Na edição 51 de Junho de 2018, a revista Abrava + Climatização e Refrigeração, dando sequência à uma série de artigos do Departamento Nacional de Empresas Projetistas e Consultoras (DNPC ABRAVA), publicou o artigo com o título acima (http://www.engenhariaearquitetura.com.br/2018/06/sistemas-de-insuflacao-pelo-piso-questoes-e-solucoes) assinado pelo Engº George Raulino. O assunto mereceu alguns esclarecimentos do Engº Celso Simões Alexandre, presidente da Trox Latinamerica, profissional com larga experiência no assunto. Na sequência, o engenheiro George Raulino fez sua manifestação final a respeito. Abaixo publicamos os dois textos.

“Recebemos recentemente a revista Abrava + Climatização e Refrigeração nº 51 de Junho 2018, com o excelente artigo Sistemas de insuflação pelo piso – questões e soluções, assinado pelo Engº George Raulino, a quem parabenizamos por nos ajudar a defender a ideia há muito tempo propagada pela Trox que os sistemas de fluxo de deslocamento (Displacement Ventilation, DV) em que o ar insuflado pode ser “entregue” ao ambiente por difusores no piso, e aí são também UNDERFLOOR AIR DISTRIBUITION,UFAD, mas também junto às paredes perto do solo, ou mesmo pelo teto, e aí são sistemas de “displacement ventilation” e  não mais sistemas UFAD, são os que melhor atendem o grande objetivo de Qualidade do Ar.

Um ponto ou outro, contudo, gostaríamos de comentar.

O que nos EUA é normalmente chamado de UFAD, o ar é “entregue “ ao ambiente em regime  turbulento e a zona de estratificação, onde se acumula a poeira, começa normalmente a cerca de 2 metros do do piso e com isso se perde uma das grandes qualidades destes sistemas que é a de criar correntes naturais de convecção de baixo para cima, fazendo que cada pessoa respire seu próprio ar e, por isso, digamos, sem contaminação cruzada.

Nos sistemas de DV o objetivo é a formação da famosa “lagoa ou mar” de ar, injetando o ar a cerca de 17-18 °C. Nos sistemas UFAD, versão americana, pode-se diminuir um pouco essa temperatura e com isso objetivar diminuição da vazão de ar, mas nas experiências práticas em projetos que a Trox tem participado, principalmente para os edifícios comerciais, não chegamos a ter significativa diminuição da vazão de insuflação do ar. Se o ambiente a climatizar for muito alto, isso pode acontecer dependendo da localização das grelhas de retorno.

A vazão de insuflação de ar pode, sim, diminuir se no cálculo de carga térmica levar-se em conta o componente de radiação ou convecção da carga liberada por fontes de calor internas, lembrando que a parte de convecção é carga de máquina, mas não carga de sala.

As considerações no artigo sobre aumento de temperatura no plenum de insuflação, cuidados na distribuição do ar, seleção e posição de difusores de insuflação e das grelhas de retorno, difusores possivelmente com vazão de ar regulados por termostatos, são extremamente importantes e oportunos, bem como o controle do ponto de orvalho.

Um alerta nos sistemas com difusores de regulação automática é que o controle pode se tornar mais complicado. Quando se fecha um difusor, o ar que deixa de ir para esse difusor pode ir para o próximo, o termostato deste reage e sente a temperatura mais baixa, devolvendo o ar para o primeiro ou para o próximo, e o sistema pode ficar instável.

Desde já agradecemos a compreensão de todos, e nos colocamos à disposição para mais esclarecimentos.

Atenciosamente,

Celso Simões Alexandre                                                   

Presidente da Trox Latinamerica”

 

Os esclarecimentos do engenheiro George Raulino:

“Agradeço os comentários do Engº Celso Alexandre, do qual reconhecemos seus largos conhecimentos no nosso campo de trabalho. Este hábito de haver comentários e críticas a um artigo publicado, como é feito mundo a fora e com complementares comentários dos autores, é extremamente saudável ao debate e ao desenvolvimento de nosso campo de trabalho. Deve ser feito mais vezes.

Mas permita-me discordar, no 3º parágrafo de sua carta quando afirma que “se perde uma das grandes qualidades destes sistemas”. Não temos evidências de que a distribuição turbulenta interrompe a convecção natural ascendente. Turbulência e flutuação não estão relacionados nos valores de vazão do ar insuflado no ambiente.

A turbulência na zona de ocupação aumenta a transferência de calor, desde que não muito alta e não se tenha correntes de ar indesejáveis sobre as pessoas. O fenômeno da flutuação não sofre perturbação se o sistema é adequadamente projetado e instalado. Objetivamos nos nossos projetos, que o escoamento seja turbulento e haja mistura nos dois metros inferiores, obtendo sim elevada qualidade do ar na zona de respiração humana em relação aos sistemas de insuflamento pelo teto e a partir desta altura, perdendo momentum, o ar recebe calor do espaço e sobe com um perfil de muito baixa turbulência.

A teoria de que se pode obter sistemas onde as pessoas respirem apenas o seu “próprio” ar é uma idealização, mas muito difícil que aconteça em qualquer modelo de sistema. Quanto à referência de que se trata de “versão americana”, vamos amenizar esta “divisão territorial”, pois o modelo de UFAD com difusores turbulentos existem globalmente, mesmo na Europa.

Na regulagem automática, nos difusores (grelhas) de fachada, o controle da vazão de ar acompanha as variações de carga térmica ao longo do dia na respectiva fachada e, ao se diminuir a vazão de ar, haverá um aumento de pressão no plenum sob o piso que pode levar a uma diminuição da rotação do ventilador, de modo a não haver aumentos significativos de vazão nos demais pontos de insuflamento.

Nos demais difusores das áreas internas, se um difusor de controle manual é fechado por uma pessoa, seu microambiente não necessariamente irá ficar na temperatura desejada. E o objetivo é um termostato controlar a temperatura da zona, e se forem fechados diversos difusores por ação da automação,  não implicará no aumento permanente de vazão de outros difusores, pois o controle da pressão no plenum manterá a demandada vazão de ar insuflado pelo ventilador e se terá a estabilidade nas condições ambientais, melhorando o conforto e a produtividade nos usuários na zona ocupada.”

George Raulino

Diretor da Estermic Engenharia de Sistemas Térmicos

 

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