Estou em tratamento de águas há 38 anos, acompanhei várias atualizações, o surgimento de tecnologias sustentáveis e até formas de automação do processo ou, quem sabe, monitoramento a distância da qualidade de Águas para AVAC-R.

No início o usuário adquiria produtos, com o passar do tempo, passou a buscar serviços, a melhor tecnologia e hoje, para a surpresa de muitos, tratar águas com qualidade significa conservar, performar e alcançar a tão sonhada eficiência energética.

Necessitamos alcançar os três pilares, porém não podemos esquecer de ser sustentáveis. O mundo hoje busca tecnologias sustentáveis e no Brasil não pode ser diferente; produtos ecologicamente equilibrados, dispersantes que visam manter sob controle ciclos de concentração, monitoramento online, ou seja, existem várias tecnologias que podem ser embarcadas em programas de tratamento.

Existem muitos mitos no mercado que aos poucos começam a ser afastados dos usuários, envolvem principalmente a utilização de águas alternativas, sim, pois mesmo sabedores de que a água do planeta não irá acabar como muitos pensam, sim, porque o ciclo hidrológico que é a fábrica de águas do planeta é o responsável pela reposição de toda água existente em nosso mundo, o problema  está na água doce, que através de contribuições antrópicas nos corpos hídricos, principalmente os superficiais, que se encontram assoreados ao ponto de hoje termos problemas como crises hídricas, elevadas cargas de insumos químicos para o tratamento e disponibilização de água  para a população visando consumo humano. Diante desses fatos precisamos utilizar água de maneira consciente, porém, com critério para a necessidade de ser sustentável não acabar gerando um problema para o processo.

Em muitas oportunidades pude observar projetos para reuso de águas, que muitas vezes acabam sendo esquecidos, pois foram projetados para distribuir água, porém, não foi pensado que existe necessidade de classificação para esse item, pois se temos classificação para uma água para injetáveis, consumo humano, insumos ou matéria primas em indústrias, dentre outras tantas classificações, por que não teríamos para uso em AVAC-R? Essa é a questão: reuso de águas flutua entre investimento financeiro, onde será utilizado e consequentemente a classificação ideal da mesma. Caso o reuso não seja classificado para águas de AVAC-R, o projeto pode estar fadado ao fracasso, e/ou atualizações que irão torná-lo inviável financeiramente.

Os sistemas de AVAC-R, principalmente com torres de arrefecimento, necessitam ter seu programa de tratamento muito bem avaliado antes de ser introduzido no sistema.

Estamos em um país com dimensões continentais, logo característica da água, condições de conservação do sistema, tipo de metalografia e questões sazonais necessitam ser levadas em consideração quando da confecção de um programa de tratamento de águas. Caso não haja a customização do programa de tratamento corremos riscos de o processo não funcionar e termos formações inesperados no sistema, do tipo corrosão, incrustações e desenvolvimento microbiológico. Caso esses três fenômenos aconteçam ou, pelo menos, um deles, podemos ter problemas de perda de espessura de material, ganho excessivo de massa agregada às zonas de redução de velocidade linear ou formações de origem orgânica, sendo essa, além de interferir na performance dos equipamentos, podendo contribuir para problemas de segurança relacionados a saúde dos usuários, principalmente os que lidam diretamente com as torres de arrefecimento.

Outro tipo de projeto muito interessante, bastante utilizado em mercados específicos, são os TAGs (tanques de água gelada), que necessitam de uma atenção especial, haja vista terem grande quantidade de água armazenada.

Esses sistemas são muito utilizados em shopping centers, hipermercados e outros, como dito, são bem específicos e é comum ver no mercado brasileiro problemas em fancoils devido a formações sólidas que acabam obstruindo parcial ou totalmente os filtros Y.  Importante dentro deste contexto compreender que os TAGs, por terem grande volume de água, acabam depositando sedimentos na base dos mesmos.

Outra importante informação que chamo a atenção do leitor é para o sistema de água gelada e o de condensação quando da partida, caso não tenham passado por um programa de tratamento adequado o usuário poderá estar herdando uma não conformidade muitas vezes sem controle, causando paradas não programadas para realização de processos de limpeza e recuperação da eficiência dos sistemas, já testemunhei casos inclusive de perda de equipamentos.

Da mesma forma que mencionei a necessidade de um programa de tratamento específico em sistemas de condensação, em água gelada não é diferente pois, temos variações de qualidade de água e metalografia dissimilar, muitas vezes longas linhas.

Já um outro paradigma que necessita cair por terra é que por serem fechados, sistemas de água gelada não necessitam de importância ou, quem sabe, não necessitam de um tratamento preventivo; caro leitor, corrosão somente necessita de condições favoráveis para acontecer e sistemas de água gelada contam com condições favoráveis para aceleração de processos corrosivos e, a reboque, formação de depósitos nas curvas finais de linhas e em filtros Y.

Hoje o Brasil conta, por intermédio da Abrava, com o DNTA – Departamento Nacional de Tratamento de Águas e com o CNTA – Comitê Nacional de Tratamento de Águas, sendo o primeiro o responsável por discussões técnicas sobre o tema e o segundo tem seu foco no estudo, idealização e confecção de uma recomendação técnica para programas de tratamento de águas a serem utilizado em todo o território nacional.

A ausência de um parâmetro específico faz com que usuários, fabricantes e todos que fazem uso de programas de tratamento de águas tenham dificuldades de compreender a real importância deste item no universo do AVAC-R.

Portanto, sistemas de condensação e suas torres continuam sendo muito bem-vindos ao processo de arrefecimento, pois, quando o sistema recebe um programa de tratamento de águas específico, devidamente balanceado de modo a obedecer a todas as variáveis do mesmo, a tendência é que o resultado seja conservação/performance/eficiência energética.

Lembrando que Água é uma prioridade.

Charles Domingues é Químico, graduado em Gestão Ambiental, especialista em: águas para AVAC-R, engenharia ambiental, química ambiental, saneamento ambiental, além de perito e auditor ambiental, professor nas Universidades Unigranrio – RJ, membro do Qualindoor, fundador do DNTA, presidente do CNTA, Conselheiro CRQ III, diretor de formação profissional da Abrava e membro da Câmara Técnica de Meio ambiente CRQIII

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