Publicou-se recentemente nesta revista sobre a importância de estruturar os planos de trabalho de manutenção para assegurar o cumprimento da função para a qual o equipamento ou sistema (ativo) foi projetado. Complementarmente, definiu-se a função de um ativo como sendo:

– O cumprimento da lógica ou sequência funcional prevista

– O desempenho técnico projetado para o ativo, ou condições que deverão ser “entregues” pelo equipamento ou sistema (vazão, pressão, temperatura etc.) ao usuário da edificação

Os sistemas de automação já integram há muito os projetos de AVAC-R, sendo responsáveis diretos pela performance dos sistemas, incluindo o controle de temperaturas, umidade, vazões, carregamento ou descarregamento de instalações centrais, entre outros.

Trata-se, na realidade, de um “segundo” sistema (de controles) que integra a instalação comdiferentes tipos de sensores e/ou medidores em pontos estratégicos, assim como de moto atuadores, unidades controladoras e gerenciadoras integradas por uma rede à uma base centralizada de monitoramento, controle e gestão.

Pode-se afirmar que a sua abrangência e atuação será de fundamental importância para que as instalações de AVAC-R cumpram de forma tecnicamente adequada a função para as quais foram projetadas.

Observa-se como exemplo:

Centrais de água gelada e de condensação

Reúnem as unidades resfriadoras de líquido, conjuntos motobombas de água gelada em circuito único variável, circuitos primário e secundário variável, conjuntos motobombas de condensação (quando tratar-se de unidades resfriadoras com condensação a água), torres de resfriamento, sistemas de bypass com vazão constante ou variável, entre outros componentes.

Nestes casos, dependendo do projeto implantado, o sistema de controles e automação poderá atuar sobre:

– O monitoramento de temperaturas e atuação lógica no acionamento de estágios na instalação,

– A medição direta ou virtual de carga térmica na edificação, atuando segundo a lógica implantada para a partida, carregamento ou descarregamento de unidades resfriadoras de líquido,

– A medição de vazões, atuando sobre inversores de frequência em conjuntos motobombas, assegurando a manutenção de vazões em faixas estabelecidas por fabricantes,

– O fechamento e abertura de válvulas automáticas de bloqueio em linhas de água de condensação e de água gelada, dependendo da lógica implantada, entre outras funcionalidades.

Existem ainda importantes interfaces em relação às IHMs[1] de equipamentos que asseguraram o espelhamento em centrais de automação, auxiliando na gestão do sistema ou instalação.

Centrais de pressurização de escadas de emergência

Centrais que reúnem conjuntos moto-ventiladores pressurizadores, assim como dispositivos de controle incluindo:

– O monitoramento da pressão no insuflamento, ou mesmo a pressão na caixa de escada, atuando sobre o(s) ventilador(es) em operação conforme lógica estabelecida em projeto para atender a ABNT NBR 14880,

– A comutação entre ventilador principal operante e equipamento reserva / em stand-by, quando da ocorrência de falha,

– O monitoramento de status do sistema em paralelo ao verificado no sistema de alarme (SDAI).

Em ambos os exemplos, tem-se a instalação física de sensores e moto-atuadores no campo, integrados ao sistema de automação e controle predial por uma malha ou rede. Importanteressaltar que estes componentes em automação nem semprese encontram em locais de fácil acesso ou de boa manutenibilidade, dificultandouma adequada manutenção.

Ressalta-se, ainda,a dependência entrea performance do sistema de automação e o nível de confiança sobre seus componentes e instrumentos embarcados, o que demandará por cuidados quanto ao contínuo monitoramento de leituras e resultados, quanto a aferição e calibração de sua instrumentação, além da própria manutenção.

Concluída a introdução acima, tem-se, como grande questão,como assegurar a adequada manutenção em sistemas de automação em uma instalação?

Para que se possa responder à pergunta acima, deve-se inicialmente elencar e esclarecer alguns pontos que podem se transformar em grandes ofensores quando o assunto é a manutenção, sendo estes:

O conhecimento pleno da instalação e sua funcionalidade

Algumas empresas têm por objetivo estabelecer,durante o planejamento, o foco sobre equipamentos e sua manutenção física sem se ater, no entanto, aos detalhes relacionados com a sua performance e operação.

O desempenho de um sistema ou instalação não está necessariamente e exclusivamente relacionado à condição do ativo, mas, também, à forma como sedá a operação do ativo e demais sistemasà ele integrados.

Observe-se, por exemplo, o desempenho de um resfriador de líquido em uma Central de Água Gelada e sua dependência direta em relação às vazões e temperaturas de água gelada e água de condensação que passam por seus trocadores de calor. Por conceito, sabe-se que a eficiência de um trocador de calor está diretamente relacionada às condições de seus fluidos, tais como vazões, velocidades e temperaturas.

Ainda assim, se observa no mercado a recorrência de falhas envolvendo o acionamento equivocado de seus conjuntos motobombas (associação de bombas), resultando em uma menor ou maior vazão em relação à considerada para o projeto do resfriador, prejudicando o seu desempenho e a performance da CAG.

Tais falhas são constatadas tanto no modo manual de operação, quanto através de comandos emitidos remotamente pelo sistema de automação, demonstrando a falta de conhecimento e compreensão sobre o sistema operado.

O respeito em relação às rotinas operacionais e sequências funcionais estabelecidas em projeto será de fundamental importância para atingir a melhor performance em um sistema ou instalação, razão pela qual caberá à empresa responsável:

Compreender o sistema sob a sua responsabilidade

– Mapear os processos de operação, transformando-os em procedimentos operacionais ou POPs,

– Capacitar a sua equipe local de operação e manutenção, assegurando a reciclagem sempre que necessário,

Interdependência entre operação e manutenção para o resultado

Sendo assim, os operadores deverão conhecer em detalhes toda a instalação, suas potenciais funcionalidades, lógicas e sequências operacionais, condições para uma operação em modo de contingenciamento (quando existir) e, consequentemente, a função e importância de seus sistemas de automação e controles.

O mapeamento de sistemas no campo e sua adequada identificação

Uma vez compreendida a função e condições operacionais de um sistema ou instalação, tornar-se-á importante mapear a sua localização no campo, identificando e classificando os componentes de automação que também receberão os cuidados de manutenção.

Este procedimento deve ser cuidadosamente realizado, haja vista que sensores, transdutores, atuadores, entre outros componentes da automação, podem passar desapercebidos na instalação em campo. É necessário que se conheça a sua importância e localização, sendo recomendável a adoção de um processo de cadastramento similar ao utilizado para equipamentos.

O conhecimento de ajustes e regulagens resultantes do processo de comissionamento ou recomissionamento

Adicionalmente ao processo de cadastramento e tagueamento de componentes da automação no campo, será necessário registrar os valores ajustados ou referenciais conforme previstos em seu projeto as built, ou mesmo os valores resultantes de procedimentos de comissionamento,recomissionamento ou retrocomissionamento na instalação.

De forma recorrente em várias operações, nota-se que os responsáveis não resguardam ou mantêm o ajuste de parâmetros previstos no projeto, assim como não prestam a devida atenção aos valores medidos e sua correspondência com o especificado em databooks ou projetos. Observa-se, ainda, uma certa ponderação sobre leituras, sem que qualquer análise técnica e especializada tenha sido conduzida.

Considerando o elevado índice de turnover em algumas operações, torna-se muito fácil perder referências e deixar de reter o conhecimento necessário a uma segura operação, quando não se institui um adequado planejamento e programa de treinamento.

A manutenção de leituras ou medições confiáveis

Outro ponto interessante a ser destacado refere-se à(equivocada)crença de que instrumentos de campo não precisam ser calibrados e aferidos com regularidade.

Todo e qualquer instrumento precisa ser periodicamente reavaliado quanto a sua calibração, condição esta que deve ser incluída em seu plano de manutenção. Além disto, requer-se o contínuo acompanhamento de resultados pelo operador, pois incidentes poderão ocorrer dentro de um período de espera até a nova calibração, o que justificaria a sua antecipação.

A atribuição de responsabilidades, incluindo a gestão de resultados da operação e manutenção

Nota-se, portanto, que haverá a necessidade de um monitoramentocontínuo e técnico de resultados em uma operação, exigindo um conhecimento mínimopor parte de seus operadores.

No entanto, destaca-seuma importante falha recorrente no mercado no tocante a contratação de equipes de operação de sistemas de automação sem qualquer conhecimento técnico e funcional a respeito dos sistemas sob a sua responsabilidade (operação remota).

Diferentemente do que se vê em algumas operações fora do Brasil, ou mesmo em operações dentro do segmento industrial, quando utilizada a própria equipe técnica de operação e manutenção para atuar no BMS[2], ainda se observa a operação feita por profissionais de automação ou segurança patrimonial sem qualquer base técnica e capacitação para cumprir tal função. Reforça-se que esta condição poderá induzir à ocorrência de falhas, ou mesmo o retardamento em se tomar medidas corretivas necessárias por falha ou omissão na interpretação de dados e resultados.

Neste sentido, recomenda-se atuar com a própria equipe técnica, devidamente treinada, na operação remota e gestão dos resultados em sistemas de automação predial ou industrial.

Apenas a título de ilustração, uma das maiores plantas de refrigerante no mundo possui uma operação 24 horas de todo o seu sistema de utilidades (água gelada, água quente, ar comprimido, água deionizada etc.) conduzida por apenas dois técnicos de manutenção, devidamente treinados. Este procedimento de operação ainda prevê o revezamento periódico de um dos postos entre rondas no campo e monitoramento remoto.

Adicionalmente, equipes tecnicamente capacitadas poderão identificar e antecipar não conformidades ou potenciais falhas, mitigando riscos de paralizações parciais, ou mesmo antecipar ações corretivas necessárias.

Portanto, considerando que a operação remota através de sistemas de automação predial deve ser compreendida e considerada como a gestão da operação, recomenda-se:

– Estabelecer responsabilidades,

– Treinar os operadores técnicos,

– Instituir rodízios inteligentes dentro da operação,

– Capacitar a equipe para a antecipação de falhas.

Por fim, nota-se que o sistema de automação embarcado exigirá a adoção de cuidados similares ao já praticadosna manutenção em equipamentos, envolvendo:

– A compreensão sobre o sistema e o mapeamento e cadastramento de documentos e informações,

– O cadastramento dos ativos de manutenção relacionados ao sistema de automação, seguindo-se o mesmo conceito já abordado para instalações,

– A elaboração de procedimentos operacionais e planos de treinamento visando a retenção do conhecimento,

– A capacitação das equipes envolvidas na operação,

– A instituição de um modelo e procedimentos de monitoramento e gestão dos resultados da operação, obtidos através do BMS implantado,

– A elaboração de planos de manutenção preventiva, detectiva e prescritiva para as instalações que compõem o sistema de automação.

Deve-se,ainda,prever uma análise periódica quanto a necessidade de atualização tecnológica de sistemas de automação, haja vista a inevitável presença de fatores como a deterioração (fim da vida útil) e a defasagem tecnológica. Para esta análise periódica, recomenda-se não excederum período máximo de 3 (três) anos.

Alexandre M. F. Lara, Diretor Técnico na A&F Partners Consulting

[1]IHM – Abreviação de Interface Homem Máquina, ou seja, o painel de controle e ajustes que integra equipamentos instalados no campo, permitindo o comando e controle de parâmetros pelo operador.

[2]Sigla em inglês para Building Management System ou em português, Sistema de Automação Predial.

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