A escolha do filtro e de sua classe de filtragem deve ser realizada sempre por um especialista. A utilização de um filtro com eficiência superior à necessária irá gerar custos de operação elevados e, além da correta determinação de filtro e classe de filtragem, o usuário deve sempre seguir as recomendações do fabricante em relação à perda de carga final do produto, evitando uso saturado do filtro e possíveis problemas como ruptura no elemento filtrante.

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