Talvez isso se dê devido ao nosso clima, em geral pouco desafiador

No meu entendimento, os requisitos de conforto estabelecidos na Ashrae Standard 55 continuam os mesmos, e estão relacionados com 6 fatores primários: taxa metabólica, tipo de vestimenta dos ocupantes, temperatura do ar, temperatura radiante, velocidade do ar e umidade do ar. Com base nestes parâmetros, é calculado o voto médio previsto, que entre -0,5 e 0,5 resultará em percentual previsto de ocupantes desconfortáveis menor que 10% do total de ocupantes nas zonas climatizadas. Talvez o que caiba aos projetistas avaliarem é se através deste cálculo é possível trabalhar com ambientes com setpoint de temperatura mais elevados para fins de economia de energia. Porém, os conceitos em si não mudaram.

Seguindo os parâmetros já estabelecidos, e respeitando temperatura e umidade para mitigar a proliferação de bactérias e fungos, podemos melhorar a qualidade do ar em ambientes internos. Ambientes com umidade fora de controle serão ambientes com a qualidade do ar interno prejudicada.

Consumo energético

Desde que o cálculo do PMV (voto médio previsto) seja realizado, e garantidas as condições de conforto, o projetista pode avaliar cenários de temperaturas de setpoint mais elevadas para resfriamento ou mais baixas para aquecimento, reduzindo assim a carga térmica da edificação e, portanto, o consumo de energia.

Uma vez realizado o cálculo de carga térmica e análise psicrométrica, a seleção dos equipamentos deve seguir o cálculo psicrométrico do projetista. Cada trocador de calor deve ser avaliado por sua capacidade de fornecer uma certa vazão mássica de ar a uma temperatura e umidade de acordo com as condições do ar entrando nesse trocador. Esta é uma etapa bastante negligenciada nas aplicações de conforto térmico e não é incomum equipamentos serem selecionados somente pela capacidade nominal de transferência de calor, ignorando as temperaturas. De forma geral, os equipamentos voltados para conforto térmico são desenvolvidos tendo em mente condições típicas de temperatura, velocidade e vazão de ar, água ou refrigerante, portanto, de certa forma, os equipamentos já foram desenvolvidos tendo isto em consideração. Condições diversas de aplicação podem exigir um projeto diferenciado de equipamentos.

Automação

Quando falamos em aplicações de conforto térmico, infelizmente observamos uma frequente negligência do controle de umidade. Talvez por sermos abençoados pelo clima, menos exigente de forma geral, encontramos condições suficientemente toleráveis, sem tanta necessidade de controle apropriado do sistema de climatização. Talvez possamos citar o desconhecimento dos usuários sobre o que esperar ou exigir dos ambientes climatizados, o que pode até fazê-los associar ambientes climatizados com algum desconforto, o que é um completo absurdo que deveria nos indignar, mas é uma realidade. Portanto o que eu posso dizer é que, embora nada novas, as condições de conforto exigem, sim, um sistema de automação capaz de garantir uma faixa de umidade nos ambientes, e os projetos de climatização deveriam ser acompanhados impreterivelmente do projeto de automação do sistema de climatização, controlando temperatura, umidade e vazão do ar, sendo possível até integrar com tecnologias ativas de sombreamento de janelas para regular o fluxo de iluminação ao longo do dia. E aqui falo de sistemas de automação que realmente são apropriados para controlar sistemas de climatização, indo além de um simples liga-desliga em uma programação horária.

Rafael Dutra é coordenador de aplicação da Trane e membro do Conselho Editorial da revista Abrava + Climatização & Refrigeração

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