A norma brasileira ABNT NBR 7256, Tratamento de ar em estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS) – Requisitos para projeto e execução de instalações foi publicada em 06/08/2021 e a emenda 1 em 31/10/2022

Houve muitas e profundas modificações em diversos tópicos que redundaram na necessidade de aplicação de equipamentos com características técnicas operacionais especiais resultando em maior investimento por parte do cliente final.

Os grandes grupos empresariais de uma forma ou de outra conseguem absorver os valores praticados no mercado pelos fabricantes de produtos da linha hospitalar. Contudo, consultórios, clínicas médicas e odontológicas, jurídicas ou pessoas físicas não dispõem de capital para implantar as exigências descritas na nova Norma para EAS.

O assunto está sendo comentado no DNPC (Departamento Nacional de Projetistas e Consultores) da Abrava, onde os profissionais têm exposto a dificuldade de implementar as orientações em projetos, principalmente, de médio e pequeno porte.

Analisando as tabelas do Anexo A (normativo), Parâmetros de projeto, desde a A.1 até A.7 divididas em 11 (onze) colunas: ambientes, tipo de ambiente (AII, AA, AO, PE), nível de risco, situação a controlar (AgB, AgQ, AgR, TE, EQ), nível de pressão, vazão mínima de ar exterior (renovação por hora), vazão mínima de ar insuflado (número de movimentações por hora), exaustão total do ar ambiente, classe de filtragem do ar insuflado, T °C, UR %, verificamos que dentre os 84 (oitenta e quatro) ambientes com classificação de filtragem encontramos:

– 12 (doze) ambientes com filtragem mínima G4 + F8 + ISO 35H – 14,29% do total;
– 60 (sessenta) ambientes G4 + F8, 71,43% do total;
– 3 (três) G4 + M5, 3,57 do total;
– 3 (três) M5, 3,57% do total, e;
– 6 (seis) G4, 7,14% do total.

A filtragem com filtros finos F8 e absoluto correspondem a 85,72% dos ambientes, sendo que a umidade relativa do ar deverá ser em todos de no máximo 60%, ou entre 40 e 60% para alguns poucos.

Para atender a filtragem e controle de umidade necessitamos de máquinas equipadas com dispositivos eletromecânicos que atendam principalmente:

– vazão mínima de ar insuflado (movimentação de ar);
– classe de filtragem;
– controle de temperatura e umidade relativa do ar.

Já o item renovação de ar exterior pertence a um sistema complementar independente (UTAE, DOAS), ou que pode ser incorporado à recirculação (mistura de ar exterior + ar de retorno em UTA).

Diante das questões acima, desenvolvemos soluções para atender os aspectos técnicos apresentados na NBR 7256, porém com menor investimento, especificando equipamentos convencionais do mercado de ar-condicionado.

A solução poderá ser aplicada para ambientes individuais, ou para diversos ambientes operando em conjunto, desde que atendam ao item 7.2.2 da NBR 7256:

“A recirculação do ar ambiente é permitida se for proveniente do próprio ambiente, ou de ambientes do mesmo nível de risco, e pertencentes à mesma zona funcional, exceto ambientes de isolamento de infecções por aerossóis (AII), materiais contaminados e emissão de vapores/gases. Este ar de recirculação deve possuir a mesma classe de filtragem e, desde que admitido na entrada do condicionador, atendendo às limitações descritas nesta Norma.”

Podemos tomar como exemplo inicial, um consultório médico com 20 m², pé direito de 3 m, volume de 60 m³, nível de risco 1, nível de pressão positiva, vazão mínima de ar exterior de 2 (duas) renovações por hora, vazão mínima de ar insuflado de 6 (seis) movimentações por hora, classe de filtragem G4 + F8, temperatura de 20 a 24°C e umidade relativa do ar de no máximo 60%, segundo tabela A.7, ambientes diversos da NBR 7256:

Propomos a solução da Figura 1 com os seguintes componentes:

1 – condicionador de ar do tipo hidrônico de água gelada, evaporador VRF ou split, com filtragem convencional para resfriamento do ar ambiente, modelos parede, K7 ou embutido sobre o forro para atender a temperatura ambiente de 20°C a 24°C;

2 – insuflador para 34 L/s com micro moto ventilador, filtragem G4 para atender as 2 (duas) renovações por hora de vazão mínima de ar exterior, e a pressão positiva do ambiente;

3 – insuflador para 100 L/s com micro moto ventilador, filtragem G4 + F8 para atender as 6 (seis) movimentações por hora de vazão mínima de ar insuflado;

4 – desumidificador portátil de ambiente, capacidade para 60 m³, de forma a manter a umidade relativa do ar até o máximo de 60%.

Todas as premissas apontadas e estabelecidas na NBR 7256 foram atendidas.

Se fosse uma sala de tratamento dentário (tabela A.7 – ambientes diversos) implementaríamos um micro ventilador com 40 L/s de forma a conseguirmos pressão negativa no ambiente.

Para o caso de dois ou mais consultórios ou salas de tratamento dentário podemos replicar a solução acima apresentada.

Para EAS do mesmo nível de risco, com muitos ambientes pertencentes à mesma zona funcional, sugerimos a solução da Figura 2 (dentre outras que podem ser projetadas) com os seguintes componentes para instalações de água gelada:

1 –Climatizador hidrônico, modelo embutido sobre o forro.

Sistema de água gelada com válvula de duas ou três vias com atuador sendo operacionalizado por sinal analógico de sensor de umidade relativa do ar ambiente ajustado para umidade relativa do ar de, no máximo, 60%.

O equipamento poderá ser equipado com resistência elétrica e seus acessórios de proteção, ou serpentina de água quente instalada no duto de insuflação com válvula de duas ou três vias com atuador sendo operacionalizado por sensor analógico de temperatura de bulbo seco ambiente ajustado para temperatura ambiente de 20 a 24°C;

2 – Unidade de tratamento do ar externo (UTAE ou DOAS) equipada com moto ventilador, serpentinas de água gelada e água quente, filtragem G4 para atender as 2 (duas) renovações por hora de vazão mínima de ar exterior e pressão positiva para todos os ambientes;

3 – Unidade ventiladora insufladora equipada com moto ventilador, filtragem G4 + M5 para atender as 6 (seis) movimentações por hora de vazão mínima de ar insuflado para todos os ambientes;

4 – caixa porta filtros equipada com filtragem G4 + F8;

Todas as premissas estabelecidas na NBR 7256 foram atendidas.

Para EAS do mesmo nível de risco, com muitos ambientes pertencentes à mesma zona funcional, sugerimos a solução da Figura 3 (dentre outras que podem ser projetadas) com os seguintes componentes para instalações com evaporadores VRF e/ou splits individuais:

1 –Evaporadores DX modelos embutido sobre o forro, hiwall, ou K7 de uma, duas ou quatro vias.

Os evaporadores DX, VRF ou splits infelizmente ainda não permitem serem operacionalizados por sensores analógicos de umidade relativa do ar. O controle é exclusivamente pelo controle de temperatura de bulbo seco do ambiente, e ajustado para temperatura ambiente de 20° a 24°C.

O controle da umidade relativa do ar de, no máximo, 60% deverá ser de forma indireta, isto é, o ar exterior introduzido nos ambientes será filtrado com filtros G4, resfriado, desumidificado pelo menos a 7,6 g/kg e reaquecido de 18°C a 20°C. Opcionalmente poderíamos adotar desumidificadores portáteis individuais para cada ambiente, conforme figura 1.

2 – Unidade de tratamento do ar externo (UTAE ou DOAS) equipada com moto ventilador, serpentinas DX e serpentina de água quente (preferencialmente gerada por bombas de calor), filtragem G4 para atender as 2 (duas) renovações por hora de vazão mínima de ar exterior e pressão positiva para todos os ambientes;

3 – Unidade ventiladora insufladora equipada com moto ventilador, filtragem G4 + M5 para atender as 6 (seis) movimentações por hora de vazão mínima de ar insuflado para todos os ambientes;

4 – caixa porta filtros equipada com filtragem F8;

Todas as premissas estabelecidas na NBR 7256 estão sendo atendidas, mesmo que de forma indireta no aspecto da umidade relativa do ar.

Para ambiente de isolamento de infecções por aerossóis AII propomos a solução da Figura 4.

Exemplo: quarto AII, com antecâmara, tipo bolha, com recirculação, 20 m², pé direito de 3 m, volume de 60 m³, tipo nível de risco 3, nível de pressão negativa, vazão mínima de ar exterior de 2 (duas) renovações por hora, vazão mínima de ar insuflado de 12 (doze) movimentações por hora, classe de filtragem G4 + F8 + ISO 35H, temperatura de 20 a 24°C e umidade relativa do ar de, no máximo, 60%, segundo item 6.3 e desenho C.2.3 do Anexo C da NBR 7256.

1 – condicionador de ar do tipo hidrônico de água gelada ou evaporador VRF ou split, com filtragem convencional para resfriamento do ar ambiente, modelo embutido sobre o forro para atender de 20°C a 24°C com controle de temperatura local;

2 – insuflador para 134 L/s com micro moto ventilador, filtragem G4 + F8 para atender as 2 (duas) renovações por hora de vazão mínima de ar exterior, e a pressão positiva (++) da antecâmara com 100 L/s, e pressão positiva (+) do quarto AII com 34 L/s;

3 – caixa de ventilação com moto ventilador, filtragem G4 + M5, 200 L/s para atender as 12 (doze) movimentações por hora de vazão mínima de ar insuflado;

4 – caixa porta filtros equipada com filtragem F8 + ISO 35 H;

5 – exaustor centrifugo, simples aspiração, arranjo 4, para 69 L/s (banheiro com 35 L/s e quarto com 34 L/s) (vide parágrafo 6.3, item k da NBR 7656);

6 – desumidificador portátil de ambiente com capacidade para 60 m³ de forma a manter a umidade relativa do ar até o máximo de 60%;

7 – damper corta fogo e corta fumaça;

8 – difusão de insuflação de ar;

9 – difusão de movimentação de ar;

10 – retorno de ar (vide parágrafo 6.3, item n da NBR 7256);

11 – movimentação de ar (idem acima);

12 – exaustão de ar (idem acima);

Todas as premissas estabelecidas na NBR 7256 estão sendo atendidas.

As soluções acima apresentadas nas figuras 1, 2, 3 e 4 são apenas sugestões que podem receber implementações técnicas de forma a contribuir com a comunidade da engenharia de ar-condicionado.

Mário Sérgio Almeida é engenheiro, diretor da MSA Engenharia de Projetos e ocupou a Presidência do DNPC entre 2017 e 2019

 

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