Chiller parafuso com inversor e condensação a ar é oferecido com o R-514a e R-1234ze

Os reflexos mais visíveis da implementação da Emenda de Kigali são as transições que os fabricantes estão implementando e divulgando no mercado em sua linha de produtos. Entre as transições, observa-se que adotaram soluções de fluidos refrigerantes com baixo GWP. Essa transição é fruto de um programa de investimento e pesquisa significativo, que os fabricantes de equipamentos de refrigeração e climatização fizeram nos últimos anos para encontrar soluções alternativas de refrigerantes que permitissem uma transição economicamente viável.

Além disso, vemos uma demanda crescente por esse tipo de solução, inicialmente por parte de clientes que possuem algum tipo de meta de sustentabilidade e redução de emissões de carbono. Muitos desses clientes buscam soluções de troca de fluido refrigerante para os equipamentos instalados em suas edificações. Porém, nem sempre encontram soluções viáveis, o que torna necessária a troca dos equipamentos por modelos que trabalham com os novos fluidos.

Em relação às tendências para substituição dos atuais fluidos o cenário tem se consolidado para algumas categorias de produtos. Para outras, temos uma tendência se desenvolvendo, mas é possível que observemos alterações de curso a qualquer momento.

Para os equipamentos de ar-condicionado de expansão direta, que, em geral, são equipamentos que trabalham com fluidos refrigerantes de alta pressão, como o R-410ª, as duas principais alternativas despontando no mercado são o R-454b e o R-32.

Normalmente, chillers com compressores parafuso trabalham com R-134a. Para esses, R-513A e R-1234ze estão sendo apresentadas como alternativas. Atualmente, chillers scroll costumam trabalhar com R-410A e soluções com R-454b e R-32 já estão disponíveis. Para os chillers centrífugos de baixa pressão, soluções com R-514A e R-1233zd estão disponíveis há alguns anos. No entanto, para as centrífugas de média pressão com R-134a, começam a despontar soluções com R-513 e R-1234ze apenas agora.

Reflexos imediatos

O cronograma estabelecido na Emenda de Kigali, à qual o Brasil está submetido, é mais prolongado do que os mercados norte-americanos e europeus, em termos de datas de redução de consumo de HFC, o que permite que muitos equipamentos adquiridos atualmente terão boa parte da sua vida útil dentro de um período no qual os fluidos estariam disponíveis, considerando somente o aspecto regulatório. Portanto, o que esperamos imediatamente é que apenas empresas multinacionais, principalmente europeias, que possuem metas de descarbonização, façam exigências imediatas por soluções com os novos fluidos.

Existem produtos que fazem parte de uma matriz global, sendo produzidos em uma ou duas fábricas em países que já seguem o cronograma de países desenvolvidos e, portanto, já estão executando a transição. Dessa forma, é esperado que produtos como chillers centrífugos e os chillers parafusos mais avançados já estejam disponíveis com os novos fluidos ou até mesmo somente disponíveis com esses novos fluidos. Tudo isso terá um impacto financeiro, pois essas soluções são mais caras em termos de equipamentos e o próprio fluido em si tem um custo maior. Além disso, parte das soluções de fluidos refrigerantes possui algum grau de inflamabilidade e, portanto, trarão maiores custos na instalação em si e forçarão a uma reciclagem dos times técnicos de instalação e manutenção para atualização dos procedimentos.

Como mencionado, instalações de empresas estrangeiras já buscam se adequar à nova realidade, porém, como o cronograma brasileiro se inicia em 2029, com redução de 10% da base de consumo de HFC, ainda há bastante tempo para a utilização das soluções atuais e muitos clientes estão aguardando os custos reduzirem para fazer a transição. Para os times de serviços, entretanto, o tempo de se adequar é agora, visto que cada vez mais encontrarão equipamentos em campo com fluidos com algum grau de inflamabilidade.

Ritmo e profundidade das mudanças nos mercados brasileiro e mundial

 Nos mercados europeus e americanos, o maior impacto nem é tanto a Emenda de Kigali, visto que muitos desses países estão adotando legislações que antecipam as mudanças causadas pela emenda. No mercado americano, por exemplo, diversos estados passaram a regulamentação banindo HFC nos próximos anos, forçando os fabricantes a anteciparem a transição em relação ao proposto pela emenda.

Alguns fabricantes já se anteciparam a essa tendência e, desde 2016, tenho visto soluções com HFO sendo lançadas no mercado. Portanto, em nível global, a transição está acontecendo de forma bem rápida e generalizada. O mercado brasileiro vai a reboque. Os principais e mais sofisticados produtos que são importados virão conforme os novos modelos produzidos para os mercados desenvolvidos. E espera-se que soluções nacionais de baixo custo continuem a estar presentes enquanto o cronograma de Kigali permitir. Uma aceleração desta transição para o mercado nacional pode acontecer, a depender de como os custos dos fluidos refrigerantes HFC evoluem nos próximos anos, visto que o incentivo para os fabricantes de fluidos é reduzir cada vez mais a produção de substâncias que estão sob regulação da emenda e passar a produzir cada vez mais os novos fluidos.

Novos equipamentos e tecnologias

 A Trane lançou em 2017 a linha RTAF de chillers parafuso com inversor e condensação a ar com a alternativa de R-513A. Em 2016, lançou alternativas ao R-123 para seus chillers centrífugos, passando a oferecer o R-514 e R-1233zd. Recentemente, lançamos a linha RTAG de chillers parafuso com inversor e condensação a ar com alternativas de R-514A e R-1234ze. Por fim, todo o restante da linha está sendo alterada e esperamos que, até o final de 2023, todos os produtos produzidos nos Estados Unidos sejam fornecidos com a nova geração.

 Para os chillers scroll e equipamentos de expansão direta como rooftops, a Trane adotou o R-454b por possuir um GWP e um grau de inflamabilidade menores que o R-32. Para os chillers parafusos, temos soluções com R-513A e R-1234ze. O R-513A foi adotado pela facilidade de transição do R-134a, exigindo poucas alterações de projeto. Já o R-1234ze traz um impacto significativo de performance e, por ser levemente inflamável, exige ajustes de projeto e de linha de produção para estes equipamentos. O R-1234ze possui um baixíssimo GWP e, portanto, tem sido uma solução interessante no momento. Os chillers centrífugos Trane são fornecidos com R-514A desde 2017 que, por ser de baixíssimo GWP, possui boa eficiência, não é inflamável e tem pouco impacto em termos de eficiência e performance, sendo que, nos projetos originais de equipamentos, foi adotado como alternativa ao R-123.

Rafael Dutra é coordenador de Aplicação da Trane do Brasil

 

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