Na concepção de um projeto de AVAC hospitalar, primeiramente, é necessária a leitura da norma ABNT NBR 7256 para compreensão das suas especificidades

A nova Norma ABNT NBR 7256 trouxe alguns desafios para os profissionais que atuam no segmento hospitalar, particularmente aqueles envolvidos com o projeto de instalações de AVAC. Além da qualidade do ar interno e do conforto térmico dos ocupantes, são redobradas as recomendações para atingir requisitos mínimos quanto à estanqueidade dos ambientes, quando exigida, as taxas de renovação de ar, a filtragem e tratamento do ar, além de demais orientações. Isso tudo, sem descuidar da eficiência energética desses sistemas, de resto grande consumidores de energia, e do aproveitamento do espaço físico.

Assim, nada melhor do que estabelecer as semelhanças e diferenças entre projetos voltados à climatização de estabelecimentos assistenciais de saúde e aqueles voltados tradicionalmente à satisfação dos usuários. Como diz Marcos Santamaria, da engenharia de aplicação das Indústrias Tosi, as principais diferenciais de uma instalação de AVAC hospitalar em relação às instalações de conforto são os níveis de filtragem do ar e pressões para cada tipo de ambiente.

“Como exemplo, temos centros cirúrgicos com pressões positivas em relação aos ambientes adjacentes, como os corredores dos próprios centros cirúrgicos que, por sua vez, também têm que ter pressões positivas em relação aos demais ambientes. Por outro lado, quartos de isolamento de doenças infecciosas precisam ter pressões negativas”, sentencia.

Dentre os elementos a se levar em conta em um projeto de AVAC hospitalar, o profissional da Tosi, destaca o controle da qualidade do ar e a manutenibilidade dos equipamentos para garantir suas condições operacionais estabelecidas no projeto durante toda a vida útil.

João Paulo Mesquita, gerente de negócios da Klimatix, estabelece o que ele chama três pilaresa serem respeitados para um projeto de ar-condicionado hospitalar eficiente:“Segurança microbiológica, confiabilidade operacional e eficiência energética. Isso se traduz em filtragem tripla (com H13 e H14), diferenciação de pressões entre ambientes críticos e não críticos, controle de umidade e temperatura, redundância de sistemas e, claro, conformidade com a NBR 7256. E não se pode esquecer: cada sala tem sua história, UTI, centro cirúrgico, isolamento – cada uma com exigências distintas.”

Na opinião de Fabio Vieira Guerra, consultor técnico naAirLink, uma instalação hospitalar se distingue, fundamentalmente, pela complexidade e criticidade dos ambientes atendidos. “Enquanto instalações de conforto priorizam bem-estar térmico e eficiência energética, o AVAC hospitalar é peça-chave na prevenção de infecções cruzadas, no controle microbiológico e na manutenção de ambientes assépticos”, diz ele.

“A climatização hospitalar tem papel direto na biossegurança, exigindo controle rigoroso de pressão diferencial, níveis de renovação de ar, filtragem em múltiplos estágios (G4, F8/F9, HEPA) e critérios de estanqueidade construtiva. Em muitos ambientes hospitalares, a má gestão do AVAC pode comprometer diretamente a saúde de pacientes doentes, o desempenho de procedimentos médicos e, até mesmo, gerar surtos de infecção”, continua ele.

O consultor da AirLinkdefine algumas premissas para um bom projeto de AVAC para hospitais. “A classificação de ambientes em críticos, semicríticos e não críticos conforme a NBR 7256; o dimensionamento de renovação de ar com base nas trocas por hora adequadas a cada setor; o controle de pressões diferenciais entre zonas limpas e contaminadas; o uso de filtragem escalonada, com filtros G4 na entrada, F8/F9 intermediários e HEPA H13/H14 nos insuflamentos finais para ambientes como centro cirúrgico, UTI e transplantados; a previsão de acesso e manutenção segura para trocas de filtros sem exposição a contaminantes; o gerenciamento dos níveis de temperatura, com controle fino de temperatura e umidade e a integração com dispositivos de supervisão para garantir rastreabilidade e confiabilidade dos parâmetros operacionais.”

Eficiência energética

Pela própria atividade, hospitais são grandes consumidores de energia. Neste sentido, estratégias para a eficiência energética necessitam ser implementadas em nome da sustentabilidade ambiental e financeira desses empreendimentos. “Como estratégias cabíveis para a eficiência energética em instalações hospitalares, destaco o uso de equipamentos tipo DOAS (DedicatedOutside Air System) para o tratamento do ar externo de renovação, que reduz significativamente o consumo energético para controle da umidade em relação a sistemas convencionais, e o reaproveitamento do calor rejeitado pelo sistema de ar-condicionado para produção de água quente sanitária para o próprio hospital”, defende Santamaria.

“Aqui na Klimatix, eficiência energética é parte do DNA do projeto. Investimos pesado em tecnologias como chillers com mancais magnéticos, que chegam a 0,32 kW/TR de eficiência de ponta. Complementamos com automação inteligente, recuperação de calor, freecooling e variação de vazão tanto no ar quanto na água. Não é só consumir menos; é consumir com inteligência”, diz Mesquita.

Outra questão sensível nos ambientes hospitalares é o aproveitamento da área útil. Ainda mais do que em hotéis, o aproveitamento máximo de áreas para internação, consultas e exames, são fundamentais. Essa é uma questão que mobiliza projetistas e alguns fabricantes, que anunciam equipamentos mais compactos. O que não é um consenso.

“Entendemos que condições de instalações compactas e eficientes são antagônicas. Troca térmica é função de área. Em se tratando de chillerspor condensação a ar, por exemplo, os mais eficientes de mesma marca e modelo são os maiores, com mais “V” de serpentinas condensadoras e ventiladores, pois reduzem a pressão de condensação que é determinante no consumo dos compressores. O mesmo acontece com os ventiladores das UTAs(Unidades de Tratamento de Ar); ventiladores maiores operando com rotação mais baixa podem entregar a mesma vazão de ar e pressão do que ventiladores menores em rotação mais altas, consumindo menos energia elétrica. Se tivermos equipamentos maiores, com serpentinas operando com velocidade na fase menor, tanto na serpentina como nos filtros de ar, a perda de carga será menor e novamente o consumo de energia dos ventiladores será menor”, explica Santamaria.

No entanto, existem fórmulas para conciliar ambos os aspectos. “Compactar sem comprometer o desempenho é arte. Soluções como vigas frias, fancoils verticais hospitalares, como o nosso CBC, e sistemas de expansão indireta de alto desempenho permitem isso. Além disso, o conceito de modularização e sistemas plug & play ajudam muito na redução de área técnica e tempo de instalação”, afirma o gerente de negócios da Klimatix.

Estratégias para evitar a contaminação cruzada

A possibilidade de contaminação está presente em qualquer sistema de AVAC. Em instalações hospitalares, por óbvio, o seu controle é infinitamente mais urgente, exigindo de projetistas e fabricantes o desenvolvimento de estratégias, particularmente quanto àquela transmitida por serpentinas.

“A melhor estratégia para evitar a formação de biofilme nas serpentinas é o uso de lâmpadas ultravioleta nas unidades de tratamento de ar. Se o projeto for concebido utilizando o princípio do desacoplamento do calor latente do calor sensível através do uso de equipamentos DOAS, como já mencionado, a utilização de lâmpadas ultravioleta pode eventualmente ficar restrita a estes equipamentos pois a remoção de calor latente (umidade) ficará concentrada neles”,esclarece o engenheiro da Tosi.

Santamaria avança, atribuindo um papel ativo no controle da contaminação em ambientes hospitalares e correlatos. “O ponto no qual o AVAC pode ser um instrumento de combate à contaminação hospitalar é a qualidade do ar. A qualidade do ar, entendemos depender da existência conjunta de 3 fatores para a sua manutenção, tal qual ocorre com o fogo, como aprendemos em cursos de brigada de Incêndio. Enquanto o fogo precisa de combustível, comburente e fonte de calor, a qualidade do ar depende de projeto, instalação e manutenção bem-feitos, se tivermos deficiência em qualquer um destes 3 fatores, teremos problemas em garantir a qualidade do ar interior compatível com a necessidade de combate a contaminação hospitalar.”

Ravindra Tailor, consultor da Seimmei, explica que o sistema de resfriamento de ar apresenta focos de contaminação na serpentina de resfriamento de ar, na bandeja de recolhimento de água condensada, nos filtros, nas palhetas do ventilador e na rede de dutos.Para combater seus efeitos, ele estabelece algumas medidas, como “prever lâmpadas UV-C para combater esta contaminação, eliminar o máximo possível contaminação da área externa em volta da UPA e para não contaminar a área externa em volta da UPA, prever instalação de lâmpada UV-C nas caixas de exaustão de ar”.

Tailor destaca as lâmpadas Led por ele desenvolvidas, “com 02 circuitos independentes que ajudam a eliminar vírus e bactérias no ar e nas superfícies sem usar produtos químicos, promovendo iluminação normal similar a uma lâmpada de 60W ou iluminação antibacteriana de cor azul violeta com ondas eletromagnéticas não prejudiciais à vista ou a pele.”

O consultor da Seimmei diz, ainda, que a contaminação gerada nas salas de recepção contamina outros ambientes da instalação hospitalar, através de portas interligando corredores aos demais ambientes. “O ar contaminado da instalação escapa para o ambiente externo, prejudicando a área externa e vizinhança.A solução é aumentar a ventilação com resfriamento, aquecimento e descontaminação de ar com radiação UV-C na serpentina de resfriamento, na bandeja de recolhimento de água condensada e nos filtros de ar e manter pressão negativa nas salas de recepção.”

Para isso, segundo ele, “é necessário prever caixa de ventilação controlando a vazão de ar de exaustão em aproximadamente 10% maior que a insuflação para garantir que o ar da sala de recepção acesse corredores interligando a sala de recepção com área interna da instalação hospitalar.”

Ou, como resume Mesquita, da Klimatix. “AVAC bem projetado é barreira sanitária. Pressurização, renovação de ar adequada, filtros absolutos, controle de umidade, e distribuição inteligente do ar formam uma cadeia de proteção. E, claro, monitoramento contínuo. O AVAC tem que ser vigilante, silencioso, mas presente.”

Filtragem

Um dos pontos mais sensíveis em instalações de climatização hospitalar, principalmente após a última revisão da NBR 7256, é a filtragem do ar.“Os fabricantes de filtros vêm evoluindo fortemente em duas frentes: tecnológica e normativa.Na AirLink, por exemplo, seguimos rigorosamente as diretrizes da NBR 7256 e da ISO 16890, além da norma EN 1822 para filtros absolutos. Isso se traduz em: produção com materiais de alta performance, como microfibra de vidro, poliéster plissado e vedação contínua em poliuretano; ensaios laboratoriais regulares, com emissão de laudos e certificações de eficiência; desenvolvimento de modelos modulares e customizados, facilitando retrofit em centrais de ar; ampliação da linha de produtos com foco em baixa perda de carga, durabilidade estendida e segurança microbiológica.Também investimos em consultoria técnica para aplicação adequada e suporte ao comissionamento de sistemas hospitalares, garantindo que o produto certo seja utilizado no ambiente certo”, conclui Guerra.

Soluções recentes da indústria

Para atender aos requisitos cada vez mais exigentesdas instalações hospitalares, a indústria tem desenvolvido equipamentos aptos a trabalharem com os níveis de filtragem exigidos pela norma.

“Adequação exige investimento e escuta ativa. Na Klimatix, traduzimos a 7256 em engenharia real: equipamentos laváveis, com materiais antibacterianos, sem pontos de retenção, de fácil manutenção e com performance validada em condições críticas. Não é só seguir norma, é ir além dela”, alerta Mesquita.

O executivo da Klimatix lista alguns produtos desenvolvidos pela empresa para atender ao mercado hospitalar. “Destaco o fancoletehospitalar CBC, desenhado 100% em conformidade com a NBR 7256. Também nossos chillers com mancais magnéticos, que além de supereficientes, operam com baixíssimo nível de ruído e manutenção praticamente zero. E temos mais novidades chegando, sempre com foco em segurança, economia e inovação.”

“Antes mesmo da revisão das NBR 7256 as Indústrias Tosi já dispunham da linha TEX de UTAs de alta estanqueidade aptas a operarem com filtragem em cascata até H14 e, também, sua linha de fancoletes de 1, 2 e 3 TR tanto de água gelada como de expansão direta para quartos e UTIs”, diz Santamaria.

ASeimmei, também desenvolveu equipamentos projetadospor Ravindra Tailor. Caso do Viruskiller, para inativação de vírus, bactérias e fungos em salas de recepção.Também colocou no mercado um equipamento de plasma bipolar de ponta aguda de ionização negativa e positiva que ajuda a aglomerar partículas finas de pó no ar que ficam retidas nos filtros de ar.

A AirLink, por sua vez, destaca os filtros grossos, médios e finos com moldura em papelão reforçado ou metálica, para sistemas onde é necessária elevada área filtrante e baixo custo de manutenção. Dentre os produtos desenvolvidos se encontram, ainda, os filtros multibolsa, com microfibras progressivas, os filtros HEPA H13 e H14 e modelos com vedação integral e bypass zero, adequados para retrofit em caixas de insuflamento hospitalares.

Crédito da foto : http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock-images-crowded-hospital-corridor-healthcare-professionals-move-swiftly-man-sits-alone-highlighting-overwhelming-pressure-image353247519

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