Até prova em contrário, que ninguém há de desejar, 2020 terá sido o annus terribilis da nossa era. Passados quase 12 meses desde os primeiros sinais do mortal Sars-CoV-2, quando o mundo começava a respirar aliviado – sem dubiedade -, voltamos a contar os mortos. Felizmente, diferentemente do início da atual pandemia, vislumbra-se uma luz ao final do túnel com os anúncios de testes positivos para alguns dos imunizantes em desenvolvimento.

Por motivos totalmente alheios à vontade do setor, nunca se falou tanto em ar-condicionado e ventilação quanto neste ano que parte para seu encerramento. Torçamos para que, junto com as vacinas, o adequado tratamento do ar em ambientes fechados, assim como o cuidado com os demais componentes dos sistemas de climatização, tenha a sua importância valorizada para a saúde das pessoas.

Algumas das medidas em direção a ambientes saudáveis são realçadas por Rodrigo Cardim, da Sondar:

  • Limpeza mecânica interna periódica  dos dutos de ar-condicionado através do processo homologado pela NBR 14679, sonda pneumática ou escovação mecânica, atendimento a NBR 15848, conforme PMOC e lei 13589 de 4/01/2018;
  • Manutenção periódica dos equipamentos de ar-condicionado e limpeza de seus componentes conforme PMOC e lei 15848 de 4/01/2018;
  • Limpeza e troca dos filtros de ar-condicionado dos equipamentos, conforme RE09 Anvisa;
  • Limpeza do ambiente;
  • Monitoramento da qualidade do ar interno conforme Resolução RE 09 Anvisa para se ter uma avaliação das limpezas e manutenções citadas.

Manoel Gameiro, diretor comercial da Ecoquest, completa a lista de recomendações para a incorporação das tecnologias e processos mais adequados para o tratamento do ar de recirculação, particularmente diante da Covid-19:

  • Aumento da taxa de ar externo (logicamente se possível e considerando que o local não tem problemas graves de poluição e verificando se o sistema de ar-condicionado existente permite esse aumento);
  • Utilização de filtros de melhor qualidade (troca e limpeza dos existentes/cuidado com aumento de perda de carga e redução de vazão de ar);
  • Uso de lâmpadas UV-C germicida na face das serpentinas, a ASHRAE tem reforçado muito o uso das mesmas por não permitirem a criação de fungos e bactérias;
  • Controle da umidade relativa entre 40 e 70 %, limites mínimos e máximos de umidade são muito utilizados nas Normas Hospitalares;
  • Uso de tecnologias ativas como a IRC, existem muitos laudos e testes feitos com essas tecnologias ao longo de vários anos;
  • Manter o PMOC em dia;
  • Ligar os sistemas de ar-condicionado pelo menos 2 horas antes da ocupação e desligar pelo menos duas horas depois da desocupação.

Sem dúvida, algumas das recomendações para o período emergencial serão incorporadas ao dia-a-dia das instalações futuras. Nesse caso, é inevitável um impacto sobre a eficiência energética dos sistemas. Entretanto, isso é algo que pode ser mitigado recorrendo-se às novas tecnologias e estratégias de projeto.

“Com o avanço tecnológico embarcado nos sistemas de ar-condicionado convencional houve um grande ganho na eficiência dos sistemas e um vertiginoso aumento na sua utilização e, como consequência, algumas tecnologias foram de certa forma esquecidas. Vejam, por exemplo, a tecnologia evaporativa: Com o desenvolvimento de novos desenhos nos painéis e utilização de novos materiais, a eficiência pode chegar a 95%, o que significa uma temperatura de insuflação muito próxima à temperatura de bulbo úmido externo. Também hoje os painéis são desenvolvidos de forma a minimizar sua perda de carga, portanto há também um ganho de energia no sistema de bombeamento. Os sistemas demandam obrigatoriamente a renovação de 100% do ar e o consumo de energia pode chegar em até 10% de um sistema convencional, portanto, uma solução de resfriamento sustentável. Há poucos, porém ótimos, projetos no mercado, tanto na indústria – linha de montagem em automotivas, cabines de pintura, áreas de produção em geral -, como na área comercial, em supermercados, lojas de departamentos, centros de distribuição, academias, entre outros”, afirma Danilo Santos, gerente de vendas da Munters.

Ainda em relação ao tratamento do ar externo, Santos oferece algumas saídas para aliar a elevação da qualidade com a necessária eficiência energética. “Unidades dedicadas de tratamento de ar externo (DOAS) devem ser especificadas com a classe de filtragem adequada, além de neutralizar as cargas sensível e latente do ar externo. Para melhoria da qualidade do ar de interiores é estratégia conhecida se utilizar da unidade DOAS para controle efetivo da umidade interna. Neste caso, deverá ser selecionada de modo a suprir o ar com umidade inferior ao ponto de neutralização, ou seja, ponto de orvalho mais baixo que o definido pelo set point da área a ser controlada.”

Combatendo a formação do biofilme

Não é apenas o tratamento do ar de renovação que merece atenção. “A formação de biofilme (agua de condensado) provém do processo natural de desumidificação em serpentina de resfriamento,  e a proliferação de microorganismos deve ser combatida com limpeza,  escoamento de água  e lâmpadas UV-C”, alerta Rogério Chamba, das Indústrias Tosi.

Gameiro, da Ecoquest, diz que até pouco tempo atrás, nas aplicações de conforto a prática mais usual era a limpeza química das serpentinas. “Entretanto, com a chegada da pandemia, o uso de lâmpadas UV-C germicidas com o propósito de eliminação do biofilme se tornou uma tendência. A tecnologia de descontaminação por meio de luz UV-C, ou luz ultravioleta germicida (UV-C 100 a 280 nm sendo 253.7 nm a mais comum), consiste na instalação de lâmpadas no equipamento de ar-condicionado, mais especificamente na serpentina evaporadora, para eliminação do biofilme (vírus, colônia de fungos e bactérias) que cresce com a umidade e temperatura elevadas, principalmente quando o equipamento está desligado.”

O diretor da Ecoquest cita diversos estudos comprovando que, se usada na intensidade correta (a ASHRAE estabeleceu níveis mínimos de irradiação de 50-100 μW / cm² na face da serpentina) são capazes de eliminar a carga microbiológica presente no sistema, trazendo, além dos benefícios à saúde, vantagens econômicas devido à dispensa da limpeza com uso de produtos químicos da serpentina e manutenção da performance de troca de calor da mesma, que poderia ser afetada em até 37% para um biofilme de 0,002”. “É importante observar que o uso da luz UV influi diretamente na melhor higienização do equipamento e consequentemente do ar que passa por ele, mas não possui efeito na descontaminação das superfícies e no ambiente tratado”, esclarece.

Gameiro diz, ainda, que o Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) já possui uma série de itens de serviços no sistema de ar-condicionado que são garantidores de uma boa manutenção e limpeza. “O tratamento de água é um item do conjunto de ações que devem ser realizadas no sistema conforme resposta anterior. O tratamento de água ocorre em torres de resfriamento, componente mecânico do funcionamento , que funciona em sistema fechado , não havendo contato da água das torres com o ambiente interno climatizado, somente a água de condensação tem contato com o ar interno insuflado.”

Da redação
redacao@nteditorial.com.br

 

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