O edifício Mansão Wildberger, no Largo da Vitória, parte do chamado Corredor da Vitória em Salvador, é um dos mais altos do Nordeste. Dos seus 40 andares, 34 possuem dois apartamentos, e o seis últimos são ocupados por uma única unidade. Cada piso comporta 900 metros quadrados de área. Cada unidade de 450 m2 está sendo comercializada por 8,5 milhões de reais na laje. O térreo é ocupado por espaços de uso comum, como spa, salão de festas, academia, biblioteca etc. Os diversos subsolos acomodam várias garagens.

Vale dizer que o Corredor da Vitória é o metro quadrado mais caro do Norte/Nordeste brasileiro. Sua ocupação remonta ao final do século XVI, ainda enquanto área rural. No início do século XX ganhou a preferência da burguesia emergente, cansada do “burburinho” do centro antigo. A partir dos anos 1940 transformou-se em polo de concentração de artistas e intelectuais baianos, processo intensificado nos anos seguintes à fundação da Universidade da Bahia. Hoje, o Corredor da Vitória abriga o Museu de Arte da Bahia, o Museu Carlos Costa Pinto e o Museu Geológico da Bahia. Tem na sua vizinhança os tradicionais bairros da Barra, Graça, Campo Grande e Canela.

Parte deste deslocamento urbano deu origem a inúmeros casarões na região. Um deles foi a Mansão Wildberger, construída a mando de Emil Wildberger em 1937, num terreno que abrigava o Hotel Bom Sejour, o preferido de viajantes suíços e alemães. Wildberger trabalhava para grandes comerciantes de cacau que o enviaram à Venezuela como comprador do produto. Com a devastação dos cacaueiros venezuelanos pela vassoura-de-bruxa, no final do século XIX, ele veio para a Bahia com a mesma tarefa.

Nos anos 1930, com a crise detonada pelo crash da Bolsa de New York, houve falência generalizada entre plantadores e comerciantes da matéria prima. Wildberger, graças aos seus contatos, conseguiu um empréstimo da Casa Rothschild com o qual comprou inúmeras fazendas e empresas de comércio, transformando-se no maior comerciante de cacau da Bahia.

O terreno que abrigava a Mansão Wildberger, assim como o antigo casarão que o precedeu, dá de fundos para a Igreja Nossa Senhora da Vitória, no largo de mesmo nome, cuja construção original remonta ao final do século XVI. A igreja teve seu tombamento decretado pelo IPHAN nos anos 1980, o que abrangeu toda a área adjacente.

Climatização faz jus ao valor do empreendimento

Em uma edificação tão valorizada, não haveria como negligenciar o sistema de climatização. “Um chiller com condensação a água, instalado no último subsolo, juntamente com a casa de máquinas, atende toda a área social. Para os apartamentos, foi deixada a infraestrutura para a conexão de sistemas VRF, também com condensação a água em torres abertas, situadas na cobertura”, explica Mário Sérgio de Almeida, diretor da MSA Engenharia, que concebeu o projeto.

O chiller atende ao circuito primário, para condensação, enquanto o circuito secundário leva a água para as torres de resfriamento. Devido à alta pressão da água, foi providenciado um trocador de calor a placas para o sistema de condensação.

A tubulação de água percorre todos os andares do prédio. Para a segurança em relação a vazamentos, a tubulação é em aço schedule 40, soldada e testada diversas vezes na pressão de 21 kg/cm². São duas colunas que se unem no 34º andar formando uma única que segue até a cobertura. Para cada andar foi deixada uma espera de água.

As torres abertas poderiam trazer muita sujidade ao sistema, o que não é bom para os condensadores do VRF a água, a não ser que fossem do tipo shell and coil, preparados para torre aberta, oferecidos por apenas um fabricante no Brasil. Os demais usam condensadores de placa. “O ideal seria colocar uma torre fechada, mas lá naquela altura do 40º andar, seria um peso excessivo na estrutura, pois as torres são muito grandes. E como o prédio fica de frente para o mar, nós teríamos uma corrosão elevada nas tubulações das torres fechadas. Além de que, se fossemos colocar trocador de calor, nós teríamos o sistema primário de condensação e o sistema secundário. O investimento seria bastante alto”, explica Almeida.

O projetista afirma que já recorreu a soluções semelhantes em outros edifícios de Salvador. Mas não com tal grau de ineditismo. “São 74 sistemas de ar condicionado, cada um com a sua bomba independente. Então não temos um sistema de condensação comum com uma única bomba enorme que fica circulando a água nas 24 horas do dia, com um consumo energético elevadíssimo e, às vezes, com poucos moradores no prédio. E se fosse com um trocador de calor teríamos as bombas primárias e mais as bombas secundárias funcionando”, continua.

Por isso, a solução escolhida foi a de instalar um sistema de condensação de forma que cada proprietário tenha seu sistema independente com sua bomba que succiona e recalca a água das tubulações verticais. “Se houver apenas um apartamento ocupado no prédio, ele liga sua bomba de 1,5 HP e faz sua própria condensação, sem necessidade da parte operacional do prédio. Os ventiladores das torres são automáticos, possuem um sensor de temperatura que, quando a água passa de 30ºC, são acionados automaticamente. Pois se tiver uma ocupação, digamos de 30% do prédio, a água cai nas torres, não fazendo diferença nenhuma, pois a água não vai aquecer, o que gera economia também no ventilador. Então, para a condensação, só ficaria funcionando a bomba do apartamento”, enfatiza Almeida.

“Já fiz um sistema semelhante há 15 anos num prédio que fica na Tancredo Neves, onde hoje funciona a faculdade da Petrobras. Eram 12 andares e cada andar com 4 selfs de 7,5 TR. Eram salas para alugar e cada inquilino pagava seu sistema de condensação, sendo que a ventilação funcionava pelo condomínio. O inconveniente neste prédio de 40 andares é a pressão. Os andares superiores não têm tanto problema pois a pressão é menor e podem usar um filtro de água convencional, já que interessa ao sistema de trocador de placa que a água não seja suja. Por isso, um tratamento químico mantém a integridade da água, enquanto filtros de carvão ativado e areia mantêm a limpeza da água na bacia das torres de arrefecimento. Mesmo assim, tomou-se o cuidado de ter em cada andar um filtro para fazer a filtragem adequada para a água ser conduzida aos condensadores o mais limpa possível”, continua o projetista.

Pureza e integridade da água

Cada condensador, assim, tem o seu próprio sistema de filtragem. Para os andares inferiores foram adotados filtros Y em série. “São 3 filtros: um grosso, um médio e um filtro com a malha mais fina para deter as partículas menores. Com este cuidado, conseguimos uma solução barata, pois se fosse adotado um único filtro adequado para 12 ou 15 kg/cm², seria necessário um filtro de carcaça em aço inox, que custaria uma fortuna. Esses filtros Y podem ser comprados em qualquer loja de materiais hidráulicos com o único detalhe de necessitarem de uma sequência de malhas adequadas para deter as partículas mais finas”, diz Almeida.

O ineditismo apontado pelo projetista está na solução de um sistema de condensação individualizado. Cada morador paga pelo seu próprio ar condicionado, pela sua própria bomba. O único equipamento coletivo, quando funciona, é o ventilador da torre. Segundo Almeida, a instaladora fez um sistema muito bom de lavagem química e física do sistema para não ficar sujeira nenhuma nas tubulações. Por isso, ele o considera um caso de sistema de condensação sem similar no Brasil.

No subsolo temos um sistema primário e secundário devido a pressão de 16 kg/cm². No sistema primário – bomba, condensador e lado A do trocador – a pressão é baixa e o sistema de filtragem convencional com filtro Y. No sistema secundário temos o lado de pressão: bomba, trocador de calor de 25 kg/cm² e torre de arrefecimento com sistema de filtragem triplo para manter a integridade do trocador de calor.

Todas as conexões dos andares inferiores (abaixo do vigésimo pavimento) são de 300 libras, sendo que toda a tubulação de condensação foi executada em tubos de aço escala 40. Para garantir a qualidade e segurança das instalações, o diretor da MSA se propôs a fiscalizar todos os projetos de instalação dos VRFs, no que toca às interligações hidráulicas, dos vários apartamentos.

Cada apartamento recebe dois registros de água de 2 polegadas e um registro de by pass para a limpeza da tubulação. Ainda, para cada meio pavimento foram previstos 20 HP, ou 16 TR. O que significa 32 TR por andar, mais ou menos 1.200 TR no total. “Poderíamos ter feito uma CAG de 1.000 TR, por exemplo, mas que exigiria um CAPEX elevado para a construtora. Com a solução VRF a ar por pavimento, enfrentaríamos o problema da maresia, além de ocupar uma área com metro quadrado de alto valor. Finalmente o escritório de arquitetura não desejava de forma alguma veneziana nas fachadas, sendo admitido somente pequena tomada de ar exterior e descarga de ar de exaustão dos sanitários e cozinha.”, conclui Mário Sérgio de Almeida.

 

Ficha técnica:

Obra: Mansão Wildberger
Projetista: MSA Projetos e Consultoria
Instaladoras: Mac Engenharia Instalações e Comércio (áreas comuns) e Tengemac Engenharia e Instalações Térmicas (apartamentos)
Sistemas utilizados: chillers condensação à água (áreas comuns) e VRF condensação a água (apartamentos), Trocador de calor a placas para a água de condensação
Variadores de frequência apartamentos: Weg
Ventiladores para sistema de pressurização de escadas: BerlinerLuft
Dutos: MPU e Climaver

Veja também:

Execução da obra

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