Primeiramente, é necessário o respeito às determinações do projeto, às normas vigentes e às necessidades da instalação; parâmetros como trocas de ar, limpeza, distribuição e eficiência energéticadevem guiar a especificação

Particularmente após a pandemia provocada pela covid-19, a qualidade do ar interno ganhou importânciatranscendental. Não que os alertas dos especialistas tenham sido poucos ou raros. Qualquer pesquisa na imprensa especializada, por exemplo, mostrará uma quantidade impressionante de artigos e reportagens acerca do tema. Há muito, qualquer evento técnico-científico ligado à climatização dos ambientes internos pauta o tema qualidade do ar e conforto térmico.

Para rememorar, desde a década de 1980, pelo menos, fala-se em edifícios enfermos, nos quais a qualidade do ar é um elemento central. No Brasil, principalmente após a morte de Sérgio Motta, então Ministro das Comunicações do primeiro governo FHC, o tema ganhou relevância. É ainda na década de 1980que os estudos do pesquisador Ole Fanger sobre conforto térmico ganham espaço.

No entanto, embora pesquisas acadêmicas ou extra-acadêmicas demonstrem que espaços com a qualidade do ar internoadequada às recomendações das distintas organizações, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS), redundam em forte redução de gastos com os sistemas de saúde pública e privada, dentre outros fatores, o tema segue sendo menosprezado, embora menos do que há uma ou duas décadas atrás. Mais do que isso, a comunidade científica demonstra por a mais b que níveis de conforto térmico com capacidade para agradar ao maior número de pessoas possível é garantia de maior permanência em ambientes climatizados, logo de bons negócios, e menor absenteísmo nos locais de trabalho, pouco se faz para investir em sistemas mais qualificados de distribuição e difusão de ar.

Uma das razões para que isso siga acontecendo relaciona-se à busca por lucro rápido pelos gestores dos empreendimentos. Mas há, também, o fator desconhecimento. Nem sempre os projetos são entregues a profissionais com maior experiência e, até consciência, do seu papel. Por vezes, desconhece-se os princípios fundamentais da distribuição do ar e das tecnologias disponíveis para cada necessidade.

Especificação de equipamentos de ventilação

As dificuldades começam na especificação. “Para especificar equipamentos de ventilação e exaustão visando a qualidade do ar interior (QAI) e o conforto dos ocupantes, é necessário determinar de antemão quais são os pré-requisitos a serem atendidos, de acordo com as normas vigentes, e de encontro as necessidades da instalação; nos parâmetros corretos de número de trocas do volume do ar, limpeza, distribuição, eficiência energética e viabilidade de manutenção, atendendo a necessidade do projeto e qual a forma de se obter esse resultado, indicando parâmetros para que tudo isso possa ser mensurado adequadamente. Na realidade a QAI surgiu para formalizar o que já era considerada boa prática”, diz Laura Baldissera, diretora da Projelmec.

“É muito importante conhecermos os diversos tipos de ventiladores e principalmente suas mais específicas aplicações.É comum observarmos um cuidado muito grande quanto as escolhas dos equipamentos de climatização, porém, cuidado esse muitas vezes não replicado aos ventiladores e exaustores; em linhas gerais, cada modelo se destina um uma aplicação conceitual, ressaltamos que existem equipamentos destinados a maior movimentação de ar, já outros, pensados e desenvolvidos para suprir maiores perdas de carga em sistemas.Essas diferenças resultam em comportamentos melhores quando acoplados a sistemas de filtragem, diferentes resultados no que diz respeito a níveis de ruído e, principalmente, resultando em dimensões e custos também variados. Entendemos que uma boa seleção não se dá apenas na informação da vazão necessária, é de fundamental importância que na descrição da seleção conste a vazão necessária bem como a perda de carga para aquele sistema específico, não considerando apenas as capacidades disponíveis do conjunto motor-rotor e, ainda, informações claras quanto as destinações do sistema e acessórios acoplados.Com esse conjunto de informações podemos inclusive ajudar em opções muitas vezes mais adequadas que as inicialmente previstas”, complementa Maurílio Oliveira, da área de aplicação e novos negócios da Multivac.

Plinio Rafael Vieira,analista técnico de vendas da S&P Brasil Ventilação, valoriza a obediência ao projeto. “Com certeza, tudo parte de um bom projeto onde detalhes como ocupação máxima e tipo de uso são cruciais parachegarmos às ordens de grandezas de vazão e os encaminhamentos para o levantamento das pressões estáticasnecessárias. Como sempre falamos em nossas palestras, conforto térmico e QAI embora andem juntas, dificilmente são

compreendidas, porque nem sempre um ambiente onde a temperatura esteja agradável significa que a qualidade dessear esteja boa e o contrário é recíproco, por isso, é importante sempre avaliarmos o melhor uso desse ambiente.”

Determinações na escolha

Uma vez especificados os equipamentos, segundo os especialistas dos vários fabricantes é importante existir uma interação entre projetista e instalador da obra. “A escolha do tipo de ventilador em um projeto de AVAC é determinada por uma série de fatores técnicos e operacionais específicos. Um dos principais desafios envolvem o grau necessário de customização dos equipamentos dadas as caraterísticas de cada instalação. Teremos casos de potencias similares com equipamentos extremante diferentes, tanto em tamanho como em rendimento, ruído e tipo de construção. O segredo é uma boa sincronia entre o projetista e o instalador na elaboração do projeto, e que consigam ter uma visão alinhada no momento de determinar os equipamentos mais adequados para cada caso com o auxílio do fabricante, respeitando os desafios e vantagens de cada obra em particular”, recomenda Baldissera.

Em resumo, a escolha do ventilador se dá principalmente pelo tipo de sistema ou objetivo final da aplicação, de acordo com Oliveira, da Multivac. “Quando pensamos em um ventilador destinado ao tratamento do ar externo, temos que prever acoplamentos em filtros que, para um bom funcionamento,se faz necessário respeitar a velocidade de travessia do ar no elemento filtrante; não adianta usarmos caixas muito pequenas em vazões muito grandes, pois a velocidade do ar ficará muito alta e o filtro não terá a capacidade de reter as partículas, bem como, não podemos trabalhar com pressões muito baixas, pois esses filtros vão sujando de forma progressiva e, caso o motor não tenha pressão para vencer essa perda de carga, o filtro terá uma durabilidade muito baixa.Temos quepensar ainda em níveis de ruído, uma vez que muitos desses equipamentos ficam no entreforro do próprio ambiente. Um ótimo exemplo de equipamento destinado a essa aplicação seria o gabinete CFM 1000 da Multivac, desenvolvido através de pesquisas junto a projetistas do segmento de AVACR, resultando em um conjunto motor/rotor de alta performance do tipo plenumfan acoplado a 45°, filtros já inseridos no gabinete em formato de cunha, de forma a aumentar a área de filtragem e melhorar o escoamento do ar, e atenuação acústica, tudo isso inserido em um gabinete robusto, com chapa espessa, mitigando vibrações excessivas.”

“Sempre que analisamos um projeto, procuramos as suas particularidades, podendo ser uma máquina centralde alimentação trifásica, se possui área técnica, se tem espaço no entreforro para os equipamentos menores, e só depois de feito os cálculos e termos as grandezas de vazão e pressão, podemos realizar essa análise.Nem sempre temos o melhor mundo para isso, muitas vezes precisamos adequar os usos, instalar sistemas menorese em maior quantidade para atender as demandas setorizadas”, explica Vieira, da S&P Brasil.

Consumo energético

 Se a qualidade do ar e o conforto térmico dos ocupantes são os principais objetivos a serem perseguido, não há que negligenciar o consumo energético. Afinal, de nada adianta falar em descarbonização e outros conceitos que entram na moda tão rápido quanto saem, se nossos projetos continuam a menosprezar a busca pela eficiência. “A qualidade do ar interior irá determinar os parâmetros ótimos para os ocupantes do projeto, mas se uma instalação de AVAC é bem concebida e executada, seguindo as boas práticas, também atenderá o esforço por reduzir o consumo energético e trará resultado financeiro positivo. Alguns tipos de ventiladores podem contribuir para esse objetivo e, fisicamente, onde houver menos esforço haverá menos potência sendo consumida. Priorizar o acoplamento direto onde possível, já é um ganho líquido de quase 15% de potência absorvida, e um dos maiores vilões a serem combatidos é o Efeito Sistema (SE), que torna o comportamento dos equipamentos instável e com alguns efeitos colaterais, trazendo junto mais ruído e mais potência desperdiçada. No caso de um ventilador, quanto menos turbulência, menor será o desperdício energético. Quando tivermos dois ventiladores similares, mas um deles tem transições bruscas no fluxo, enquanto o outro tem suavidade na transição do bocal, por exemplo, em dado tempo de operação o equipamento que melhor tratar o ar custará menos, sendo possível algumas vezes menos”, enfatiza Baldissera.

Maurílio Oliveira complementa. “Sem dúvidas, a melhor relação QAI x Consumo Energético sempre se dará através de um bom projeto e selecionamento; sendo assim, acreditamos que quanto maior a proximidade dos projetistas junto aos fabricantes com o intuito de conhecer o que já existe e auxiliar no desenvolvimento de novos sistemas, atendendo às mais atuais necessidades,chegaremos a melhores resultados nessa relação. Hoje em dia, com intuito de melhorar essa relação, temos sistemaseletrônicos que variam a vazão conforme as necessidades dos projetos e de fácil modulação aos mais diversos tipos de controle, resultando em quantidades de ar mais assertivas e melhorando significativamente a performance no que diz respeito ao consumo energético, Ressalto que, hoje, aproximadamente 90% dos gabinetes produzidos pela Multivac já estão disponíveis tanto com motores AC quanto EC atendendo às variadas necessidades.”

“Nos últimos anos, o consumo energético nunca foi tratado com tanta importância e as constantes atualizações dasnormas tem solicitado dos fabricantes constantes atualizações, visto o enorme crescimento dos motores EC.Temos em nossas linhas de produtos, quando falamos de motores trifásicos, os motores IR3 Premium Weg, que entregam maior rendimento com o mesmo consumo elétrico.  Os nossos motores AC monofásicos são produzidos na Espanha sob rigorosos planos de qualidade e certificação ISO 9.000 e selo Intertek, a fim de transmitirsegurança e confiabilidade. Em relação aos motores EC, ainda sentimos o mercado um pouco resistente ao uso dessa tecnologia, comexceção dos setores industrial e hospitalar, o setor de conforto tem usado com baixa adesão”, afirma Vieira.

Requisitos para um ventilador eficiente

“Não respeitar o efeito sistema resulta em ruído e consumo indesejados.O ventilador deve ser selecionado de forma mais favorável possível respeitando as distâncias mínimas para ocorrências na tubulação prescritas pelo efeito sistema (SE), além de levar em conta a velocidade no duto e todas as condições disponíveis para a instalação. Em certos casos, o ponto selecionado na curva característica, na escolha dos tamanhos, pode comprometer o rendimento e, se a necessidade é minimizar o ruído da fonte, no caso o ventilador, se escolha o ponto onde o rendimento é aceitável e se combata o ruído com meios alternativos, como atenuadores ou rotas de dutos mais distantes do público.É realmente um desafio conciliar isto, pois, normalmente é necessário modificar o tamanho dos equipamentos para diminuir o ruído em prejuízo do rendimento, mas realmente se trata de bom senso e boas práticas de engenharia”, pontua Laura Baldissera, da Projelmec.

Maurílio Oliveira, da Multivac, pondera sobre o que, de fato, é o nível de ruído. “Precisamos iniciar esse tema desmembrando o que de fato está sendo considerado nível de ruído a ser reduzido.Temos que ter clareza que a movimentação de ar por si só gera ruído, então, quando tocamos nesse ponto, precisamos entender que uma parte significativa desse bom resultado está nas boas práticas de instalação e projeto em um sistema pensado desde o início com intuito de gerar o menor ruído possível.Em muitos casos a posição escolhida para a instalação de um equipamento em um ambiente não é a mais favorável, e isso pode ser prejudicial ao resultado.Cabe a nós, fabricantes, respeitarmos também boas práticas de desenvolvimento e fabricação aliados a bons insumos, comomotores e rotores balanceados, gabinetes bem estruturados, desenhos de fluxos inteligentes, bem como ferramentas e processos de fabricação e produção atualizadas e de primeira linha. Então, é sim possível obter ótimos resultados energéticos com ótimos níveis de ruído.Para tal, é muito importante a sinergia entre projetista, fabricante, instalador e, principalmente, a mais clara compreensão do sistema para a escolha do melhor equipamento possível.”

“A geração de ruído tem sido um vilão para os equipamentos de alto rendimento pois, toda vez que trabalhamos a relação de rotação e ângulos de ataque das hélices, logo aparecem os ruídos.Para isso, temos desenvolvido nossa linha Silent, que trabalha combases de absorção de vibração e minimização de bandas acústicas, e células atenuadoras que reduzem o ruído sem perda de eficiência”, conclui Plinio Rafael Vieira da S&P Brasil Ventilação.

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