Passados um ano e meio da aprovação da Emenda de Kigali, é possível ver como reagem países e indústrias aos esforços pela redução do aquecimento global. A União Europeia coloca-se além do preconizado pelo Protocolo de Montreal. Em compensação, governos de países como os Estados Unidos e Brasil, chegam a ter uma atitude hostil à emenda.

“Os governos de cada país estão avaliando, dentro de suas realidades de indústria e de mercado, os melhores caminhos para a mudança, enquanto outros já definiram uma estratégia de transição, priorizando segmentos onde soluções estejam disponíveis do ponto de vista técnico e econômico. Alguns países como os da Europa Ocidental já possuíam marcos regulatórios locais que antecipavam as metas do acordo da Emenda de Kigali e, por isso, a transição acaba se tornando muito mais tranquila. Outros países ainda dependem de uma ratificação do acordo no âmbito legislativo local, como é o caso do Brasil, onde a lei que define os compromissos da Emenda de Kigali ainda tramita no Congresso Nacional”, afirmam os representantes da Chemours, Arthur Ngai, gerente de marketing Latino América, e Joana Canozzi, líder de desenvolvimento de negócios e suporte técnico de fluorquímicos.

Ambos destacam os fóruns de discussão promovidos por agências ambientais e organismo multilaterais para o debate sobre as soluções alternativas. “Destacamos também várias ações voluntárias que buscam incentivar a discussão técnica sobre formas e boas práticas que ajudam a redução do impacto sobre as mudanças climáticas. Um bom exemplo disso é o Acordo Ambiental de São Paulo, promovido pelo Governo do Estado de São Paulo por meio da CETESB, que visa incentivar empresas a assumirem compromissos de redução de emissão de gases de efeito estufa. As empresas que assumirem o compromisso e implementarem as práticas recomendadas com certeza já estarão preparadas para o marco regulatório que está por vir.”

Luciano de Almeida Marcato, gerente comercial da Daikin, afirma que a empresa promove seminários e encontros com governos e organizações multilaterais para o desenvolvimento sustentável com a aplicação de tecnologia e boas práticas. Ele cita o Konwakai, realizado em janeiro último no Brasil, que contabilizou a presença de diversos segmentos da indústria, governo e associações para discutir o uso e disseminação de políticas e tecnologias com menor impacto sócio ambiental.

“O foco tem sido disponibilizar produtos com menor impacto ambiental, tanto em eficiência quanto no uso de fluidos refrigerantes de baixo GWP. A empresa colocou tal tema como a sua meta de desenvolvimento sustentável com os 5 pilares: Edificações NET Zero, com foco em eficiência energética; produção e consumo sustentáveis; combate ao aquecimento global, aumentando o uso de tecnologia Inverter; produtos com fluidos de baixo GWP; e tecnologias de bomba calor para aplicação residencial, comercial e industrial, bem como a garantia de ambientes mais saudáveis, livres de poluição e contaminantes químicos e biológicos, garantindo aumento de produtividade e qualidade de vida nos ambientes”, diz Marcato.

Ressaltando que não existe uma única solução para as respostas cobradas por Kigali, os representantes da Chemours apontam para a necessidade um debate técnico e aprofundado em que o papel dos especialistas do setor será crítico para avaliar a melhor solução para cada aplicação. “Já é unânime dentro dos grupos técnicos de discussão que a solução viável para uma determinada aplicação não é apenas aquela que mede o impacto direto sobre o meio ambiente (GWP, por exemplo). O peso do impacto indireto, que inclui o consumo de energia, pode ser muito mais relevante, o que requer uma análise mais integrada da aplicação.”

Refrigeração industrial e comercial

Na refrigeração industrial, Ngai e Canozzi lembram que a sustentabilidade ambiental e a melhora contínua da eficiência energética e operacional são elementos críticos para a sobrevivência da empresa. “Em adição a esses requisitos, vemos como tendência a necessidade constante do monitoramento da segurança das operações. Muitas indústrias estão sendo engolidas pelas cidades e as operações passam a oferecer alguns riscos à comunidade se não forem bem administradas. Nossa empresa tem recebido consultas crescentes sobre alternativas de fluido refrigerante de baixo impacto ambiental e que ofereçam maior segurança, pois soluções de fluidos refrigerantes, como amônia ou mesmo hidrocarboneto, em grande quantidade podem se tornar perigosas para a população vizinha.”

Pelas características do mercado brasileiro de refrigeração comercial, os representantes da Chemours enxergam uma oportunidade para uma mudança mais acelerada por alternativas de menor impacto ambiental. “Já existem soluções simples e práticas que permitem a conversão de sistemas tradicionais com HCFC (R-22) e HFC (R-404A) para soluções mais sustentáveis e ainda assim melhorar a eficiência do sistema. O alto custo de energia do Brasil faz com que alternativas como mesclas de HFC/HFO (R-449A, por exemplo), que são mais eficientes e possuem menor impacto direto, se tornem viáveis”, dizem eles.

O argumento central é que as mesclas de HFC/HFO possuem características similares aos HFC, inclusive na questão da segurança e manuseio, permitindo que as práticas adotadas para o HFC sejam as mesmas. “A experiência nos milhares de casos realizados no mundo é de que essas conversões puderam reduzir o consumo de energia em até 12%, preservando as características e capacidades do sistema. Várias redes de supermercados no Brasil, como Saint Marché, ABC, Centerbox, Jaú Serve, entre outras, já realizaram essa conversão com sucesso e contribuíram de forma significativa para a redução na emissão de gases efeito estufa em 67%, quando eliminado o R404A, e 27% quando convertido um sistema de R22”, diz Ngai.

Também é valido comentar que soluções de baixíssimo GWP já estão sendo oferecidas de forma mais ampla em países onde as diretrizes regulatórias estejam mais restritivas, ou de forma inovadora para empresas que querem avançar mais rapidamente em seus compromissos de redução da emissão de gases de efeito estufa. No Brasil, onde a legislação ainda não restringe o uso de HFC, já contamos com algumas empresas adotando essas soluções, como, por exemplo, o R-454C (GWP 148), que as ajudaram a atingirem metas de sustentabilidade de forma acelerada e mais agressiva”, completa Canozzi.

Mostrando a diversidade de soluções, James Angelini, diretor da Apema, fornecedora de condensadores e evaporadores para refrigeração, diz que “a maioria dos fabricantes de máquinas de refrigeração solicitam equipamentos para operar com R-410, entretanto, sabemos que muitos ainda utilizam para gases R-22, devido à menor pressão de operação. Nossos condensadores e evaporadores são projetados para operar com qualquer tipo de gás refrigerante”, afirma.

Ar-condicionado

Tanto para sistemas de expansão direta quanto indireta, as tendências no ar-condicionado estão pautadas pela busca de uma alternativa ambientalmente sustentável e com melhor eficiência energética para a substituição dos fluidos HFC.

“Em um primeiro momento, provavelmente veremos diferentes alternativas para diferentes aplicações de AC. Os fabricantes estão avaliando as alternativas disponíveis, observando critérios como segurança, performance e custos.  Mesmo em países onde a regulamentação já restringe o uso de HFC, diferentes alternativas estão sendo disponibilizadas às vezes para a mesma aplicação”, explica Ngai.

“Além dos critérios como GWP, eficiência energética e segurança, uma variável importante a ser considerada está no Custo Total de Propriedade do sistema, que inclui o custo de aquisição de um ar-condicionado, custos operacionais e de manutenção. O melhor balanço de todas essas variáveis definirá a alternativa adequada para cada aplicação. Muitas vezes, por uma diferença pequena no Custo Total de Propriedade, o mercado poderá adotar uma solução do ponto de vista ambiental mais sustentável e de longo prazo”, acrescenta Canozzi.

A Chemours, segundo seus representantes, tem acompanhado e apoiado tecnicamente o desenvolvimento de fabricantes de equipamentos e componentes, como compressores, condensadores, evaporadores e válvulas de expansão. “Estamos em um momento em que os marcos regulatórios em todos os países têm impulsionado os lançamentos e a introdução de novos produtos e tecnologias. Para as empresas que buscam inovação, eficiência e sustentabilidade, o mercado está cheio de oportunidades e novidades”, alerta Ngai.

“Entendemos que as soluções à base de HFO terão papel fundamental na transição de tecnologias HFC e HCFC, trazendo o equilíbrio necessário para que as empresas e usuários possam converter suas aplicações de AVAC-R sem penalizar operações, de forma segura, eficiente e ambientalmente sustentável. Essa perspectiva e esse compromisso foram reforçados com o investimento de US$300 milhões na construção da maior fábrica do mundo de HFO em Corpus Christi, Texas, EUA”, completa Canozzi.

No caso da Daikin, segundo Marcato, a busca tem sido por soluções que melhor atendam às necessidades do mercado. “Por exemplo, a bomba calor Altherma com R-32 para uso residencial , que incorpora em um só sistema o aquecimento de água com painéis solares e sistema bomba calor que trabalha em conjunto com o sistema de climatização, otimizando seu uso para reduzir o consumo de energia com tecnologias Inverter em bombas calor, junto com recuperação de calor, resultando em menor impacto total de emissão de CO2.”

“Na linha de expansão indireta”, continua o gerente da Daikin, “podemos citar a nova linha de resfriadores de liquido BluEvolution, que além de utilizar o fluido R-32 de baixo GWP, incorpora a tecnologia de free cooling natural, podendo gerar entre 25% e 75% da capacidade da unidade com baixíssimo consumo de energia e alta eficiência, bem como a linha bomba calor 4Z, equipada com compressores parafuso Inverter e gerando, ao mesmo tempo, água quente e água gelada para aplicações com cargas simultâneas, sendo ideal para processos produtivos, hotéis, hospitais e parques aquáticos recreativos, trabalhando com 5 modos de operação – só frio, só quente, quente-frio simultâneo balanceado e uso de quente ou frio onde uma das cargas é predominante, com TEER até 9,0 kW/kW (Total Energy Eficiency Ratio), ou seja, para cada kW elétrico podem ser gerados simultaneamente 9 vezes mais de energia térmica quente e fria simultaneamente.”

Marcato ressalta, ainda, que a Daikin foi pioneira nos sistemas de refrigerante com fluxo variável na década de 1980 e, após o sucesso da introdução do R-32 nos mercados japonês e asiático, disponibilizou de forma gratuita o acesso das patentes a outras empresas do setor com o objetivo de ampliar a participação de mercado desta solução tecnológica como alternativa ao R-410. “A Daikin foi pioneira na introdução de fluidos alternativos e equipamentos com baixo GWP como alternativas ao R-410a, tendo desenvolvido equipamentos da linha residencial (splits, multi splits e mini VRVs) com o fluido R32, tendo sido a primeira a lançar produto residencial no Japão, China, Europa e, agora, no Brasil.” (veja: https://www.daikin.com.br/produto/splitao-pack-g).

Para produtos do segmento de ar-condicionado central, a empresa acredita no uso de sistemas com capacidade de atender a baixas demandas de frio e/ou quente, com conectividade via internet e manutenção facilitada via monitoramento remoto. “Um exemplo seria um resfriador de liquido com condensação a ar equipado com sistema de bombeamento de água gelada incorporado com fluxo variável e monitoramento do consumo de energia, obtendo em tempo real a eficiência energética, a capacidade de resfriamento e uso de energia, que pode ser monitorado instantemente pelo usuário, pela distribuidora de energia e também pela fornecedora de serviços de operação e manutenção. Com o uso destas tecnologias a empresa entende que uma  nova era de serviços de condicionamento sob demanda de consumo e também sistemas autônomos poderão agregar valor à operação de seus clientes industriais, comerciais e corporativos sob demanda de consumo e não como investimento, não mais sendo fornecidos como equipamentos incorporados aos ativos fixos”, diz Marcato.

Treinamento

Nos últimos três anos, segundo informações da empresa, a Chemours realizou mais de 58 palestras, levando informações técnicas para mais de quatro mil técnicos e profissionais do setor. “Acreditamos que, desta forma, estamos contribuindo para a sustentabilidade econômica e ambiental, uma vez que um sistema bem operado com a manutenção em dia terá menos vazamento e irá prover a performance esperada sem prejuízos na operação. Ao mesmo tempo, conscientizamos e educamos sobre a importância da segurança durante o trabalho e manuseio de nossos produtos. Somente assim poderemos contribuir de fato para um mundo mais sustentável”, conclui Ngai.

Marcato, diz que “desde a FEBRAVA de 2017, quando fez a primeira divulgação desta tecnologia no Brasil, a Daikin vem trabalhando na capacitação de profissionais do setor, focando não somente os instaladores e mantenedores, mas também projetistas e equipes comerciais de seus parceiros distribuidores. Hoje já contamos inclusive com módulo na web (http://www.daikin.com.br/profissionais/treinamentos-online).”

Ronaldo Almeida
Editor

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