Inquestionavelmente, o VRF tem crescido bem mais do que os sistemas de água gelada. No entanto, não se pode falar em substituição de um pelo outro. Há situações em que os sistemas de expansão indireta são insubstituíveis, em outros, o VRF pode cumprir com o mesmo brilho, ou até superior, as necessidades da edificação. Para discorrer a respeito, realizamos entrevistas com dois especialistas de empresas líderes de mercado. Pela Midea Carrier, falou Ricardo Suppion, especialista de marketing de produtos. Rafael Rebelo, líder nacional de aplicação VRF, representou a Trane. O resultado pode ser acompanhado abaixo.
A+CR: Quais os principais avanços da tecnologia VRF desde o seu crescimento no mercado mundial?
Rafael Rebelo: Com evolução constante há mais de uma década e apresentando crescimento superior aos demais sistemas no mercado durante a pandemia, o VRF vem apresentando ano após ano novas tecnologias que proporcionam melhora em eficiência energética, segurança e confiabilidade do sistema.
Ricardo Suppion: Os avanços são consideráveis, desde a transição de compressores de velocidade fixa para compressores digital, depois para velocidade variável e, finalmente, velocidade variável com tecnologia DC que está presente nas unidades externas e internas, sistema de recuperação de óleo, ventiladores e bombas de dreno mais modernas que proporcionam menores níveis de ruído, extenso range de unidades internas, passando por sistemas de controle e automação aprimorados, possibilidade de atendimento de longas distâncias e desníveis e, é claro, o avanço dos níveis de eficiência energética. Outro ponto importante é em relação à capacidade de uma instalação; hoje já conseguimos atender a sistemas de até 120HP compostos por três unidades de 40HP cada.
A+CR: Como os avanços impactam o mercado de água gelada?
Rafael Rebelo: Redundância de compressores e condensadores, temperatura de evaporação variável, condensadoras com capacidade de módulo de até 40 HP e sistemas de controles cada vez mais personalizados e integrados com diferentes tipos de automação são alguns dos motivos que promovem o sistema VRF a protagonista no mercado de AVAC atual.
Este protagonismo vem, pouco a pouco, conquistando parte do mercado de água gelada existente. Tanto em novos empreendimentos ou em retrofits, o VRF tem sido uma ótima opção pelo baixo custo de implementação, facilidade de comissionamento com sistema de controles e inúmeros sensores já embarcados. Outra vantagem é a possibilidade de uso de unidades de tratamento de ar externo e AHUs com filtros de ar mais eficientes e controles de temperatura e umidade.
Ricardo Suppion:Os sistemas VRF trouxeram impactos não somente para o mercado de água gelada, mas, também, para o mercado de expansão direta que anteriormente era atendido predominantemente por equipamentos do tipo self contained e splitões. Devido a sua modularidade os sistemas VRF passaram a ser uma alternativa a instalações multiusuários, por exemplo, trazendo a flexibilidade e independência de sistemas rateio de energia dentre outras possibilidades. Quando falamos sobre modernização de edifícios onde há problemas de espaço para passagem de tubulações e dutos, os sistemas VRF ajudam a reduzir o impacto estrutural devido a maior flexibilidade para distribuição do peso e menor diâmetro de tubulações, além de passarem a conquistar a preferência de muitos clientes que desejam ter o contato com apenas um fornecedor, enquanto em sistemas de água gelada, existe a necessidade de discutir equipamentos com diversos fornecedores de chillers, fan-coils, bombas, válvulas, automação etc. Outras duas aplicações importantes para sistemas VRF são a sua utilização na modernização de residências de médio e alto padrão que utilizavam água gelada no passado e para climas mais frios, onde a função aquecimento é importante. O VRF por ser Heat Pump diminui bastante o custo das instalações. Eu diria que com a chegada dos sistemas VRF o mercado passou a possuir flexibilidade de escolha e a possibilidade de trabalhar com sistemas híbridos, sendo aplicados equipamentos de expansão direta em áreas de conforto e expansão indireta (água gelada) em áreas de processo dentro de um mesmo empreendimento.
A+CR: Em se tratando do controle da umidade, os VRFs já podem se igualar a sistemas de água gelada? Seriam necessárias instalações especiais visando esse propósito?
Rafael Rebelo: Há de se atentar para as especificidades do projeto. Muitas vezes a necessidade de grande precisão em controle de umidade e temperatura em ambientes como salas limpas, ambientes hospitalares e data centers, faz da água gelada a melhor opção. Por mais que seja possível o uso de AHUs com umidificação e aquecimento, o VRF sofre com limitação de temperatura do fluido refrigerante, enquanto a água gelada apresenta grande versatilidade para tais situações.
Ricardo Suppion: É uma questão de difícil resposta. Sistemas de expansão direta como o VRF podem ser aplicados para controle de umidade em instalações onde a movimentação de ar não são muito grandes e onde a precisão necessária não seja muito restritivo ou crítico, mas, quanto maior o volume de ar ou mais crítico o nível de precisão, mais difícil o controle através de expansão direta, sendo a água gelada a mais recomendada para estes casos ainda.
A+CR: Da mesma maneira, em termos do tratamento do ar de renovação e da qualidade do ar interno, o desempenho é similar?
Rafael Rebelo: O mesmo não se pode dizer de sistemas de tratamento de ar. Como já mencionado, o VRF tem grande integração com unidades de tratamento de ar que permitem o uso de elementos filtrantes especiais. Nada a desejar em relação aos sistemas de expansão indireta.
Ricardo Suppion: Com a tecnologia disponível hoje não existem limitações para sistemas VRF em relação a renovação de ar e/ou controle de qualidade do ar. Os sistemas VRF possuem unidades para tomar ar externo e insuflar no ambiente, inclusive com trocadores de calor, diminuindo a carga necessária do sistema. Além disso, as unidades externas podem trabalhar em conjunto com unidades internas do tipo AHU, considerando assim as vazões e níveis de filtragens exigidos por normas técnicas. Neste sentido, desde que se utilize as unidades internas corretas, os sistemas VRF estão aptos para atender as exigências normativas em ambientes que necessitam de uma maior qualidade do ar interior.
A+CR: Os sistemas VRF podem substituir os sistemas de água gelada em todas as aplicações? Quando instalações de água gelada são insubstituíveis?
Rafael Rebelo: Com todo o esclarecimento é possível entender que cada sistema tem sua aplicação ideal. Em empreendimentos com muitos espaços e diferentes temperaturas e cargas variáveis, o sistema VRF leva vantagem.
Em grandes ambientes que demandam controle de temperatura constante como
aeroportos, indústrias e shoppings, a água gelada é a melhor opção. Em grandes sistemas de armazenamento de energia com tanques de gelo e districtcoolings, a água gelada ainda reina absoluta.
Ricardo Suppion: Eu diria que são sistemas complementares. Enquanto sistemas com água gelada são os mais recomendados para processos industriais e aplicações com alta precisão de controle de umidade, os sistemas VRF possuem características modulares e podem ser muito bem aplicados em modernizações de edifícios e instalações de conforto, como exemplificado anteriormente. Enfim, não é possível afirmar que um sistema é substituto do outro e, sim, que devem ser avaliados criteriosamente conforme a aplicação do projeto, restrições técnicas e/ou normativas.