Há muito se fala de sistemas distritais de resfriamento como uma solução viável, no entanto, poucos projetos do tipo foram viabilizados até agora
Muito comuns na Europa e Estados Unidos, os sistemas distritais, no caso, de resfriamento e aquecimento e, por vezes, de energia, ainda caminham lentamente no Brasil. Sem dúvida, dadas as características climáticas do país, a inclinação seria mais para sistemas distritais de resfriamento, o que não descarta o fornecimento de água quente quando há a possibilidade de sua utilização, como em instalações hoteleiras ou hospitalares.
As vantagens de tais sistemas são inúmeras. A começar pela eficiência energética proporcionada, dada pelo ganho de escala, ao centralizar em uma planta o atendimento de várias edificações, o que proporciona a utilização de equipamentos de maior capacidade e mais eficientes. Podem, ainda, viabilizar com mais êxito estratégias economizadoras, como freecooling e armazenamento térmico. Por fim, são menos suscetíveis a perdas energéticas.
Outra grande vantagem dos sistemas distritais é a redução do custo operacional. Edifícios conectados ao sistema distrital podem prescindir de equipamentos próprios para a produção de água gelada ou quente. A manutenção centralizada reduz custos e proporciona um aumento da vida útil do sistema. Por fim, não menos importante, é a economia de espaço nas edificações atendidas.
Não há que se desprezar, também, o aspecto ambiental. Sistemas centralizados, ao reduzir o consumo energético, reduzem as emissões de carbono. Podem, também, incorporar mais facilmente fontes de energia renovável, como fotovoltaica ou geotermia. Por fim, podem reduzir o impacto ambiental associado ao vazamento de refrigerantes.
Sem dúvida, sistemas centralizados são projetados para operar 24 horas por dia, 7 dias por semana. À princípio esse fato pode parecer um obstáculo. Mas esse é um problema reduzido pela possibilidade de operar com armazenamento térmico, operando os tanques em momentos de menor demanda.
Sistemas distritais possuem, também, maior flexibilidade e escalabilidade. Sua expansão pode caminhar de acordo com o crescimento da área atendida. A versatilidade tampouco pode ser menosprezada. Podem atender à diversos tipos de edificações, segundo o uso. Aliás, essa é uma situação ideal para tais sistemas.
O ambiente urbano também pode se beneficiar dos sistemas distritais. Ao concentrar as centrais de produção de energia térmica, produzem menos ruído do que unidades individuais. Sistemas centralizados são, também, mais capazes de lidar com aumentos repentinos na demanda de resfriamento, como durante ondas de calor.
Não há como negar que o investimento inicial, mais elevado do que o despendido em instalações individuais, é um entrave. Por isso, sua viabilização depende de Sociedades de Propósito Específico (SPE), que assumem o custo do investimento e vendem energia térmica posteriormente, como é o caso do Moinho do Recife, relatado nesta edição.
A solução não é unanimidade. O engenheiro Marcos Santamaria Alves Corrêa, da engenharia de aplicação das Indústrias Tosi, tem várias restrições aos sistemas distritais em países como o Brasil.
A primeira delas é o fato de o sistema ser apenas de resfriamento e não de resfriamento e aquecimento como nos países do hemisfério Norte. “Não existe demanda suficiente para o aproveitamento do calor rejeitado, diferente dos países mais frios, em que o calor rejeitado pela climatização de um data center, por exemplo, pode ser aproveitado no inverno para a calefação das residências e escritórios do distrito através de um districtheating integrado”, argumenta Santamaria.
No entanto, o próprio caso do Projeto Porto Novo Recife, publicado na edição de janeiro da revista Abrava+Climatização& Refrigeração, contradiz esse argumento. Alí a água quente a ser utilizada no Novotel é produzida a partir do calor rejeitado pelos chillers. Obviamente, estamos frente a uma situação específica, em que o sistema tem como principal consumidor um hotel, que necessita de água quente para banho e para as cozinhas o tempo todo.
Outro argumento do especialista da Tosi diz respeito à capacidade das máquinas. “Antigamente, quando só se tinha chillers de maior eficiência de capacidades maiores (centrífugas) a meu ver o districtcooling fazia mais sentido. Hoje, com o compressor Turbocor trazendo a eficiência das centrífugas de grande porte para chillers a partir de 80 TR de capacidade, eu acredito que os ganhos energéticos diminuíram bastante, e não sei se compensam os custos e transtornos destas obras de grande porte”, diz ele.
“Antigamente, se tínhamos, por exemplo, um hospital que foi crescendo ao longo do tempo e foram fazendo várias CAGs, valia a pena fazer um districtcooling para todo o hospital para utilizar centrífugas de maior eficiência no lugar de chillerscom compressores herméticos, scroll ou parafuso. Já hoje, dependendo das capacidades, dá para se fazer a substituição destes chillers de baixa eficiência energética por chillers com compressores Turbocor de alta eficiência energética, com muito menos transtornos e custos de obra”, completa Santamaria.
São argumentos válidos que merecem ser levados em conta. Mas o fato é que há instalações de districtcooling, principalmente no Nordeste, inclusive em complexos hospitalares, como o Real Hospital Português, no Recife, e o Hospital Ortopédico da Bahia, em Salvador, que têm demonstrado sua viabilidade.
A discussão está posta. A nova etapa do programa de eliminação de fluidos refrigerantes de alto GWP poderá trazer incentivos aos sistemas distritais. E, contribuindo para discussão, temos, na sequência, dois artigos sobre o tema e um relato de caso, o do Moinho do Recife, na página 14 desta edição. Um dos artigos é assinado pelo engenheiro Francisco Dantas, que tem algumas instalações distritais em seu portfólio, o outro, por Raphael Behar, Gerente Regional de Suporte a Vendas – América Latina da Armstrong Fluid Technology.
Ronaldo Almeida é editor e publisher da revista Abrava + Climatização & Refrigeração
Crédito da foto: http://www.dreamstime.com/stock-images-st-paul-minnesota-energy-district-here-view-st-paul-minnesota-energy-district-located-downtown-image194244834
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